O presidente Augusto Neves garante que a edilidade cumpriu a sua parte no acordo assinado em maio de 2019 entre o Ministério do Desporto, a Câmara de São Vicente e a Federação Cabo-verdiana de Futebol, que permitiu a realização das obras de requalificação no Estádio Municipal Adérito Sena. Esta é a primeira reação pública do edil desde que o estádio foi interditado para jogos internacionais e, literalmente, “passa a bola” para o organismo máximo que gere o futebol no país.
De acordo com o autarca mindelense, não era responsabilidade da CMSV fiscalizar a obra. Ao contrário, cabia-lhe apenas disponibilizar os 15% do montante global, conforme acordado. “A Federação conseguiu um financiamento junto da FIFA superior a 60 mil contos, correspondente a 60% do valor global do projecto. O montante restante foi assumido pelo Governo (25%) e pela CMSV (15%). Não obstante as nossas dificuldades, a Câmara fez um esforço e cumpriu. Agora, não era nossa responsabilidade seguir a obra, até porque sequer conhecíamos os requisitos”, esclareceu.
Sobre o incumprimento de alegadas recomendações feitas pelos inspectores da Confederação Africana de Futebol e não cumpridas, Augusto Neves é categórico em afirmar que nunca chegaram à CMSV, até porque, efectivamente, a autarquia não tinha nada a ver com a obra. “A nossa responsabilidade terminou com a transferência do montante estipulado para a FCF. Não temos nada a ver com os jogos internacionais. Aliás, por lei, temos poucas responsabilidades a nível do desporto. Apoiamos os campeonatos regionais e nacionais por conta da sua relevância para a ilha, mas não estamos vinculados a nenhuma lei. Mesmo assim, empenhamos em construir campos de futebol e outras infraestruturas.”
Para o presidente da CMSV, a responsabilidade aqui é exclusiva da FCF, que elaborou e aprovou o projecto, que previa essencialmente a realização de obras nos balneários, cabines de imprensa, iluminação, bancadas e zona vip. “Acho que precisamos ser mais responsáveis, sobretudo quando temos um financiamento desse montante em mãos. Mas, quando ninguém fiscaliza ou controla, cada um faz o que quer”, afirma Neves, sem se alongar, até porque, diz, este dossiê vai ter o seu momento.
Foi a 6 de maio que a Confederação Africana de Futebol interditou o Estádio Adérito Sena aos jogos internacionais, na sequência de uma inspecção realizada a esta infraestutura. Falta de balneários em standard mundial, reduzida capacidade de acolhimento de espectadores (o estádio tem capacidade para apenas três mil espectadores), problema de segurança e de vigilância foram referenciados como questões identificadas em inspecções anteriores e que não foram corrigidas.
Em declarações à RCV, o presidente da FCF, Mário Semedo, confirmou que os estádios Nacional e Municipal de São Vicente “não foram aprovados pela CAF”, pelo que a selecção nacional “terá de jogar fora de Cabo Verde”. “A federação não controla a questão das infra-estruturas, enquanto utilizador”, declarou, salientando que as infra-estruturas cabo-verdianas “foram desaprovadas pela CAF no âmbito de uma nova inspecção” para os jogos de qualificação para o CAN, Camarões’2023.
O Governo também foi surpreendido por esta decisão da CAF, conforme admitiu o ministro do Desporto. “Nós fomos pegos de surpresa, porque nunca nos foi comunicados, nem a federação nos comunicou que ia haver essa inspecção por parte da CAF”, justificou Carlos Monteiro, realçando que a manutenção dos estádios municipais é garantida pelos municípios que, entretanto, são proprietários do Estado.
No caso do Adérito Sena, este lembrou que se tratava de uma obra gerida pela Federação Cabo-verdiana de Futebol, financiada pela FIFA, pelo Governo e pela Câmara de São Vicente, mas “toda ela” gerida do “início ao fim” pela FCF para garantir condições para receber os jogos internacionais.