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Silêncio exasperante da empresa Atunlo após nova intoxicação provocar mal-estar e desmaios

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A empresa de processamento de pescado Atunlo, instalada no Porto Grande em São Vicente, decidiu remeter-se a um silêncio exasperante após mais um caso de intoxicação que levou pelo menos uma dezena de funcionários aos serviços de saúde com queixas de mal-estar, ardência na garganta e nos olhos, falta de ar e desmaios. Este caso de intoxicação, ao que conseguimos apurar o quarto consecutivo registado nesta unidade industrial, aconteceu na terça-feira e voltou a provocar pânico e revolta entre os trabalhadores, que se sentem desprotegidos devido, dizem, a suposta passividade das autoridades. 

Logo após este incidente que obrigou a direcção da empresa a acionar os Bombeiros Municipais, foram disponibilizados três ambulâncias para transportar os funcionários para a Clínica Medicentro e para o Hospital Dr. Baptista de Sousa. O Mindelinsite entrou em contacto com a empresa para ouvir os seus esclarecimentos, sobretudo tendo em conta a dimensão e repercussão nas redes sociais. Sem qualquer resposta, telefonamos para confirmar a recepção do email com as questões e reforçar a disponibilidade para ouvir a empresa. Prometeram retornar a ligação mas, até a divulgação desta notícia, não houve nenhum contacto, pelo que decidimos avançar com os relatos de algumas das vítimas de intoxicação. 

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“Infelizmente, fui uma das funcionárias que passou mal e fui levada para o hospital. Fomos intoxicados com um produto que é utilizado na limpeza. No meu caso, não é a primeira vez. Em 2019, tive de ser socorrida com os mesmos sintomas: falta de ar, irritação nos olhos e na garganta, tontura e desmaio”, conta uma das nossas fontes, que se protege com o anonimato para evitar represália. 

Sofrer em silêncio

Este é, aliás, o maior receio destes operários, que afirmam enfrentar as dificuldades em silêncio para preservar o emprego, apesar do salário extremamente baixo e dos maus tratos a que dizem ser sujeitos. De acordo com as nossas fontes, desta vez pelo menos uma dezena de trabalhadores foram socorridos e levados aos serviços de saúde. “Desconhecemos os motivos que terão levado a equipa de limpeza a usar este produto na terça-feira, antes da chegada do grosso dos trabalhadores. As próprias chefias também ficaram surpresas quando chegaram ao trabalho e depararam com o caos, sendo que há uma determinação para o seu uso apenas nos finais de semana, após a saída do pessoal”, reforça outra fonte.

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Estes confirmam que, ao chegarem para mais um dia de trabalho, depararam com um cheiro muito forte. De imediato, alguns colegas começaram a queixar de falta de ar, ardência e irritação no pescoço e nos olhos, outros começaram a vomitar ou desmaiaram. Inicialmente, as chefias ainda tentaram conter o alarde mas, devido ao número de funcionários afectados, tiveram de accionar os Bombeiros. “Desconheço o número de funcionários que se sentiram mal, mas sei que foram muitos. Os primeiros foram levados para o Medicentro mas, depois, tiveram de desviar as ambulâncias para o hospital porque a clínica já não tinha condições para receber mais ninguém. Fomos, de imediato, ligados ao soro e oxigénio”, descreve uma terceira fonte. 

Após receberem alta, prosseguem, foram lhes concedidos entre 24 a 72 horas de repouso em casa, sendo que alguns ainda continuam de baixa por conta das sequelas. Os casos menos graves receitados com apenas um dia de casa, regressaram ao trabalho na quarta-feira, mas, sem condições para trabalhar, foram novamente dispensados. 

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Em 2019, a quando da terceira intoxicação, a Atunlo dispensou todos os funcionários logo que começaram a apresentar sintomas, evitando assim o alarde provocado por dezenas de operárias que foram atendidas na urgência do HBS. Regressaram novamente ao trabalho mas, numa quarta-feira, dia da premiação do Carnaval, 30 trabalhadores voltaram a sentir-se mal novamente. Desta vez, o caso passou despercebido porque as atenções estavam concentradas na festa do Rei Momo, dizem.

Intoxicações sistemáticas

Na altura, os funcionários que denunciaram a repetição dos casos de desmaios na fábrica devido a intoxicação provocada por uso de produtos químicos na limpeza nesta unidade industrial, já se queixavam e temiam possíveis consequências futuras. Da primeira vez que se registou uma intoxicação em masa, afirmam, a empresa justificou com o uso de soda cáustica para a limpeza. Na segunda vez, os responsáveis da Atunlo explicaram que substituíram a soda por um outro produto mais eficaz, mas igualmente toxico. Desde então, optaram pelo silêncio. 

De referir que, para além dos produtos de limpeza, estes operários dizem conviver diariamente com cheiros pestilentos, que também afectam outras pessoas que trabalham ou circulam no Porto Grande. Esta situação levou a que, em novembro de 2021, um grupo de despachantes oficiais protestasse em frente às instalações da Atunlo. Na altura, a empresa justificou o mau cheiro, dizendo que este era provocado por uma renovação do sistema de tratamento das águas residuais.

A empresa afirmou que tinha contratado uma empresa especializada para implementar este novo sistema e garantiu que o problema seria sanado em definitivo. Em outubro de 2022, o Mindelinsite voltou a abordar a Atunlo devido a uma denúncia, desta feita apresentada por um trabalhador da Enapor, sobre o vazamento de águas residuais nas redondezas da fábrica. A empresa sequer respondeu ao nosso email, postura repetida agora quando confrontada novamente com a intoxicação destes colaboradores. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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