O Carnaval de São Vicente não é apenas um evento, é um pulsar coletivo que traduz, em cores, sons e movimentos, a essência das gentes desta ilha. Criativos, resilientes e cheio de ginga. Aviso prévio: não faço parte da disputa, pois, não estou em nenhum dos lados. Apenas partilho a minha simples opinião sem querer entrar no calor da discussão dos aficcionados.
Por: Nelson Faria
Como sanvicentino, mero apreciador deste espetáculo com tudo: música, dança, teatro, escultura, pintura, com emoção e identidade sanvicentina, o nosso carnaval d’soncent, adoro a produção musical, as composições e as “batucadas” para cada música. Na batucada/bateria sou suspeito e, confesso, tenho escolha prévia. Na música, a minha escolha depende daquela que melhor tocar as minhas emoções e com a qual me identifique de alguma forma.
Não sendo músico, um autêntico ignorante em detalhes que poderão ser avaliados, mas alguém que tem especial atenção neste quesito e se emociona com a riqueza das composições, mergulhei de cabeça na escuta das músicas do certame. E que presente! Cada uma trouxe um universo próprio, mas todas ecoaram o mesmo orgulho nos enredos, na excelência e na essência de cada desfile a que se propõe.
Permitam-me, por isso, o meu destaque para “Se Carnaval Era Gente” (Vindos de Oriente), que me tocou de forma única desde da primeira escuta. A letra, a exaltação das mulheres, a metáfora do Carnaval com as mulheres, particularmente de São Vicente, tem tudo a ver. A música vai além do Carnaval, como se a festa assumisse alma de mulher. Para quem adora mulheres, não há como não adorar a musica.
“Caldeirão de Atlântico”, Cruzeiros do Norte, soa como um manifesto cultural, ritmos nossos, contagiantes, letra que mistura tradição e modernidade carnavalesca, e uma batida que parece feita sob medida para a bateria/ batucada unir as ruas da cidade. É, sem dúvida, um hino pronto para unir gerações.
“Destino Trassod – Viagem para Amazônia”, Flores do Mindelo, uma obra magnífica que nos transporta para paisagens sonoras exóticas, sem perder o pé na nossa identidade. Extraordinariariamente bem interpretado.
“Terra d’Indio”, Monte Sossego, comoveu-me pelo apelo histórico e emocional, especialmente para as gentes de Monte Sossego com um resgate de memórias que merecem ser eternizadas. Naturalmente, uma música que melhor identifica e identicam-se as pessoas do bairro.
“I Love Terra”, Estrelas do Mar, atual e pertinente, lembra-nos que celebrar a terra é também cuidar dela, numa sintonia perfeita com os debates globais com enquadramento para a festa.
Não sei qual será o veredito do júri. Mas, para mim, o verdadeiro vencedor já é o Carnaval de São Vicente, que mais uma vez prova ser um palco de excelência artística. Apaixonei-me pelo refrão do “Se carnaval era gente” pela comparação perfeita com as nossas mulheres, pela energia que me faz dançar mesmo parado.
Falar de mulheres neste contexto, no mês de Março, é inevitável e admito ser um entusiasta das lideranças no feminino quando são inspiradoras. Quando a força feminina é canalizada para criar, unir e elevar, todos ganhamos.
Que o Carnaval continue a ser este caldeirão de afetos, história e inovação. E que as músicas, sejam quais forem as premiadas, ecoem além das ilhas, levando o mundo a conhecer a arte de quem faz de São Vicente um farol cultural no Atlântico.