Manuel Figueira, Bela Duarte e Sara Tavares, a título póstumo, Germano Almeida e emigrantes recebem todas as homenagens na abertura URDI 2023
Os artistas plásticos Manuel Figueira e Bela Duarte, mas também a cantora Sara Tavares, falecidos este ano de 2023, receberam todas as homenagens na abertura da 8ª URDI – Feira de Artesanato e Design. O escritor Germano Almeida, em presença, também foi enaltecido pelo Ministro da Cultura pelo percurso e por sua obra. Abraão Vicente juntou ainda ao rol de homenageados os emigrantes, patente nas tampas de bidões coloridas que compõem a fachada do Centro Nacional de Artesanato e Design, que cumpre assim, disse o governante, o seu principal objectivo de prestigiar, de forma permanente, em S. Vicente, todos os que tiveram de sair do país.
De acordo com o ministro da Cultura e das Industrias Criativas, este ano Cabo Verde perdeu três figuras importantes – Sara Tavares, Manuel Figueira, Bela Duarte -, estes dois últimos que, para A. Vicente, foram os pilares desta ideia de que a arte e a cultura podem consolidar o papel da identidade nacional na construção da pátria. Manuel Figueira, afirmou, a partir da sua investigação etnográfica e antropológica e, Bela Duarte, figura maior do feminismo, do empoderamento e da emancipação da presença da mulher no espaço público. “Bela Duarte é sem dúvida uma das referências ainda pouco estudada, mas que terá, no início de 2024, a sua maior retrospetiva, que está a ser minuciosamente preparada pelo CNAD”, anunciou Abraão Vicente.
Relativamente a Sara Tavares, o governante evocou o tema escolhido para esta edição da URDI, que homenageia os emigrantes, para afirmar que a cantora amou Cabo Verde com todas as suas forças, sendo filha da diáspora.
A URDI também consolida e faz extensão da homenagem ao escritor Germano Almeida, em vida, pela sua pujante obra e percurso. “Creio que esta homenagem para o Germano Almeida poderá significar ainda mais que o Prémio Camões, porque é da cidade a um homem que, não sendo de S. Vicente por nascimento, escolheu Mindelo”, conjecturou, realçando que colocar uma silhueta sua na cidade do Mindelo é fazer justiça histórica e cultural a esta grande figura.
Aproveitando o ensejo, prometeu colocar silhuetas de João Vário, António Aurélio Gonçalves, Baltazar Lopes da Silva e de outras figuras, no seguimento desta homenagem a G. Almeida, criando assim em São Vicente um parque de literatos e de grandes intelectuais na via publica. “É por isso também que o Ministério da Cultura irá consolidar, no próximo ano, a agenda da celebração do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, fazendo com que este debate seja feito de uma forma serena, como todas as grandes figuras da história merecem, com dignidade que a nossa história merece”, sublinhou.
No que tange aos emigrantes, o MC defendeu que – celebrar a emigração através do artesanato, da arte e do design na URDI, no coração do Mindelo – é também uma forma de os homenagear. Reforçou que a fachada do CNAD é de tampas de bidões, que simbolizam as encomendas que os emigrantes enviam. “A escolha dos bidões não é e nunca foi por acaso e, para quem não se lembra, a fachada é uma composição musical do Vasco Martins. Hoje, com a inauguração da URDI, cumprimos um dos grandes objetivos da reconstrução do CNAD, que é trazer para Mindelo esta pujante homenagem a todos os que tiveram de sair do país e construir novas gerações além diáspora. Os emigrantes são aqui homenageados através não só da arte do passado, mas também daquilo que a nova geração está a produzir.”
Estas homenagens foram também referenciadas pelo director do CNAD. Segundo Artur Marçal, a proposta apresentada propõe fazer com que todos reflitam sobre a identidade cabo-verdiana e a forma como ela se manifesta no território e nas comunidades diasporádicas. “É inevitável a expressão desta comunidade composta por filhos, netos e descendentes de sangue crioulo pela sua importância para o nosso país e que se manifesta na economia, quer através das remessas frequentes recebidas pelas famílias ou pelas dinâmicas sazonais em que, em determinadas ocasiões do ano, vivenciamos.”
Para este responsável, pensar em como a diáspora contribui para o país demanda uma reflexão na forma como a cultura cabo-mediana se consolidou ao longo dos tempos nos quatro cantos do mundo. Igualmente, pensar na forma como esta cultura serviu de ancora para o vivenciar em comunidade, permitindo por exemplo, elevar os festejos de São João a património da Cova da Moura, em Portugal. Ou ainda, se sentir invadidos pelo forte sentido de comunidade existente em diferentes cidades holandesas, portuguesas, americanas, francesas ou santomenses, entre outros. “Quem somos nós? São quase 50 anos de independência e impera a necessidade de repensar o percurso trilhado e analisar em forma de balanço aquilo que nos define como povo”, instiga.
A cerimónia de abertura da 8ª edição da URDI – Feira de Artesanato e Design de Cabo Verde contou ainda com intervenções do edil do Tarrafal de São Nicolau, José Freitas, e da vereadora de Cultura da CM de São Filipe, Lia Barbosa, na qualidade de municípios homenageados. E também do presidente da Câmara Municipal de S. Vicente, enquanto anfitrião. Augusto Neves apresentou as boas-vindas, afirmando que a cultura amplia o conhecimento, incentiva o desenvolvimento social, expande horizontes, impulsiona discernimentos políticos, agrega cidadania e agita a paz interior.