UCS espera que conferência “Diáspora cabo-verdiana, migrações e desenvolvimento” posicione Cabo Verde como uma economia do conhecimento
O Primeiro-ministro disse esperar que a conferência internacional “Diáspora cabo-verdiana, migrações e desenvolvimento”, que aconteceu esta manhã no Centro Cultural do Mindelo e assinala o Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, sirva para abrir as perspectivas de posicionar Cabo Verde como uma economia do conhecimento para gerar valores. Ulisses Correia e Silva aproveitou o ensejo para prestar homenagem e tributo ao poeta Eugénio Tavares neste dia em que se celebra a Cultura e a Diáspora de Cabo Verde e as várias gerações desta Nação com um percurso que moldou a identidade crioula e que se manifesta na língua, música, literatura, artes, gastronomia e tradições.
Num discurso centrado na diáspora, o Chefe do Governo afirmou que esta representa a extensão da cultura, da economia e do imaginário do país aberto ao mundo. Disse ainda que, se os cabo-verdianos inicialmente emigraram por razões existenciais e de sobrevivência, hoje Cabo Verde tem uma diáspora de sucesso que orgulha o país, onde despontam individualidades em diversas áreas e profissões, desde política, cultura, desporto, ciência e tecnologia, bem integrada em termos daquilo que é o país.
Para destacar esta diáspora, pontuou Correia e Silva, o Governo de Cabo Verde criou o conceito de “Gala de Sucesso”, com três edições realizadas: Estados Unidos, Europa (Portugal) e África (Dacar), numa perspectiva de celebrar e de também dar notoriedade. “Foram momentos que permitiram conhecer, agregar, juntar competências e capacidades que Cabo Verde tem lá fora. Foram também momentos que permitiram reforçar o contacto com o país. Aquilo que foi pensado apenas como uma noite de cultura, de contacto, tem se evidenciado como um grande instrumento que temos para encurtar as distâncias e facilitar a participação da diáspora muito para além das remessas dos emigrantes.”
Sobre as remessas, admitiu que são importante e devem continuar, mas realçou que hoje o cenário é diferente e deve ser incentivada a remessa para o investimento produtivo. “Precisamos cada vez mais de remessa de conhecimento, de competências, de pessoas altamente qualificadas das ciências, investigação, tecnologias, academia e artes.O grande desafio é fazer com que esta participação seja mais efectiva. Temos um mundo para selecionar e recrutar”, enfatizou, lamentando que a tripla crise tenha bloqueado algumas iniciativas viradas para as comunidades, caso do Primeiro Fórum de Saúde com a Diáspora, programado para junho de 2020, mas que teve de ser suspensa.
Ainda no domínio da medicina, elogiou a iniciativa de cabo-verdianos e descendentes nos EUA de criar uma associação que já conta com mais de 50 membros, técnicos altamente qualificados em várias áreas de intervenção médica, de academia e investigação e desafiou outros sectores a seguir este exemplo. Destacou o impacto dos avanços tecnológicos, particularmente nos consulados, que estão a encurtar o tempo para emissão e renovação de documentos, augurando mais avanço com a implementação da Chave Digital, e o Estatuto do Trabalhador Emigrante, um instrumento que o Governo promete operacionalizar e que cria incentivos e benefícios para atração de investimentos.
Refletir e perspectivar o futuro
Coube ao presidente da Câmara Municipal de São Vicente, na qualidade de anfitrião da conferência, apresentar as boas-vindas às autoridades, instituições e aos conferencistas presentes e nas plataformas digitais. Segundo Augusto Neves, Cabo Verde é um país uno, mas também plural; uma comunidade coesa, mas também diversa; uma cultura feita de culturas. “Sentimo-nos lisonjeados com vosso gesto de organizarem as vossas agendas ao longo do ano, criando poupanças e condições logísticas para se deslocarem à vossa pátria, para juntos reflectirmos sobre o que fizemos como cabo-verdianos este ano e construir perspectivas para os próximos”, afirmou, aproveitando para agradecer os emigrantes pela forma como têm dado cor e vida à agenda cultural de S. Vicente: Carnaval, romarias, Kavala Fresk, Festival, etc.
Para o edil, a diáspora, como um importante recurso para o desenvolvimento, é detentora de conhecimento, saberes e experiências que constituem uma mais-valia para o progresso do país. “A língua e a cultura constituem elementos patrimoniais de matriz identitária das nações. A sua defesa e promoção representam, por isso, uma expressão operatória inequívoca do conceito de interesse nacional permanente, acentuando ao mesmo tempo a relevância decisiva na dimensão cultural da politica externa”, referiu. Sobre este particular, diz Neves, torna-se pertinente refletir sobre a dimensão cultural desta politica externa, como vector estratégico da afirmação de Cabo Verde no mundo.
Esta preocupação do presidente da CMSV está presente na programação desta conferência, que elencou três temas: “Migrações e desenvolvimento” – a cargo do Director-Geral das Organizações Internacionais das Migrações, António Vitorino (video-conferência); “A diáspora cabo-cabo-mediana e o processo de desenvolvimento: impacto económico e capital humano”, com Carlos Rocha (assessor do Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde) e do economista João Estevão; “A dimensão cultural da diáspora cabo-verdiana” pelo arquitecto Ricardo Barbosa Vicente (assessor cultural do Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa) e pelo docente e investigador Jairzinho Pereira.
Marcaram presença nesta conferência os ministros das Comunidades e das Indústrias Criativas, a Secretária de Estado do Ensino Superior, a Embaixadora de Angola, os presidentes da CM e da AMSV, eleitos nacionais e municipais, representantes dos institutos e serviços desconcentrados do Estado e convidados. A cerimónia de encerramento foi presidida pelo Ministro das Comunidades, Jorge Santos.