Estagiários do Instituto de Emprego e Formação Profissional, trajados de preto, concentraram-se esta manhã na Praça B.Leza em Monte Sossego e marcharam até a sede do IEFP para exigir o pagamento dos subsídios em atraso. Portando cartazes com dizeres como “cumpram a vossa parte”, “Nova classe social: estagiários profissionais” e “Estagiários também comem”, dizem que rubricaram um acordo e assumiram compromissos, mas o instituto nunca honrou a sua palavra, ou seja, nunca liquidou o pagamento do subsídio em tempo útil, sendo que o atraso, em alguns casos, ultrapassa os quatros meses. E alguns já concluíram o estágio.
Gonçalo Silva, que falou em nome dos colegas presentes, mas também dos mais de 100 estagiários profissionais do EIFP em São Vicente e dos 1500 de todo Cabo Verde em igual situação, lamentou o facto de, como chefe de família, estar a exigir o pagamento do seu trabalho, que é um direito adquirido. “Sou chefe de família e estrangeiro. Tenho as minhas responsabilidades como qualquer pessoa. Tenho contas para pagar, aluguer, comida, transportes, de entre outros, e temos o direito de receber o nosso trabalho. Infelizmente o IEFP não está a ajudar”, desabafa.
Com quatro meses sem receber um tostão e tendo concluído o estágio no dia 17 de dezembro, este garante que trabalhou como qualquer outro colaborador na empresa onde estagiava. Por isso, considera uma falta de vergonha este incumprimento, sobretudo tendo em conta os vários apoios recebidos por Cabo Verde para o programa de empregabilidade. “Por exemplo, em julho, Luxemburgo doou ao país cerca de 10 milhões para financiar o programa de Emprego e ninguém sabe para onde foi este dinheiro. As promessas de pagamento nunca são cumpridas”, afirma este jovem que diz ter ouvido esta semana no Parlamento que há formadores com mais de dois anos sem receber. “Será que este vai ser também o nosso caso?” interroga.
Sem uma solução à vista, Gonçalo Silva não descarta a hipótese de partiu para um processo para tentar reaver o subsídio. Igual entendimento tem Zenaida Silva, também ela com quatro meses sem receber o subsídio. “Trabalhamos como profissionais, depois de quatro anos de formação. Fomos atrás de uma experiência, mas assinamos um contrato com o EIFP que assegura o pagamento mensal. Fizemos a nossa parte, mas não recebemos nada. E todos sabem que, para estar no estágio, precisamos vestir, alimentar, custear o transporte, principalmente porque as vezes o estágio é uma instituição e ninguém quer ir de qualquer forma”, declara.
Também esta jovem, entende que estão a reivindicar um direito ganho porque cumpriram o acordado. “O que mais nos revolta é que não temos nenhuma resposta por parte do IEFP. Entretanto, estamos a trabalhar e a dar o nosso melhor, sem nenhuma perspectiva. Se não podem pagar, deveriam nos ter informado a priori que seria um estágio grátis. Neste caso, quem quisesse aceitaria fazer o estágio. Mas não é o nosso caso. Fomos com um contrato, cumprimos a nossa parte e o IEFP terá de cumprir a sua”, acrescenta Zenaida Silva.
Tentamos ouvir a directora do IEFP em São Vicente, Cláudia Rodrigues, mas esta mandou dizer que desconhecia a manifestação e não estava autorizada a fazer qualquer declaração à imprensa. De recordar que, antes de São Vicente, estagiários do IEFP do Sal já tinham denunciado atrasos no pagamento do subsídio. Foi também o mote para uma conferência de imprensa proferida pela presidente da JPAI, Fidel Cardoso de Pina, em novembro, em que este deixou claro que atrasos no pagamento do subsídio pelo IEFP é uma “situação reincidente”, para desespero dos estagiários.