Caiu o pano no MSJ: Jazz puro, jazz crioulo e fusão com ritmos africanos
Terminou por volta das 2h15 da manhã deste sábado, 02 de Agosto, mais uma edição do Mindel Ímpar Summer Jazz, um evento que este ano pautou por elevada qualidade e que, durante uma semana, transformou a cidade do Mindelo na capital cabo-verdiana do jazz. Viveu-se e respirou-se jazz durante pelo menos uma semana nesta ilha. Este é, sem dúvidas, um festival sui generis, que já entrou no calendário das actividades de verão de São Vicente e na agenda de muitos emigrantes e estrangeiros que marcam as suas férias por esta altura do ano para estarem neste festival.
Nesta que é a 9ª edição de MSJ, em homenagem ao Biús, houve de tudo, mas, principalmente e a cima de tudo, muito jazz. Ouviu-se jazz puro, jazz e blues, jazz cabo-verdiano – começa a surgir artistas que estão a fazer jazz com um toque muito nosso, resultado de fusões com morna e coladeira e a prova disso foi o fabuloso espectáculo oferecido ontem ao público pelo grupo Pret & Bronk liderado por Kaly -, e fusão com ritmos africanos.
A festa começou com os concertos no Palácio do Povo com a orquestra Sab Sebim de Ribeira de Craquinha. Foi o “momento ternura do festival, com crianças de todas as idades a mostrar talento e um enorme potencial. Seguiu, na terça-feira, com a actuação da banda Afro Band de Santiago, com Zumbi, neto do falecido PR António Mascarenhas Monteiro na bateria. Na quarta-feira, a banda que acompanhou Biús ao longo da sua carreira fez um show tributo de alegria, que teve um coro fortíssimo de público a cantar as músicas deste artista.
Paralelamente, aconteceram duas masterclass com o professor Ron Savage e banda, no Centro Cultural do Mindelo, que acabaram por se transformar em momentos enormes de partilha de experiência e de apreciação do belo. Para os artistas já consagrados, este professor e o seu colega Jacky Santos ministraram aquilo que apelidaram de “Clinics”, na Escola Municipal de Música. Mas os momentos altos foram os espectáculos dos dias 01 e 02.
Foram momentos sublimes de Jazz de altíssimo nível, de acordo com o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que fez questão estar presente nos dois dias no “Jazz Village”, na Pracinha do Liceu Bedje. Se no dia 01 fez-se acompanhar do Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, para ouvir Vamar Martins Project, Etienne Mbappé e Maceo Parker, no segundo dia, à estes dois governantes juntou o vice Primeiro-ministro, Olavo Correia, caso para dizer que a cúpula do Governo juntou-se na cidade do jazz.
E as expectativas não foram defraudadas. A jovem Lizandra Gomes, filho de pai de Santo Antão e mãe da Madeira, foi a primeira a subir ao palco, acompanhada do grupo Pret & Bronk. A jovem, detentora de uma voz potente, mostrou ser uma artista completa, com uma voz potente. Seguiu-se uma “aula” de jazz e blues com Ron Savage Trio. Estes receberam como convidada especial Farayi Malek, que deixou o publico estasiada. Seguiu-se Jimmy DluDlu & Banda, que interagiu com a plateia durante todo o show.
Desfilou, tocou e dançou, levantando o animo dos presentes. Trouxe uma outra dinâmica à este festival. Fez fusão do jazz com ritmos plateia, inclusive com os cabo-verdianos. Sempre que terminava de cantar o público pedia mais, pelo que teve de ficar no palco até às 2h15.
Ao Mindelinsite, o chefe do Governo fez um balanço “muito positivo” deste festival. “Esta é uma grande iniciativa, com grande qualidade. Vi músicos com grandes performances. Acho que esta mistura cria espaço de conhecimento e de partilha. Tivemos aqui músicos de grande gabarito. Vi também artistas nossos que estão a fazer boas fusões. Gostei de todas as actuações”, declarava UCS, parabenizando a organização e Mindelo.
É que, afirmou, este festival está a ganhar um nível muito alto e já recebe pessoas de fora, que colocam o MSJ na sua agenda. “A promoção externa de São Vicente, de Cabo Verde e dos nossos artistas é inegável. Os nossos músicos ganham muito com eventos desta natureza. E, o mais importante, é que estamos a falar de uma iniciativa privada que está a criar valores.”
Satisfeito, Ulisses Correia e Silva, que apoiou a vinda da banda da Berklee College of Music, aventou a possibilidade, já nos próximos anos, de jovens mindelenses frequentarem esta que é a maior escola de música do mundo. “Para além de actuar, a delegação do Berklee ministrou formações. Espero que nas próximas missões consigam levar jovens daqui para fazerem cursos de verão, como fizeram na Praia. Vamos discutir esta possibilidade com a Berklee. O que me dizem é que estão satisfeitos e a gostar.”
Para além dos artistas e do PM, também alguns estrangeiros que estavam na plateia deixavam claro a sua satisfação. Caso por exemplo de um jovem casal de franceses que estavam maravilhados com a pujança cultural da cidade do Mindelo. Também o cidadão belga, que é casado com uma cabo-verdiana, Guido Bennaerts, mostrava a sua alegria por estar no MSJ.
“Há três anos que assisto o MSJ. Na primeira vez foi por acidente. Estava a passar, ouvi música e parei. Consegui ver uma excelente performance de Bau e Voginha. Fiquei encantado. Desde então, todos os anos estou aqui. Aproveito as minhas férias para participar deste festival. Gosto muito do jazz e vi aqui shows excelentes. Todas as pessoas estão em paz e muito tranquilas. É seguro. É tudo muito bom. No próximo ano de certeza que estarei aqui.”
Para além de ser um apreciador da música – arranha algumas notas no violão em casa -, este cidadão belga também é fotografo. Diz que esta é uma paixão que abraçou depois da reforma. Faz fotos por diversão e também porque gosta de registar o belo. E, durante este festival, garante que fez muitas fotos, o que o leva a afirmar que este é um evento para continuar.
É caso para dizer, caiu o pano na 9ª MSJ, mas próximo ano há mais.
Constânça de Pina