São Vicente acolheu esta manhã uma marcha para assinalar o Dia Mundial Contra o Tráfico de Seres humanos realizada no quadro do projecto “Kredita na bo” das Religiosas Adoradoras, em parceria com o Ministério da Justiça e o Observatório Nacional Contra o Tráfico (Observe-CV). Infelizmente, poucas pessoas estiveram presentes nesta sensibilização pública.
Foi uma marcha silenciosa, que partiu da Praça Dom Luís e passou pelo Mercado e Peixe, Praça Estrela, Rua de Coco, Praça Dr. Regala, Rua Fernando Ferreira Fortes, Rua de Lisboa e terminou no mesmo local onde iniciou, com a leitura de uma mensagem de alerta sobre o tráfico de seres humanos.
Segundo Maura David, psicologa do projecto Kredita na bo, é a segunda marcha do género realizada em São Vicente, sendo a primeira em 2019. “O nosso intuito é chamar a atenção da população sobre o tráfico de seres humanos. É um tema que temos vindo a abordar, mas que era visto como algo longe da realidade de Cabo Verde. Com o passar dos anos, percebemos que está cada vez mais próximo, por isso sentimos a necessidade de fazer esta sensibilização, em parceria com o MJ e com o Observe.CV.”
Entende esta técnica que a população precisar estar alerta e ser informada sobre o tráfico de seres humanos, até mesmo no sentido de prevenção. “Normalmente, o tráfico de seres humanos abarca sobretudo os jovens, que são aliciados de diversas formas, inclusive através da internet, com proposta de emprego. Como somos um projecto que trabalha com mulheres em situação de vulnerabilidade social sentimos necessidade de fazer esta chamada de atenção para a população jovem”, sublinha.
Apesar de não ter conhecimento de casos concretos de trafico humano, Maura David levanta dúvida, por exemplo, dos convites para participar em desfiles no exterior, muitas vezes sem conhecimento das reais motivações. “Sabemos que, muitas vezes, a realidade é completamente diferente. O que posso afirmar é que sabemos que o tráfico de seres humanos existe e não está apenas nas telenovelas brasileiras. É uma realidade. Aliás, foi por isso que se criou a Observe CV, em parceria com o MJ.”
A organização desta marcha cita alguns indicadores de alertaápara a situação de trafico, como por exemplo, fuga ao contacto, sinais de medo, tristeza, ansiedade e desconfiança, apresentação de emoções e atos extremamente reativos, agressivos e violentos, hematomas ou sinas de agressão física, impossibilidade de aceder aos documentos de identificação, de entre outros.
Quanto às causa do trafico, aponta o desemprego e o emprego precário, a falta de informação sobre os meios seguros de obtenção de trabalho no estrangeiro, pobreza, endividamento, baixa escolaridade, desigualdade de género, crescimento do negócio do sexo, necessidade crescente de auxilio nas tarefas domésticas e de acompanhamento das crianças e dos idosos e desconhecimento do fenómeno.
De referir que, no final da marcha, foram transmitidos algumas informações sobre o tráfico e o que leva as pessoas a serem aliciadas, acrescentou Maura David, lembrando que existe trafico para exploração laboral, prostituição, aliciamento de menores para a mendicidade, venda de órgãos e outros. “Muitas vezes a população não percebe que esta realidade existe em Cabo Verde.”
Numa altura em que muitos jovens escolhem a emigração para tentar singrar na vida, esta psicologa acredita que é preciso alertar os jovens para estar atentos, para evitar situações desconhecidas e de perigo. “Temos de buscar todas as informações antes de lançarmos no desconhecido” concluiu.
