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IGT investiga incidente que provocou intoxicação de vários funcionários na fábrica Atunlo

A Inspecção-Geral do Trabalho, enquanto entidade responsável pelas questões laborais envolvendo entidades patronais e trabalhadores, está a investigar o incidente ocorrido no dia 7 de março na empresa de processamento de pescado Atunlo, após mais um caso de intoxicação que levou pelo menos uma dezena de funcionários ao Hospital Baptista de Sousa e à Clínica Medicentro, com queixas de mal-estar, ardência na garganta e nos olhos, falta de ar e desmaios. 

De acordo com o delegado da Inspecção-geral do Trabalho em São Vicente, o serviço que dirige tem um inquérito a decorrer desde que foi informado pela própria Atunlo sobre o incidente. “A única forma que temos de saber é através de uma comunicação da empresa. De imediato, deslocamos uma equipa ao local para se inteirar da situação. Já fizemos algumas diligências e, neste momento, estamos a aguardar os relatórios médicos dos pacientes que foram atendidos no HBS e na Clínica Medicentro.” 

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Ferreira garante que, pelas informações apuradas pela IGT, o incidente foi causado por um produto utilizado no processo de limpeza. “O primeiro passo foi saber que produto foi utilizado. Solicitamos o prospecto, que já foi estudado. Depois iremos ouvir as pessoas afectadas, mas antes temos de ter os relatórios médicos”, informa, sem precisar quando a IGT terá uma decisão. “A partir do momento que tivermos os relatórios médicos iremos avançar rapidamente. Sem eles ficamos de mãos atadas porque não sabemos, com precisão, qual é a gravidade e nem os dias de baixa concedidos aos funcionários. Também precisamos fazer um estudo do produto para ver se era adequado para ser utilizado”.

Se ficar provado que a empresa teve alguma responsabilidade na situação, avisa, vai ser-lhe aplicado uma coima, diz o inspector. “A Atunlo está a tentar passar a ideia de que o incidente foi provocado por um trabalhador. Mas, mesmo que seja, temos de saber porque utilizou o produto, como este se encontrava armazenado, como o trabalhador teve acesso ao produto, de entre outros”, acrescenta, realçando que é grave se qualquer funcionário pode ter acesso a um produto alegadamente tóxico.

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Por enquanto, o delegado do IGT abstém de fazer um pronunciamento específico sobre o produto, mas diz estranhar um trabalhador ter a iniciativa de o usar, sem indicação ou ordem superior. Questionado se é a primeira vez que se usou este produto na Atunlo, Bruno Ferreira lembra que em 2019 houve uma situação idêntica, provocada por uso de uma substância tóxica. “Foi a segunda vez que a IGT foi informada sobre intoxicação na Atunlo. Se aconteceu outras vezes, não chegaram ao nosso conhecimento. É obrigação das empresas informar a IGT, mas, caso não o fizerem, os sindicatos também podem fazer uma denúncia”, diz, lembrando que esta também é uma questão laboral e com uma certa gravidade. 

Este responsável informa ainda que a comunicação de acidentes tem uma obrigatoriedade máxima, mas apenas quando causam mortes. Bruno Ferreira aproveita para apelar a alteração da legislação por forma a que todos os acidentes sejam comunicados à IGT. “Há empresas que comunicam qualquer incidente, independente da gravidade. Mas há outras que se escudam na lei para não o fazer.” 

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Num curto comunicado divulgado no Facebook, e que passou despercebido para grande maioria da população de Cabo Verde, São Vicente em particular, a Atunlo Cabo Verde informa que, derivado do “uso incorreto” de produtos de limpeza durante as actividades de higiene no turno da noite houve uma ocorrência em uma área que gerou desconforto em alguns trabalhadores. “Os colegas afectados foram encaminhados imediatamente para receber atendimento médico oportuno e a evolução foi positiva”, diz, realçando que, após avaliação, internações hospitalares não foram necessárias e o estado e evolução dos trabalhadores, que estão em “óptimas condições físicas”, foram monitorados. 

“Para a empresa é uma prioridade garantir a segurança dos trabalhadores, pelo que  estamos a fazer uma investigação ao acidente ocorrido para garantir que esta situação não se repita”, pontua, acrescentando que, apesar da contingência, que é reportada como caso isolado, a central tem continuado a funcionar regularmente se não houver outras notícias a reportar.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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