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Monte Sossego, uma construção “intrusa” que incomoda

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David Leite

   Passeando hoje por Monte Sossego, levou-me a curiosidade até uma construção que já foi objecto de muita controvérsia, na rua Carlos Lineu Miranda. Dá para ver que essa obra “comeu” o largo passeio calcetado, sacrificando até uma árvore de grande porte porque ninguém liga à natureza neste país! Ora, o amplo passeio era para os transeuntes passarem, e a pobre árvore fazia parte da paisagem!

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Não sou estudado nessas matérias mas, no meu modesto entender, essa obra tinha tudo para ser embargada. Para já, não entendo que uma autoridade responsável tenha autorizado essa construção “intrusa” naquele local! Por isso confesso que fiquei perplexo ao ver que os trabalhos vão de vento em popa, não obstante as reclamações da vizinhança e não só. Perplexo e triste fiquei com os desvarios dos que mais ordenam neste pequena urbe, cujos soberanos desígnios prevalecem sempre, contra ventos e marés. Doa a quem doer!

Duvido que alguém, como eu, veja com bons olhos essa espécie de apêndice num dos quarteirões residenciais mais bem concebidos de Monte Sossego, onde o IFH construíu alguns dos seus primeiros prédios aí pelos anos 80’s, com ruas amplas, largos passeios e espaços de estacionamento… 

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O suficiente, ao que parece, para incomodar aqueles que não querem uma cidade que respira, mas um aglomerado de imóveis onde o business impera sobre escrúpulos ambientalistas e passa por cima daqueles que ousam clamar por uma política de urbanismo para salvar o que ainda resta dos arredores da cidade. Para esses “mercadores do templo”, o mais pequeno espaço onde  se possa construir, é dinheiro quente! E estão-se nas tintas se as pessoas vão andar à topada num espaço urbano sem praças, sem espaços verdes, sem escoamento para as águas pluviais, sem vida, sem graça. “Apres moi, le deluge”!

Aos “mercadores do templo” lembramos que Mindelo não foi feita à toa. Quando, em 1819, António Pusich desembarcou em S. Vicente (a primeira ilha a dar as boas-vindas ao novo governador), já trazia na bagagem os planos para a criação de um povoado digno desse nome. Não havendo na ilha mais do que 185 habitantes (na sua maioria pastores de S. Antão) distribuídos por 32 fogos, a chegada de Pusich foi providencial e a cidade do Mindelo nasceu bem ordenada, com ruas alinhadas e uma bela arquitectura. Devemos fazer jus à sua história e não enveredar por outros caminhos! 

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     Feliz semana a todos.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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