Pub.
Pub.
CulturaEscolha do Editor

Mindelact 2019: Dennis Correia é “Lexa Black” na peça “Damas da Noite” para inquietar os mindelenses

O espectáculo “Damas da Noite” de Elmano Sancho, a segunda peça teatral anunciada para o Mindelact “Edição Bodas de Prata”, já está a despertar interesse dos mindelenses quatro meses antes da sua apresentação pública, a 11 de Novembro. Primeiro pelo facto de mostrar uma realidade de homens que à noite dão voz e corpo as mulheres. Segundo por trazer como um dos actores o jovem mindelense Dennis Correia, que leva ao palco o seu personagem “Lexa Black”, que já é muito conhecido nas noites lisboetas.

A escolha deste espectáculo para integrar a programação deste evento teatral, segundo João Branco, aconteceu na sequência de um convite que recebeu para acompanhar dois grandes festivais no Porto, Dias Da Dança (DDD) e FITEI – Festival Internacional de Expressão Ibérica. Paralelamente, esteve na “Semana dos Programadores”, em que foram apresentados trabalhos lusos para despertar o interesse dos programadores internacionais.

Publicidade

“Tive a oportunidade de ver a estreia no Teatro São João do Porto (Portugal), na sala Carlos Alberto. Trata-se de um espectáculo encenado e criado por Elmano Sancho, que já esteve no Mindelact por duas vezes, a primeira como actor e a segunda com um projecto próprio intitulado ´I Can Breathe”. Foi um espectáculo marcante no nosso percurso. Esta é uma peça inteligente”, revela.

Para além da qualidade, de acordo com esta fonte, interessou também o facto desta peça ter no seu elenco um cabo-verdiano, Dennis Correia, que começou no teatro com ele, no Mindelo. “Temos uma política no Mindelact de destacar a componente artística, que é importante, mas também de, sempre que envolve um cabo-verdiano, as peças despertarem o nosso interesse pela dramaturgia, pela interpretação ou pela música. Entendemos que é importante termos a oportunidade de, através do Mindelact, de ver aquilo que os nossos conterrâneos estão a fazer lá fora”, afirma, realçando que, é neste contexto, que já trouxeram para o Mindelact espectáculo de Sara Estrela, Hélder Antunes, Paulo Miranda e Flávio Hamilton.

Publicidade

Dennis é um dos três “performers” que dão vida ao espectáculo. Foi convidado para o casting por conta do seu show como “Lexa Black”, que todos os fins-de-semana percorre os circuitos nocturnos de Lisboa, discotecas e salas de espectáculos. “O Dennis é o nosso orgulho neste espectáculo. Ele é um show a parte, com o seu personagem Lexa Black. Neste momento ele é uma figura das noites de Lisboa com o seu show. Foi este seu percurso profissional e artístico que lhe valeu o convite para integrar este espectáculo que os mindelenses vão adorar.”

Uma farsa autobiográfica

“Damas da Noite” conta a história de um homem que os pais queriam que fosse uma menina, inclusive já tinham escolhido o seu nome: Cleópatra. Nasceu menino, mas Elmano resolveu fazer viver esta Cleópatra, caso ela tivesse nascido. O primeiro desafio foi transformar esta ideia em realidade, o que conseguiu a trabalhar com transformistas em Portugal. “Ser transformer é diferente de ser travesti, que é quando uma pessoa assume uma identidade feminina. O transformista tem um intuito artístico e um alter ego, isto é, é um personagem que na maioria das vezes não tem a ver com uma opção sexual. Ou seja, não anda vestida de mulheres no seu dia-a-dia”, explica João Branco.

Publicidade

Este encenador mindelense não arisca afirmar se a peça é autobiográfica, ainda que a imprensa portuguesa faça referência a este aspecto. Prefere ver este espectáculo como uma ironia do seu criador, que resolveu apelidá-lo, depois da estreia, de “Damas da Noite – Uma farsa de Elmano Sancho”. “A peça obriga as pessoas a uma reflexão sobre a identidade pessoal mais do que sexual. É um espectáculo interessante, inteligente e irónico. Colocá- nos perante várias questões. Por exemplo, somos aquilo que queremos ser ou aquilo que os outros querem que sejamos? A própria escolha dos actores – um preto, crioulo e africano e outro acima do peso e com barba – também é uma provocação. Não é o tipo que se imagina de um travesti modelo. Remete-nos para outros questionamentos. É este o papel do teatro”, comemora.  

No fundo, o que se pretende com este espectáculo é inquietar e incomodar. Mas Branco acredita que as pessoas vão adorar porque é “vivo e engraçado”, tem uma fina ironia e reserva uma grande surpresa para o final, que abstém de revelar para não dar spoiler mas que vai deixar as pessoas estáticas e muitos vão dizer apenas “Caramba!”

Constânça de Pina

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo