Os proprietários das carrinhas que fazem o transporte diário de carga entre São Vicente e Santo Antão estão descontentes com a CV Interilhas, que decidiu proibir o embarque dos condutores dessas viaturas. Esta medida, dizem, acarreta custos elevados porquanto, para além das despesas com estadia e alimentação dos profissionais retidos na ilha do Porto Grande, estão a ser obrigados a contratar um segundo condutor para buscar o carro em Porto Novo e distribuir a carga na ilha.
“Fomos surpreendidos com a medida que proíbe os condutores de acompanharem as suas viaturas durante a viagem. Por causa disso, muitos condutores de Santo Antão estão retidos em São Vicente. Com isso, temos de assumir as despesas de alojamento em pensões e com alimentação. Agora somos obrigados a contratar mais um condutor em Santo Antão, que tem a responsabilidade de ir buscar a viatura no navio e fazer a distribuição da carga em toda a ilha”, explica um proprietário ao Mindelinsite.
A agravar a situação, de acordo com nossas fontes, antes as carrinhas faziam várias viagens semanais para garantir um lucro que justificasse o cansaço e o desgaste. Agora, dizem, o navio faz apenas três ligações semanais entre as duas ilhas, o que aumenta o risco de prejuízos. Há ainda o risco da carga molhar com água do mar por causa das aberturas laterais do barco.
Por isso, há já quem pensa em repassar os possíveis encargos para os consumidores, o que significa que o aluguer de uma carrinha para vir buscar carga em São Vicente deverá aumentar.
Medidas impostas pelo Estado de Emergência
O director de operações da Cabo Verde Interilhas confirma que, neste momento, o navio “Chiquinho” faz apenas três ligações semanais, às segundas, quartas e sextas-feira, entre as ilhas de São Vicente e Santo Antão. Segundo Carlos Dias, trata-se de uma determinação do Governo, no quadro das medidas de contingência decorrentes do Estado de Emergência.
“Inicialmente, o Governo propôs apenas duas ligações semanais mas, por insistência dos operadores económicos e da própria empresa, acabou por aumentar para três, com duas viagens em cada um destes três dias, com saídas de S. Vicente à 8h e ás 15h30”, informa este responsável, que realça ainda o facto desta viagens serem apenas para transporte de carga, o que significa que não é permitido o embarque de nenhum condutor, que seria tido como passageiro.
Dias diz que a única carga que a CVI tem autorização para transportar são alimentos. Por isso vão manter inalterado a tabela de preços. “Apesar de não transportarmos os condutores, vamos manter o preço do frete por causa dos custos. Todos estamos a sofrer com a situação. As lojas estão a fechar, algumas pessoas vão para o desemprego…”.
O director de operações da concessionária das linhas marinhas nacionais confirma que, com esta medida, os proprietários das carrinhas precisam de dois condutores, um em S. Vicente e outro em Santo Antão para poderem garantir o transporte de carga entre as duas ilhas. “É por isso que digo que é uma situação desfavorável para todos”, acrescenta.
Para Dias, ao tomar a decisão de reduzir o número de viagens entre as ilhas e interditar o embarque de passageiros, incluindo os condutores das carrinhas de transporte de carga, o Governo preocupou-se apenas em conter a propagação do coronavírus nas ilhas.
Quanto ao navio Interilhas, segundo Dias, assumiu a linha São Vicente-Santiago, com escala nas ilhas de São Nicolau, Sal e Boa Vista. Também neste caso a embarcação transporta apenas carga, mais precisamente alimentos enviados pela Moave e produtos adquiridos pelos operadores económicos destas ilhas para garantir o abastecimento do mercado.
Constança de Pina