Milhares de manifestantes saíram hoje à rua em Hong Kong, para mais um protesto contra as emendas à lei da extradição, já suspensas, e o Governo da cidade. A marcha arrancou pelas 15h30 (hora local), no parque Vitória, e vai terminar no parque infantil de Southorn, em Wan Chai, em vez do local incialmente previsto junto ao Tribunal de última instância, em Central.
O percurso foi reduzido por questões de segurança, tal como exigia a polícia, depois de a organização, a Frente Cívica de Direitos Humanos, ter perdido na véspera um recurso. A Frente, que integra 15 organizações não-governamentais e movimentos políticos, organizou duas marchas pacíficas, a 09 e a 16 de junho, que juntaram cerca de um milhão e de dois milhões de pessoas, respetivamente, de acordo com os organizadores.
Apesar das manifestações serem pacíficas, dois dos protestos, a 12 de junho e a 01 de julho, foram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que chegou a usar balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo. A 01 de julho, os manifestantes invadiram mesmo o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local) de Hong Kong.
A contestação nas ruas, iniciada contra um projeto de alteração, entretanto suspenso, à lei da extradição, generalizou-se e denuncia agora o que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” no território. A chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, chegou a admitir que a lei estava “morta”, mas não conseguiu convencer os líderes dos protestos.
Pequenas acções e manifestações continuam a ser organizadas na cidade para exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que os protestos de 12 de junho e 01 de julho não sejam identificados como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão de Carrie Lam.
Apresentadas em fevereiro, as alterações permitiriam ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial chinesa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos, como é o caso da China continental.
Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”. Já os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e Macau para a China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa. Para estas duas regiões administrativas foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
C/Observador.pt