Diva Pires é uma das poucas mulheres a trabalhar no “Espaço Verde”, um departamento da Câmara de São Vicente que se ocupa da limpeza e cuidados das praças e jardins da ilha. Está no serviço a cerca de quatro anos – desde 11 de Maio de 2015 – mas, apesar de gostar daquilo que faz, não está satisfeita porquanto, diz, o salário é baixo, faltam equipamentos e matérias e trabalha nas ruas em condições adversas, sem protecção e nem compensação extra. “Acho que devíamos receber um subsídio de risco porque trabalhamos debaixo de sol e vento, mas também no meio do lixo”, afirma.
Mãe de dois filhos, um de 15 anos e outros de sete anos, Diva conta que deixa a sua casa todos os dias, de segunda à sexta-feira, às 7 horas e só regressa por volta das 16 horas. “Sinto que, por causa do meu trabalho, não dou atenção aos meus filhos e sou cobrada todos os dias. Reclamam que trabalho muito e ficam sozinhos. Não tenho pai nem mãe. Sou mãe e chefe de família, salvo por alguma ajuda do pai da minha filha. Nunca estou em casa na hora das refeições, não estou com eles na hora do estudo. Nada. Trabalho das 7h30 às 15h30 e recebe um salário mínimo, 15 mil escudos. Mas recebo em mãos apenas 13 mil e alguns trocados por causa dos descontos. O meu salário não cobre as necessidades da minha família, mas é o que tenho. Levo o meu café da manhã, que tomo em qualquer canto, em plena rua”, conta.
Mas, pior que comer na rua, é trabalhar no meio do lixo, debaixo do sol abraçador e de ventos fortes, sem qualquer tipo de protecção. Diva Pires diz estar consciente que estas condições adversas têm implicações futuras a nível da saúde. “Trabalhamos sem qualquer tipo de proteção. Por exemplo, sou eu que compro as minhas luvas. Estou a quatro anos neste serviço e apenas uma única vez nos foi oferecido luvas”, diz esta mulher, que lamenta também a falta de formação. “Tenho colegas que fizeram alguma formação, mas não é o meu caso. O único benefício que temos é o INPS. Acho que devíamos receber algum subsídio de risco pelo tipo de trabalho que fazemos.
No entanto, apesar de descontente com as condições de trabalho, Diva Pires, que já passou por fabricas e foi empregada doméstica em algumas casas em S. Vicente, orgulha-se de estar empregada neste momento e com proteção a nível do INPS. Pelo menos, diz, não faz parte da estatística que mostra que cerca de 2500 pessoas engrossaram as estatísticas do desemprego em São Vicente no ano passado, segundo dados divulgados no dia 02 de Abril pelo Instituto Nacional de Estatística. Este mostra ainda que, três em cada dez jovens com idade entre os 15 e os 34 anos, na sua maioria mulher, não estavam a trabalhar ou a estudar em Cabo Verde no mesmo período.
Situação preocupante
Para Eduardo Fortes, da União dos Sindicatos de São Vicente, estes dados mostram que o mercado laboral em Cabo Verde, particularmente na ilha de São Vicente, não é animador. Este critica, sobretudo, o subemprego que, afirma, vêm fazendo escola, apesar de não dar garantia. “O subemprego é uma incerteza. É uma forma de colocar o trabalhador em permanente expectativa. Por outro lado, o emprego em si ainda não atingiu um nível que nos dá satisfação, principalmente em São Vicente, onde uma percentagem significativa da nossa juventude está desempregada. Temos cada vez mais jovens a sair da escola sem perspectiva de vida. É preocupante.”
Esta situação resulta, diz Eduardo Fortes, da inexistência de políticas efectivas de emprego viradas para a juventude. “É um paradoxo falar em apoiar os jovens quando, em termos de trabalho efectivo, não há empregos. E quando conseguem alguma vaga, os salários são baixos e não há vinculo. O único vínculo que se quer são contratos a prazo. Não entendo que se diga que se está a proteger os jovens proporcionando este tipo de trabalho, se são condicionados”, desabafa Fortes, lembrando que, sem vínculo, estes trabalhadores não conseguem um empréstimo bancário para construir uma casa e nem garantir a sustentabilidade das suas famílias.
Tudo isso leva este dirigente da União dos Sindicatos de São Vicente a afirmar que não se vislumbra nenhum resultado das propaladas políticas de emprego nesta ilha, pelo que desafia as autoridades a aproveitarem este 1º de Maio para reflectirem e analisarem o que se quer para o futuro dos trabalhadores de Cabo Verde, sejam eles jovens, mulheres ou homens.
Constânça de Pina