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Projecto de investigação finalista do Digital Health Summit vai ser implementado em Moçambique 

O projecto de investigação do grupo Bioanalítica, em colaboração com a universidade Jean Piaget, que foi uma das finalistas do evento internacional Digital Health Summit2024, vai ser implementado em Moçambique. Denominado “Uma nova metodologia sensível para a detecção de Shistossoma haematobium em amostras clínicas” (em português), aplica uma nova técnica de diagnóstico de equistossomose urinária, uma das doenças tropicais que mais mata no mundo, depois da malária. 

Em entrevista ao Mindelinsite, o cientista cabo-verdiano Maximiliano Fernandes explica que o projecto foi apresentado no Digital Health Summit, evento realizado na Madeira entre os dias 26 e 27 de novembro. Foi submetido pela investigadora da Unipiaget Andreia de Pina, Maximiliano Fernandes, Lara Ferrero Gómez, Ailton Ribeiro e Evandro Carvalho. O evento, refere, contou com a participação de vários cientistas dos PALOP. “Foi um dos cinco projetos finalistas selecionados, na categoria de estudantes, principalmente mestrados e doutorados. Baseia-se na tecnologia, transformação digital, ciência dos dados, dispositivos médicos inovadores e inteligência artificial”, detalha.

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Entre os finalistas, prossegue, apenas investigadores de instituições de Portugal, Brasil e Cabo Verde se destacaram com este projecto, intitulado “A new sensitive methodology for the detection of Shistossoma haematobium in clinical samples” (em inglês), que combina o novo reagente Parasimax descoberto pela bioanalítica e microscopia de fluorescência. “Este novo método está a mudar a forma de diagnóstico laboratorial, permitindo detectar em questões de segundos este tipo de patógeno em amostras clínicas, ao invés de vários minutos como nos métodos clássicos, vigentes desde 1851 descoberto pelo cientista alemão Theodor Maximilian Bilhar”, comemora.

Sobre Theodor Bilhar, o cientista explica que foi um dos pioneiros no estudo da parasitologia, notabilizando-se ao identificar e descrever o Schistosoma haematobium, parasita causador da bilharziose nas margens do rio Nilo. Diz ainda que, segundo a OMS, o  Schistossoma haematobium infecta em torno de dois milhões de pessoas e causa morte de cerca de 200 mil anualmente. “Este parasita é transmitido através de contacto com água contaminada, sendo a principal via de entrada a cutânea. Depois de entrar na pele, migra para os vasos sanguíneos renais, e produz ovos. Estes ovos ao passarem pelas vias urinárias, causam sangramento e propicia infecções por outros microrganismos como bactérias”, esclarece, realçando que existem evidências científicas que provaram a associação entre infecções por este parasita e câncer de bexiga. 

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imagem de microscópio do ovo de Schistosoma haematobium.

Atualmente, diz, existe maior uma prevalência destas infecções em países da África e médio oriente. No entanto, as migrações têm aumentado casos no sul da Europa e outros continentes. “Em Cabo Verde, existe um pequeno surto de equistossomose na ilha de Santiago, nomeadamente na região de Santiago norte, especificamente na comunidade de São Miguel. Foi detectado pelas autoridades nacionais de saúde e publicado nas revistas Americana de epidemiologia de campo e PAMJ-One Health 2”, expôs.

Devido a gravidade deste tipo de infecção, o novo método descoberto pela Bioanalítica pode acelerar muito mais a forma de diagnóstico e evitar complicações futuras. Aliás, afirma, foi sobretudo na sequência do surto detectado detectado em Santiago Norte, mas também da constatação da presença do agente infeccioso no Hospital Agostinho Neto que decidiram aprofundar os estudos por forma a controlar os casos e evitar que se alastre na população.

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“Foi sobretudo devido ao surgimento destes dois casos que tivemos de investigar ao fundo, durante cerca de dois anos. Trata-se de um grande passo entre todos os Palops. Agora vai ser aplicado nos países onde o problema é mais grave, caso de Moçambique e posteriormente no Brasil.” 

Este novo método vai ser estudado em vários países incluindo no continente Africano, América latina, Portugal e Médio Oriente, sublinha, assegurando que o grupo de investigação pretende também fazer parcerias com as autoridades de saúde local para estudos e implementação em Cabo Verde. Entende este especialista, que o projecto é de extrema importância e de conhecimento de vários investigadores a nível mundial, com destaque para Naftale Katz, um dos melhores especialistas no mundo na matéria. 

Apesar de todas essas descobertas, lamenta, o grupo carece de financiamento pelas autoridades locais, que simplesmente não possuem um programa de financiamento para investigação em saúde. Por isso, aproveitou para apelar por mais apoio à investigação e inovação, a fim de criar soluções úteis.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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