O general que assumiu o governo do Sudão anunciou a sua renúncia, apenas um dia após o derrube do ditador Omar al-Bashir, que comandou o país por quase três décadas. O ministro da Defesa, Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, comunicou sua decisão em uma transmissão na TV estatal.
Awad havia anunciado na TV que os militares haviam assumido o controle do país, encerrando a ditadura pessoal de al-Bashir. O breve líder da junta será substituído por outro general: Abdel Fattah al-Burhan Abdulrahman.
A queda do ex-ditador ocorreu na quinta-feira em meio a intensos protestos da população, que desde dezembro vinha realizando manifestações para exigir a saída de al-Bashir. Esta foi celebrada pelos manifestantes, mas as primeiras medidas tomadas pela junta militar logo levantaram o temor de que o antigo regime será substituído por uma nova ditadura militar e que a queda de al-Bashir não passou de uma disputa interna pelo poder.
Líderes dos protestos civis classificaram os membros da junta de os “mesmos velhos rostos” do antigo regime. Awad, por exemplo, era chefe do sector de inteligência do Exército durante o conflito de Darfur em 2000, que provocou a morte de 300 mil pessoas. Em janeiro, ele havia assumido o posto de primeiro vice-presidente do país (a estrutura política prevê dois ocupantes para o cargo de vice, cada um de uma região diferente do Sudão).
Khalid Omer, que lidera o oposicionista do Partido do Congresso Sudanês, expressou sua desconfiança em entrevista à DW “Eles (a junta militar) estão tentando roubar a revolução. Se você quiser iniciar um diálogo genuíno, não suspenderá a Constituição“, disse.
Como resultado, os manifestantes continuaram a ocupar as ruas, agora redirecionando sua insatisfação contra as medidas anunciadas pela junta.
A junta anunciou que pretendem formar um governo de transição liderado por um “conselho” com validade de dois anos. Também suspenderam a Constituição e impuseram um toque de recolher entre 22h e 4h, com duração de um mês. Também decidiu não entregar al-Bashir ao Tribunal Penal Internacional (TPI). O ex-ditador é acusado de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade no conflito armado no Darfur.
Ao menos 13 pessoas morreram em protestos realizados em vários pontos do Sudão após os militares derrubaram al-Bashir. O Comitê Central de Médicos, sindicato de oposição, denunciou que as mortes foram por disparos das forças do regime, mas não explica quem abriu fogo contra os manifestantes.
O sindicato destacou ainda que 35 pessoas morreram desde 6 de abril, quando teve início a ocupação dos arredores do quartel-general em Cartum para pedir o apoio dos militares contra o então presidente do país.
C/Globo