Governo instaura “inquérito rigoroso” às circunstâncias da morte do jovem bravense após evacuação Brava-Fogo
O Governo vai instaurar um “inquérito rigoroso” às circunstancias em que se verificou o falecimento do jovem João da Cruz, de 14 anos, no dia 01 de agosto no Hospital São Francisco de Assis, com foco no serviço médico-hospitalar prestado na ilha Brava e no Fogo. Esta decisão surge horas depois do Presidente da República José Maria Neves instar as autoridades competentes a investigar e tomar medidas urgentes para se criar um verdadeiro sistema de evacuação médica em Cabo Verde por forma a prevenir situações similares, desgaste do sistema e descontentamento.
De acordo com o Primeiro-ministro, tendo em conta as muitas informações que têm sido publicadas relativas às circunstâncias em que se verificou o falecimento do jovem João Carlos da Cruz, atenta a necessidade de se garantir o cabal esclarecimento de todos os fatos relativos a esse acontecimento e face a gravidade das insinuações que têm sido feitas decidiu mandar instaurar um rigoroso inquérito.
Este alega que o Governo não pode fazer acusações e nem encetar processos de eventual responsabilização sem uma apreciação objectiva e rigorosa dos factos. Diz ainda que estão envolvidos serviços de saude e de transportes, o que faz com que a superintendência não seja adstrita a um único departamento responsável, pelo decidiu criar uma equipa para proceder ao inquérito, constituída por duas médicas do Hospital Dr. Agostinho Neto e a gestora do Fundo de Segurança Marítima.
São elas a gineco-obstera Yolanda Landim e a pediatra Hélida Fernandes, e a gestora Cilene Silva. Estas três especialistas vão investigar os serviços médico-hospitalares prestados ao doente João Carlos Martins da Cruz, no Centro de Saúde da Brava e no Hospital Regional São Francisco de Assis no Fogo e os procedimentos adotados na evacuação do doente pela via marítima, para a ilha do Vulcão. “O inquérito deve ser iniciado de imediato e o respetivo relatório apresentado ao Primeiro-ministro-Ministro até ao dia 31 de agosto”, lê-se no comunicado divulgado pelo Chefe do Governo.
O documento refere ainda que todas as despesas relacionadas com a realização do inquérito, incluindo deslocações e estadias dos inquiridores, serão suportadas pelo orçamento da Chefia do Governo e que tratamento prioritário deverá ser dado em todos os procedimentos para a realização do inquérito e a produção do relatório no prazo estipulado, ou seja, até o dia 31 de agosto.
Horas antes, o PR divulgou uma nota onde informava que tinha conversado com o enfermeiro João da Cruz, pai do jovem falecido após ter sido evacuado em condições muito precárias da ilha Brava para o Hospital do Fogo. Após ouvir a versão do pai, José Maria Neves instou as autoridades a mandar fazer um inquérito rigoroso sobre as circunstâncias da evacuação e da morte do adolescente.“Devem ser tomadas medidas urgentes para se criar um verdadeiro sistema de evacuação médica no país, de modo a serem prevenidas situações do género, desgaste do sistema de saúde e descontentamento pelo nível de atendimento e de serviços prestados nos hospitais e centros de saúde”, desafiava o Chefe de Estado, que pedia ainda uma audição ao atendimento em todo o sistema nacional de saúde.
“Tem havido muitas queixas, justas ou injustas, de pessoas que se consideram mal atendidas e/ou mal tratadas nos serviços de saúde. Tenho consciência do quanto esforço tem sido feito pelo pessoal de saúde e homenageio-os por isso. Todavia, os tempos são outros e as pessoas muito mais exigentes. Almejam muito mais e melhor”, enfatizava, acrescentando que já há condições técnicas e humanas no país para prestar serviços finais aos utentes de melhor qualidade. “São fundamentais, todavia, mais sofisticação na organização dos trabalhos, muito mais eficiência na execução e mais efetividade nos resultados. É preciso tudo fazer para que as pessoas não percam confiança nas instituições do país”.
Tanto o comunicado o PR como o do PM provocaram de imediato muitas reações dos utentes, alguns criticando a posição tardia das autoridades sobre o trágico episódio, sobretudo numa altura em que a confiança das pessoas nas instituições encontra-se em queda livre. Outros há que optaram por criticar duramente o comunicado emitido de imediato em que as partes justificaram com estado critico de saúde do jovem. Fica também evidente a descrença das pessoas em “mais um inquérito” onde, dizem a culpa morre solteira, a semelhança de tantos outros sem consequências nenhumas.