Rescaldo das presidenciais: Cândido Rodrigues denuncia medo dentro do MpD e exige convenção extraordinária para combater “ditadura”
O antigo deputado da Nação eleito pelo círculo das américas, Cândido Rodrigues, afirmou em um vídeo publicado no Youtube que a situação interna do partido é altamente crítica, mas ninguém se atreve a falar por medo. “Hoje temos um partido onde o medo impera”, denuncia Rodrigues, que lança um forte apelo à união dos militantes para exigir a realização de uma convenção extraordinária para mudar o funcionamento do partido, hoje dominado e controlado por Ulisses e seus pares. Esta reação dele surge no rescaldo das eleições presidenciais, em que responsabiliza directamente Ulisses Correia e Silva pela derrota de Carlos Veiga.
Para este antigo deputado da Nação pelo MpD, os militantes do partido ventoínha estão a sentir-se intimidados, sobretudo pela estratégia montada pela actual liderança, que visa eliminar todas as vozes críticas dentro do partido. “A primeira machadada que o MpD teve foi a alteração do seu estatuto. Esta foi a maior preocupação do actual líder do partido, Ulisses Correia e Silva, desde o início. Criou uma Comissão Política à sua imagem. Todas as pessoas que estão nesta comissão o seguem religiosamente e não lhe fazem nenhum tipo de objeção”, sublinha.
Cândido vai ainda mais longe ao afirmar que o Presidente do MpD criou uma Direcção Nacional à sua imagem. Para isso, alterou o estatuto e criou um suporte que lhe permitiu tomar um conjunto de medidas, que tinham como alvos pessoas com as quais não conta e que podiam ser uma preocupação. “O meu apelo é no sentido de todos os militantes juntarem para exigir uma convenção extraordinária, sobretudo para mudar a situação actual.”
Como primeiras medidas, este antigo membro da DN do MpD desafia o partido a criar uma nova Comissão Política e uma nova Direcção Nacional, escolhidas pelas bases. Lembra que, na altura em que pertencia ao núcleo duro do partido, foi realizada uma convenção e foi aconselhado a não estar presente por causa das suas críticas, apesar do Estatuto do partido e o seu estatuto de membro da Direcção Nacional do partido lhe conferir este direito.
Na sequência, prossegue, foram adoptados um conjunto de medidas inapropriadas e ilegais porque ferem o estatuto do MpD. Também iniciaram as perseguições internas e intimidações. “Nas eleições autárquicas, dois indivíduos apareceram dentro da estrutura do MpD a desafiar o partido e apresentaram candidaturas independentes. Ganharam as Câmaras de Ribeira Brava e Boa Vista. Até hoje, a liderança do partido e nem a CP se aproximaram destes agora autarcas para negociar e evitar a fratura”.
Foi só depois das eleições que, afirma, o líder decidiu negociar com os edis e apresenta-los como candidatos do partido, revela para ilustrar a sua crítica de falta de critério na definição das candidaturas. Para Rodrigues, o líder do MpD criou um ambiente de crispação dentro partido. “As escolhas de pessoas são feitas à medida do presidente e de uma CP por ele controlado. Ninguém entra em uma lista sem indicação de Ulisses Correia”.
Indicação de coordenador nos EUA
Sobre este particular, aponta os Estados Unidos como um exemplo desta estratégia em que, diz, UCS escolheu um novo coordenador e nunca mais se fez uma eleição. Fica-se pela indicação deste então. “Está pior do que Guiné-Bissau e outros países africanos onde não existe democracia”, acusa.
Para este crítico, a situação é resultado da existência de grupos de interesses instalados dentro do MpD, que controlam o partido. São indivíduos que, diz, por ironia do destino estiveram fora e no desmembramento do partido. Hoje são eles que controlam o sistema do partido, assevera. “Hoje, para além de darem ordem no partido, criam uma imagem negativa de pessoas que consideram inconvenientes. Tudo isso precisa ser combatido”, adverte.
E o resultado está à vista, de acordo com Rodrigues, que exemplifica com as últimas eleições autárquicas em que o MpD perdeu CMs importantes, incluindo alguns históricos por conta da escolha de candidatos amigos e não baseados em critérios mais adequados dentro de um partido democrático. Sem se preocupar em corrigir os erros, apresentou-se com o mesmo figurino nas legislativas. Felizmente, mesmo com magoas, a família MpD juntou-se.
“Isso aconteceu porque os militantes perceberam que, muito provavelmente, o MpD poderia ir parar na oposição. Infelizmente, isso não aconteceu agora nas presidenciais. E isso é algo que mais me magoou, como pessoa que gosta de política. Veiga não merecia este castigo”, lamentou. Para Cândido, Veiga é a pessoa que mais lutou pelo partido, mas é o mais penalizado. Acusa, por outro lado, Ulisses Correia e Silva de ser a pessoa que menos fez pelo MpD, mas que mais tem beneficiado deste. “Foi candidato três vezes e foi presidente Câmara Municipal da Praia, foi vice-presidente de três líderes do MpD, candidatou-se e foi eleito Primeiro-ministro. Está em todas”, exemplifica, deixando claro que, neste momento, o partido é uma propriedade privada de Correia e Silva.
Para este militante, é hora de voltar as raízes e resgatar as regras democratas dentro do partido e de o presidente deixar de controlar os órgãos do MpD, consoante as suas conveniências. “A derrota de Veiga é reflexo daquilo que Ulisses preparou para o seu futuro. E ninguém me convence do contrário”, acrescenta sem avançar mais pormenores, mas não ficará em branco.
“Vamos agir, e vamos juntar todos os militantes, em todas as partes do mundo para exigir uma convenção extraordinária. Se for necessário, iremos recolher assinaturas, criar meios e condições para isso. Este sistema de ditadura que o MpD tem neste momento tem de ser banido urgentemente. Se não terminar, Ulisses ficará isolado com o seu grupo”, finaliza.