Dois novos perigos estão a ameaçar a zona da Beira, em Moçambique, onde o cenário é de destruição depois da passagem do ciclone Idai que causou pelo menos 202 mortos: a abertura das comportas de barragens no Zimbabué e as fortes chuvas que se aproximam. Esta possibilidade foi confirmada pelo presidente de Moçambique, que pediu às pessoas que vivem junto dos rios para saírem rapidamente desses locais.
Filipe Nyusi pediu a todos os que vivem perto de rios que abandonem a área “para salvar as suas vidas”, adiantando que as autoridades poderiam não ter outra escolha senão abrir as barragens por haver risco de colapso.
O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Pedro Miranda, doutorado em meteorologia, explicou à TSF que “fazer descargas num sistema já saturado e com torrentes de lama é muito perigoso”. “O grande drama é haver barragens que não resistem à quantidade de água. Pode ser preciso abrir as barragens. Ou então as estas podem rebentar por não terem sido abertas”, sublinhou.
Relatos que chegam da Beira, em Moçambique dão conta que a cidade está completamente inundada. Um mar de água e terra engoliu casas e árvores, deixando um elevado número de mortos. Estão confirmadas 202 vítimas mortais, mas o presidente Filipe Nyusi admitiu que a contagem possa vir a ultrapassar os 1000 mortos. O ciclone Idai deixou ainda cerca de 400 mil moçambicanos desalojados. Os danos materiais são ainda incalculáveis, mas podem vir a agravar-se caso o Zimbabué, que também foi afetado pela tragédia, decida assim abrir as comportas das suas barragens.
As próximas horas serão críticas. Os rios galgaram as margens e provocaram cheias em várias regiões de ambos os países. No Zimbabué, uma das soluções que está a ser estudada para fazer frente aos danos passa por abrir as comportas das barragens. Mais do que escoar a água das cidades e povoações, a solução tenta precaver um eventual colapso das barragens, que desde a passagem do Idai estão sob pressão.
As entidades garantem também estar atentas a um outro alerta: as previsões meteorológicas, que apontam para fortes chuvas nos próximos dias. O representante do Programa Alimentar Mundial que está a coordenar a situação de emergência, Pedro Matos, compara mesmo esta tragédia com o furacão Katrina. “Em termos de área é uma coisa comparável ao furacão Katrina, não em população, porque esta zona é menos populosa que Nova Orleães, mas em termos de área afetada é muito comparável”, sublinhou.
O ciclone Idai afectou ainda os países vizinhos de Moçambique. No Zimbabué, as autoridades contabilizaram até esta terça-feira pelo menos100 mortos, cerca de 1.600 casas e oito mil pessoas afcetadas no distrito de Chimanimani, em Manicaland. Já no Maláui, as únicas estimativas conhecidas apontam para pelo menos 56 mortos e 577 feridos, com mais de 920 mil pessoas afetadas nos 14 distritos atingidos pelo ciclone, incluindo 460 mil crianças.
Fontes: AFP/TSF