Pub.
Pub.
Atualidade

USV demarca-se da proposta de aumento salarial “irrisória, excludente e discriminatória” e chama trabalhadores para a luta

A União dos Sindicatos de São Vicente convocou a imprensa para demarcar-se do acordo conseguido no Conselho de Concertação Social, sem audição dos sindicatos, relativamente ao aumento salarial na Administração Pública e do Salário Mínimo no sector privado. Tomás Aquino diz ainda demarcar-se da anuência dada pelas duas Centrais Sindicais a esta proposta, que apelida de uma “simulação de aumento salarial” e chamou os trabalhadores de São Vicente e de Cabo Verde para a luta laboral. “Para os trabalhadores cabo-verdianos, as Centrais Sindicais que assinalaram este acordo falharam. Defendemos que , ainda que escalonado, a actualização salarial devia porque todas as pessoas vem perdendo poder de compra desde 2012 porque não tem havido aumento salarial”.

Coube a Luís Fortes, Secretário Permanente do Sintap, explicar à imprensa a posição da USV, composta pelos sindicatos SICS, Sindprof, Simetec e Sintap. Este garantiu que a União demarca-se e denuncia a proposta de aumento salarial para 2023 por entender que é financeiramente irrisória e socialmente injusta, discriminatória e excludente, para além de poder condicionar futuras negociações no setor privado.  “Demarcamos e denunciamos a proposta de aumento das pensões dos reformados e pensionistas do INPS”, diz o Secretario Permanente do Sintap, para quem oGoverno não pode interferir e nem substituir os órgãos próprios e competentes do INPS nesta matéria.

Publicidade

As decisões do Conselho de Concertação Social em matéria de aumento salarial, diz por seu lado o presidente da USV, devem tão só servir de referência para o INPS, cabendo a este decidir quando e como o aumento das pensões deverá ser feito. Com o agravante de, pontua Tomás Aquino, esta proposta ser irrisória, injusta, discriminatória e excludente. “Os funcionários da AP, para além daqueles que têm um circulo precário, por longos anos foram e são todos vítimas do congelamento de salários desde 2011, com perdas claras e substancias do seu poder de compra. A inflação acumulada e a prevista para este ano ultrapassa os 14%. A conjuntura é extremamente difícil, pelo que teríamos negociar com o Governo uma proposta para repor minimamente o poder de compra dos trabalhadores cabo-verdianos”, afirma, sem avançar qualquer proposta concreta de aumento salarial.

Mais ao pormenor, Luís Fortes enfatizou que é do conhecimento público que o Plano de Cargo, Carreira e Salários na AP de 2013 eliminou a possibilidade de progressão e institui a promoção somente para quadros técnicos, o que levou o Tribunal Constitucional a considerar essa medida inconstitucional; os trabalhadores nunca foram promovidos por falta de avaliação de desempenho e de abertura de concursos internos, e a maioria dos funcionários públicos que se aposentaram nos últimos 11 anos foi com uma pensão irrisória e injusta, porque não usufruíram dos seus direitos de progressão e promoção.

Publicidade

Perante esta situação, Luís Fortes apela aos trabalhadores e colaboradores da AP, mas também do sector privado a se informarem sobre esta proposta “que se diz” de aumento salarial, que vai atribuir 3.5% somente aos trabalhadores que têm um rendimento de até 33 mil escudos. “Os trabalhadores que ganham mais de 33 mil escudos até 51 mil terão um aumento de 2%; os que ganham mais de 51 mil escudos até 69 terão 1% de aumento salarial. E todos os que têm um vencimento acima de 69 mil escudos na6o terão qualquer aumento salarial”, informa.

Este adverte ainda os reformados e pensionistas, relançado que serão abrangido por idênticos critérios, ou seja, os que tiveram pensar superior a 69 mil escudos não va6o ter qualquer aumento. “Os funcionários das instituições que tiveram um novo PCCS aprovado a partir de 01 de janeiro de 2019 não terão aumento salarial”, acrescenta. 

Publicidade

Relativamente ao Salário Mínimo Nacional, no sector privado, o Secretário Permanente explicou que este passa de 13 para 14 mil escudos, ou seja, um aumento de mil escudos, quando a promessa/compromisso do Governo era de o aumentar para 15 mil escudos até 2021. Mais: quase todos os técnicos, a maioria dos professores, quadros das Câmaras Municipais, dos serviços de saúde – médicos e enfermeiros – não vão ter aumento salarial. “Isto para dizer que o aumento salarial previsto para 2023 não engloba todos os trabalhadores e que a maioria dos funcionários públicos não vão ter aumento”, acusa, interrogando quantos trabalhadores de facto vão beneficiar deste aumento.

Sindicatos excluidos 

Este dirigente sindical afirma ainda que a USV denuncia e demarca desta proposta de aumento salarial, tomada em sede de Concertação Social, sem audição prévia dos sindicatos. “Demarcamos da anuncia dada pelas duas Centrais Sindicais a esta proposta, reflectida nas declarações públicas que fizeram, manifestando satisfação pela aprovação da mesma, que mais não é do que uma simples simulação de aumento salarial”, denuncia, esclarecendo que a USV não questiona o principio de escalonamento de percentagem na distribuição do aumento salarial, por entender que aqueles que têm vencimento mais baixo merecem um aumento mais significativo.

Mas é contra os valores irrisórios propostos, a abrangência selectiva, a exclusão de grande parte dos funcionários e em relação à decisão tomada sobre os reformados e pensionistas do INPS. E ainda contra a violação do artigo 24 da Constituição da República que orienta para o tratamento de igualdade. Por tudo isso considera que ainda se vai a tempo de fazer justiça no que concerne á proposta de aumento salarial para 2023 e que os trabalhadores contam com a sensibilidade do Governo e dos deputados nacionais, que são quem vão aprovar o Orçamento do Estado para 2023. 

Termina advertindo as autoridades que a demarcação da proposta de aumento salarial tem consequência, ou seja, marca o inicio de um processo de luta laboral para qual todos os trabalhadores de São Vicente e de Cabo Verde estão convocados. A palavra está agora do lado dos trabalhadores que, de acordo com Tomás Aquino, vão ser auscultados para decidir as formas de luta.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo