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Associação quer disseminar islamismo com essência cabo-verdiana nas ilhas 

A Associação da Comunidade Islâmica de Cabo Verde, com sede na Praia, quer expandir o Islão com essência crioula nas ilhas. Mas antes, de acordo com o seu membro desta organização José Wahon de Oliveira, querem romper com os estereótipos e preconceitos e, principalmente, mudar o entendimento que se tem aqui no país desta religião que, ao contrário do que as pessoas pensam, prega o bem, a paz, a entrega e critica o materialismo, justificação, aliás, para uma doação recente feita ao Lar de Idosos e Centro Juvenil Nhô Djunga, em São Vicente. 

Convertido ao islamismo há 5/6 anos, José Wahnon esteve em São Vicente, no âmbito do mês sagrado do Ramadão, que iniciou no dia 22 do corrente mês, para entregar uma doação ao Lar de Idosos e ao Centro Juvenil Nhô Djunga, duas instituições que, afirma, espelham os preceitos do Islão. “Deus nos dá indicações para ajudar pessoas órfãos e também, para o Islão, pai e mãe não podem ser colocados em lares. Foram eles que cuidaram de nós na infância e temos de cuidar deles na velhice. Mas sabemos que muitas vezes as pessoas não têm condições e passam por muitas dificuldades. Então, se pudermos ajudar é sempre bom”, diz, realçando que a doação resultou da cotização dos membros. 

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A Comunidade Islâmica de Cabo Verde, explica, surgiu com o propósito de se ter uma associação de raiz cabo-verdiana. Isto porque, afirma, até então as organizações existentes eram formadas por pessoas que vieram do Senegal, Guiné-Bissau e Guiné Conacri e que refletiam muito da cultura e tradição destes países. “Neste momento já temos seis membros na Praia, três em São Vicente e dois em Santo Antão. Somos uma comunidade ainda pequena, mas tentamos ser inclusiva. Ou seja, queremos dar espaço também para as mulheres. Queremos mostrar que o Islão não é machista.”

Mas, para isso, o primeiro passo é mudar a percepção que os cabo-verdianos têm do islamismo, segundo Wahnon, muito por conta do comportamento de algumas pessoas. “Ainda estamos a organizar, mas pensamos realizar palestras e sessões de esclarecimentos sobre o Islão. O problema é que todos temos os nossos trabalhos e, por isso, temos muito pouco tempo livre. Por outro lado, falta-nos verba para trazer pessoas para as palestras. São estes os objectivos e intenção da nossa associação. Enquanto isso, vamos abordando pessoas e outras nos pedem esclarecimentos.”

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Ainda não possuem uma mesquita em Cabo Verde, mas Wahnon orgulha-se em informar que já dispõem de uma sala própria de oração na Praia para acolher os membros, passar informações e esclarecimentos. “Ainda não temos a dinâmica pretendida, mas estamos a trabalhar para termos uma pessoa em permanência no nosso espaço. Infelizmente, tivemos de nos afastar da comunidade islâmica da Praia por discordarmos dos procedimentos das pessoas, que tem vindo a financiar a vinda de pessoas da Guiné-Bissau. Achamos que têm uma forma incorrecta de agir porque esta comunidade absorveu a tradição e a cultura dos países de origem. Nós defendemos um Islão que se adequa à nossa essência. Queremos seguir aquilo que entendemos que é o mais correcto e informar as pessoas sobre ela.”

Instado a explicar quando e como decidiu se enveredar para o Islão, José Wahnon revela que foi levado por um amigo de nome Lenine, filho do conhecido músico Kaka Barbosa, que também era neto do famoso Djandjan de São Vicente. “Começamos a falar sobre o islamismo e achei o tema interessante. Acabei por perceber que Deus é um só, independente das religiões, e aceitei abrir o meu coração.”

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A associação islâmica já se apresentou às autoridades nacionais, designadamente ao Presidente da República e ao Governo, na pessoa da Ministra Filomena Gonçalves, na altura responsável pelas confissões religiosas. Desde 2011 que vem actuando junto aos mais desfavorecidos, procurando trazer algum conforto espiritual, bem como responder às dificuldades das famílias e jovens cabo-verdianos. 

A oração, o jejum e a crença em um único deus formam a base do Islão. Os seus ensinamentos estão contidos no Alcorão, livro sagrado para os islamistas e que reúne as revelações divinas ao profeta Muhammad (Maomé), ainda no século VII. Neste momento, os crentes estão em plena Ramadão – 22 de março a 21 de abril -, período em que a maioria dos muçulmanos pratica o jejum ritual, abstendo de comer, beber, fumar ou ter relações sexuais desde que o sol nasce até que se põe. Simbolicamente, acreditam que as escritas do Corpo foram reveladas durante este mês, por fases, pelo profeta. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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