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Mandingas da Ribeira Bote anunciam temporada do Carnaval com um desfile vibrante

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Os mandingas da Ribeira Bote percorreram durante a tarde deste domingo vários bairros de São Vicente a anunciar o inicio da temporada do Carnaval. A ansiedade era tanta que, a meio da manhã, a “Zona Libertada” já registava um movimento muito acima do normal. O estaleiro abriu as portas por volta das 10 horas e, uma hora de depois, a direção começou a distribuir o almoço que antecede os desfile, para os tocadores, mandingas, seguranças e demais pessoas que foram chegando. Por volta das 15 horas, já com o número expressivo de pessoas concentradas à frente do estaleiro, o desfile arrancou com o lançamento de pombas brancas, sinónimo de paz. 

A reportagem do Mindelinsite acompanhou todos os preparativos que antecederam o este primeiro assalto dos mandingas da Ribeira Bote, desde o almoço alargado – arroz valenciana – para mais de 100 pessoas, a pintura corporal, colocação dos trajes e adereços, etc. Um processo que demandou cerca de uma hora. “Primeiro passamos óleo por todo o corpo para evitar possíveis alergias, depois misturamos óleo com carvão para fixar a pintura e dar aquele brilho. Terminada a pintura começamos a montar o personagem com muitos adereços, consoante o gosto de cada um”, explica Titi. 

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Paramentos para se vestir de mandinga

Para o presidente dos mandingas da Ribeira Bote a grande movimentação que se registava na zona desde o inicio da manhã deve-se à ansiedade e ao  feeling das pessoas. “As pessoas vieram cedo porque estavam ansiosas. Foram recebidas com música. Às 12h30, começamos a servir o almoço para os mandingas, tocadores, seguradas e outros que iam chegando. É um momento de convívio que antecede os desfile”, explica Nilton “Tau” Rodrigues, que lamentou no entanto a falta de apoio.

“Não tivemos apoio de ninguém. Estamos a sair com os nossos próprios meios. Muitas vezes, por eu ser presidente do grupo, acabo por colocar dinheiro do meu próprio bolso para proporcionar este momento, caso conseguirmos alguma ajuda posso, depois, reaver algum valor investido. Tentamos falar com o presidente da CMSV, mas não tivemos nenhum feedbacks. Do Ministério da Cultura recebemos a promessa ajuda, mas ainda nada entrou na nossa conta. Pelo menos é uma certeza”, desabafa. 

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Mandinga durante desfile

Por sua conta e risco, ofereceram um almoço e saíram à rua ainda que as despesas sejam relevantes. “As nossas despesas deste domingo devem andar a volta dos 30 mil escudos. Por isso precisamos de apoio das pessoas e grupos, inclusive o Flores do Mindelo foi um dos que nos ajudou. Cedeu-nos algumas peles que não estavam nas melhores condições. Demo-lhes manutenção e conseguimos desenrascar”, diz Tau Rodrigues, que se mostrava expectante com o primeiro desfile. 

Queremos passar um bom momento na maior tranquilidade e regressar às nossas casas em paz. Temos autorização para estar na rua até às 19 horas, mas vamos fazer de tudo para terminar antes porque a noite está a cair mais cedo, até porque há muitas crianças no nosso desfile. O trajeto é Ribeira Bote, Fonte Filipe, Fonte Inês, Vila Nova, Omg Tanque, Bela Vista, Rotunda da Ribeira Bote e estaleiro. Vamos cumprir o horário e respeitar as autoridades, que têm feito um bom trabalho connosco”.  

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Instrumentos de sopro

Dina, que na hora do almoço não tinha mãos a medir a distribuir os pratos, fez questão agilizar o seu trabalho e vestir o seu traje para acompanhar o desfile. Ao Mindelinsite confessou que trabalhar para os mandingas da Ribeira Bote é um prazer. “Hoje o meu dia começou muito cedo. Tive que orientar o almoço e depois fui distribuir. Após alimentar o pessoal, fui-me preparar. Não consigo descrever o meu sentimento que me atinge quando estou vestida de mandinga a dançar. É algo que vem do fundo da alma. Sinto-me feliz, mesmo depois de tantos anos. É indiscritível”, afirma. 

Hoje integrante da direção dos mandingas da Ribeira Bote, Dina conta que este ano completa 17 anos que participa de todos os desfile. “Comecei muito cedo, meio que por acaso. Acompanhei um primeiro desfile atrás dos mandingas e, no domingo seguinte, já estava aqui, vestida a rigor. E nunca mais parei. Preparo as minhas roupas e adereços com a devida antecedência. No dia, após cumprir alguns afazeres, é só entrar no estaleiro e transformar-se. Aqui somos uma família”, conta. 

Dina, membro da direção dos Mandingas da Ribeira Bote

Este sentimento é também visível durante os preparados. No estaleiro ou em algumas casas próximas, ou mesmo nos becos da zona, as pessoas vão se ajudando com a pintura e os adereços, e enquanto todos não estiverem aparamentados, o desfile não arranca. E ninguém fica de fora porque, caso não estiver preparado, sempre há alguém a vender saias de saco, tornozeleiras, colares de ossos ou chifres.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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