A escritora Grace Beatriz, emigrante em Holanda, escreveu um pequeno conto entitulado “Circunstâncias de Vida”, dedicado à irmã, que está doente e sozinha em Luxemburgo. Trata-se, diz a autora, de uma pequena homenagem, uma forma de estar mais próxima desta sua ente querida com quem tem uma forte ligação espiritual, durante esta quadra festiva.
Inconformada por não conseguir estar com a irmã Dionizia Portela nesta hora difícil, a autora do romance “Sedução”, lançado em dezembro do ano passado, quer com este conto estar mais próxima e fortalecer a ligação entre as duas. E o texto mostra exatamente isso. “Somos o retrato de uma amizade que percorrerá a nossa vida, mesmo com as diferenças e obstáculos com que ela nos presenteia”, começa por dizer esta escritora.
Com palavras repletas de emoção, Grace lembra que, quando nasceu, a irmã já a esperava. Tinha então três anos. Mesmo assim, garante que são semelhantes, não fisicamente, mas espiritualmente. “Nascemos sob o signo da Balança, frequentamos o mesmo ensino primário, e até estivemos na mesma classe”, assevera, acrescentando que os caminhos diferentes só se revelaram quando a irmã começou a trabalhar, saiu de casa e depois do país no navio Amélia de Mello”, rumo a Luanda (Angola).
“Foi como se me arrancassem o coração do peito, deixando uma ferida que levou anos a cicatrizar. Faltam-me palavras para descrever o sofrimento, a angústia e a solidão que passei durante a tua ausência. Anos e anos passaram, tu não davas notícias, talvez porque a vida não te corria bem”, descreve, lembrando os fortes laços que uniam as duas e que a distancia nunca conseguiu quebrar.
O conto prossegue lembrando o regresso atribulado à Cabo Verde, refugiada, sem dinheiro e sem papeis, com cinco filhos menores após a independência de Angola, o acolhimento pelos familiares e a emigração para Holanda para mais um capitulo na sua vida e, mais tarde, a decisão de fixar residência em Luxemburgo. Lembranças que, por circunstancias da vida, esta emigrante resolveu agora partilhar.
Grace termina o conto com uma frase proferida pela irmã: «O destino é como uma tempestade de areia que não para de mudar de direção, pode-se mudar de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de nós seja como for.»