Os Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, Santo Antão, dizem estar frustrados há meses em casa, enquanto o quartel encontra-se de portas fechadas. Ao Mindelinsite, estes afirmam que são chamados apenas para emergências e culpam a Câmara Municipal por não valorizar o seu trabalho, alegando não ter meios para os assumir financeiramente. O Comandante dos Bombeiros, Emanuel dos Anjos, e o vereador de Proteção Civil, Paulo Rodrigues, negam que o quartel esteja com as portas fechadas. Afirmam que um colaborador da CMRG está em permanência no espaço e também uma funcionária de limpeza.
Foram três os bombeiros voluntários que abordaram este diário digital para relatar a sua situação. Estes garantiram que o Estatuto dos Bombeiros Voluntários, e que pode solucionar algumas das suas reivindicações, foi publicado desde 28 de agosto do ano passado, mas até agora o Presidente da CMRG não deu as caras no quartel para se reunir com os bombeiros. “Antes, o presidente da CM já reivindicava esse estatuto atribuindo culpas ao Governo por alguma instabilidade reinante. Agora que o estatuto foi publicado, ele finge não ter conhecimento da sua existência. Com todos esses constrangimentos, quem sofre são os bombeiros voluntários e, em última análise, a população da Ribeira Grande”, desabafa uma das fontes.
Garantem que os 42 bombeiros formados recentemente encontram-se todos em casa. Deslocam-se ao quartel sö quando há alguma emergência. “Há muito tempo que não fazemos sequer um treino. A desculpa é sempre a pandemia da Covid-19. Apenas uma pessoa fica no quartel. Trata-se de um funcionário da CMRG, que trabalha das 8h às 15h”, pontuam, frisando que os bombeiros trabalham para 17 mil munícipes sem equipamentos. “Ribeira Grande tem um serviço de bombeiros 100% voluntário pelo que o nosso trabalho devia ser mais respeitado. Às vezes vamos para emergências de sapatilhas por falta de equipamentos de proteção individuais adequado,” denunciam.
Por causa disso, todas as vezes que há uma emergência a população é obrigada a esperar no mínimo 2 horas para ser atendida, tempo necessário para chamar os bombeiros em casa para se deslocarem ao quartel. Isso mesmo quando um incidente ocorre nas imediações do quartel.
Dois funcionários no quartel
Confrontado, o Comandante dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande nega que o quartel esteja fechado. Segundo Emanuel dos Anjos, há um funcionário da CMRG que trabalha diariamente das 8h às 15h30. “Temos ainda uma outra funcionária de limpeza. Portanto, o quartel não está fechado. Ao todo, o concelho tem cerca de 150 bombeiros voluntários, mas apenas metade está activo. Agora, são chamados conforme as necessidades.”
Significa, prossegue, que, quanto um é chamado, vai ficar uma semana ou mais sem ser accionado novamente para qualquer emergência. Quanto ao facto de estarem em casa, alega, isto acontece porque não são profissionais e, por isso, não precisam estar neste quartel. Por outro lado, diz, a situação actual de pandemia não é propícia para a aglomeração de pessoas.
Relativamente ao Estatuto, Emanuel dos Anjos passa a bola para a Câmara Municipal, concretamente para o presidente e/ou o vereador. “A informação que temos é que o Estatuto foi aprovado, mas a CMRG nunca nos comunicou nada neste sentido. Cabe a autarquia falar sobre este assunto.”
O Comandante deixa claro que não está a dizer que os bombeiros não têm razão de estarem descontentes ou frustrados, mas lamenta não terem falado com ele primeiro, antes de procurarem a imprensa para desabafar. “Deviam ter falado comigo antes, porque alguém vai ficar mal. Sempre mostrei disponibilidade para fornecer qualquer informação. Sei que têm as suas razões, mas devian falar comigo e podíamos ter ido juntos para a CMRG.”
O vereador Paulo Rodrigues confirma a presença diária dos dois funcionários da CMRG no quartel. Quanto ao facto de os bombeiros estarem em casa, segundo este autarca, são chamados em caso de emergência, seguindo a lógica da rotatividade. “Temos mais de 40 bombeiros voluntários activos, mas alguns são mais proactivos do que outros”, constata.
Rodrigues elogia, por isso, a “boa gestão” do efectivo por parte do comandante, em concertação com a Câmara Municipal da Ribeira Grande. “Mas os bombeiros precisam ter em conta que as emergências são escassas. Às vezes registamos apenas uma chamada em um mês. Quanto ao Estatuto, está a seguir a sua tramitação normal.”, garantiu.
Vacinação
Para este autarca, neste momento há outras prioridades, designadamente a vacinação do efectivo contra a Covid-19. “Temos vindo a concertar com a Delegacia de Saúde da Ribeira Grande e ainda hoje, quarta-feira, vamos iniciar a vacinação de um primeiro grupo de 22 bombeiros. Vamos priorizar os mais activos. É um processo que estamos a fazer de forma tranquila”.
Depois que o processo de vacinação estiver concluído, frisa, a CMRG pretende agendar um encontro com todos os bombeiros voluntários para debater os constrangimentos que afectam a corporação. Quanto ao facto de estarem em casa, este lembra que, por causa da pandemia, muitas actividades foram suspensas, o que reduziu a demanda por este serviço. Situação que deverá mudar em breve com a retoma do campeonato regional de futebol e dos eventos culturais que demandam a sua presença.
Foto: Ilustração