Escritora Florizandra Porto apresenta a sua mais recente obra ao público cabo-verdiano: “Vendedeiras de Prazer”
O romance “Vendedeiras de Prazer”, da escritora mindelense Florizandra Porto, é dado a conhecer em Cabo Verde, depois de ter sido lançado em Portugal em setembro do ano passado. O livro está a ser muito elogiado e ganhou notoriedade por sua abordagem ousada e sensível sobre o drama da violência sexual em Cabo Verde, em especial contra crianças, a prostituição e a condição feminina.
Segundo a autora, o livro conta a história de Ludmila, um relato meio verídico, meio ficção. Acontece principalmente na ilha de São Vicente, mas, enfatiza a escritora, poderia ser de dezenas de meninas que todos os dias lutam e labutam na praça, à procura de parceiros. “Estas meninas não fazem aquilo porque gostam. Todas elas são vítimas, talvez do abandono, talvez da violação ou talvez porque são maltratadas. Mas essas jovens meninas, são meninas como qualquer outra menina”, acentua.
Meninas que, afirma, alimentam sonhos de uma vida melhor, de um grande amor, de serem felizes, sendo muitas vezes jovens-mães, outras pai também, porque a educação, o amor e a alimentação do filho é por conta delas. “Estão lá prostituindo, maltratando-se, mas estão lá com a esperança de um dia encontrar uma mão amiga para lhes ajudar a ter uma vida digna”, reforça, destacando que, por serem mulheres, moldadas pela mão de Deus, merecem tanto como todas as outras mulheres muita admiração, muito amor e apoio.
Em suma, esta obra, que já está disponível nas principais livrarias e plataformas digitais, chama atenção pela forma intensa que a autora retrata os casos de abusos sexuais e de exploração infantil. Florizanda Porto cria um enredo profundo, que não só denuncia, mas também propõe uma reflexão sobre as cicatrizes invisíveis deixadas por tais experiências.
Para a autora, a violação sexual de crianças é algo que deveria ser exterminado do nosso país. Mas, infelizmente, diz, a pena no país para este crime é muito leve para o criminoso, que muitas vezes é o pai, o padrasto, o irmão ou o vizinho. “Deveria ser mais pesada, uma vez que, depois de ser cumprida, a criança é obrigada a conviver com o sujeito que lhe provocou um grande mal e que, muitas vezes, estragou-lhe o futuro e deixou-lhe infeliz para o resto da vida.”
Florizandra Porto é escritora e poetisa e professora de Ensino Básico Obrigatório. Integrou em 2012 o fanzine de poesia e banda desenhada “Banda Poética” e, em 2015, lançou a sua primeira obra literária – o livro infanto-juvenil “O melhor amigo”. É ainda co-autora das antologias de histórias carnavalescas e de assombração “Ninguém leva a mal” e “Sexta-feira 13”.
Em 2021, arrebatou o 1º e 3º prémio do concurso de dramaturgia “Festival de Teatro do Atlântico, TEARTI”. Atualmente vive em Portugal, onde lançou a sua recente obra. Quando se trata de temas sociais e femininos a escritora não tem papas na língua, traz sempre uma dose de ousadia e sensibilidade.