O Presidente da República condecorou esta sexta-feira, o compositor Manuel de Novas, a título póstumo, e os grupos ‘Kings’, ‘Kolá’ e ‘Nova Aurora’, uma cerimónia singela no Palácio do Povo, em São Vicente, no quadro das celebrações dos 49 anos da independência. José Maria Neves justificou dizendo que, em Cabo Verde, é preciso reconhecer aqueles que, em momentos importantes do percurso do arquipélago enquanto nação, tiveram um papel fundamental.
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Na sua intervenção, o Chefe de Estado declarou que, nestes quase 50 anos de Cabo Verde independente, houve muitas personalidades, cidadãos, grupos, instituições que contribuíram fortemente para o crescimento material e espiritual desta nação. ‘Geralmente, nós nos concentramos nos aspetos negativos e esquecemos-nos das boas práticas, das ações que enriquecem o património nacional. Aqueles que distinguiram-se em diferentes áreas, política, social, económico, cultural, para o engrandecimento de Cabo Verde,’ constatou.
JMN admitiu, por outro lado, que os cabo-verdianos têm consciência da grandeza do contributo da música em todos os momentos, sobretudo na mobilização para libertar o país da subjugação. ‘A música esteve sempre presente. Logo após o 25 de Abril, houve um grande recrudescimento da música de intervenção para mobilizar os cabo-verdianos para a ideia da liberdade enquanto nossa subjugação e para a necessidade de construirmos juntos um novo Cabo Verde, que é o nosso orgulho maior. E todos nós lembrámos-nos do contributo de Manuel d’Novas nesse momento inicial, mas sobretudo após a independência, no enriquecimento da música cabo-verdiana. Ele deu um contributo enorme para a nossa música. E sabemos como a música contribui para a projeção de Cabo Verde no mundo.’
Por isso, frisou o Presidente da Republica, nada mais justo do que no quadro das comemorações dos 49 anos da independência – começa agora a contagem decrescente para comemorar no dia 5 de Julho de 2025 os primeiros 50 anos da nossa vida enquanto nação livre e independente – homenagear Manuel de Novas e os grupos Aurora, Kings e Kolá, pelo enorme contributo que deram para que Cabo Verde pudesse ascender à independência e ter força espiritual para construir um novo país. ‘Os desafios são enormes, o mundo é muito mais complexo, muito mais difícil, mas já temos os alicerces, já temos os pilares essenciais para nos próximos 50 anos fazermos muito mais e melhor. Então, que Manuel de Novas continue a inspirar-nos e que os outros grupos, ainda que não estejam ativos, continuem inspirados pelos grupos Kings, Aurora, Kolá, e todos juntos continuarmos a trabalhar para o engrandecimento de Cabo Verde’, acrescento.
José Luís Ramos agradeceu o gesto do PR e fez uma breve incursão pela atividade musical e cultural organizada, agora distinguida com a medalha do Falcão 2ª Classe, nasce de uma conjugação de factores sem precedentes, designadamente do momento histórico da descolonização e independência de Cabo Verde. Também da consequente afirmação das raizes da cultura musical, a morna, a coladeira, o batuque, funaná- e da seiva juvenil que corria nas veias, catalisadas pelos acontecimentos sócio-políticos dessa época.
‘A inspiração criola vinda de inúmeras composições de Nhô Eugénio, B.Leza, Manuel d’ Novas, Luís Morais, Morgadinho, Frank Cavaquinho e muitos outros. As peripécias do acaso nos juntou nos grupos Nova Aurora, Kings e Kolá, respectivamente. E a audacia propria da juventude, à mistura com alguma inspiração, talento e amor às coisas da terra,’ indicou, destacando as atuações destes grupos pelos palcos de Cabo Verde e também de Angola, Guiné Bissau, Portugal, Holanda e ainda uma série de outros países onde houve oportunidade para divulgar a música de Cabo Verde.
‘ As músicas populares e as composições originais inéditas dos grupos e em apreso foram registadas em gravações editadas na altura em cassetes e discos vinil.Contudo, fazendo ainda hoje o deleito nos fãs e apreciadores. Felizmente, estão neste momento digitalizadas, uma garantia da sua perpetuação. Estes registros corporizam temas versando a realidade sócio-histórica da época, a liberdade, a vivência do evasionismo e do regresso, as saudades, as adversidades sofridas, a pobreza, a repressão, enfim, tudo aquilo que informa a nossa história de ilhéus dotados de uma língua e personalidade sui generis e que tão bem se prestam aos vários géneros musicais cabo-verdianos.’
Do lado do Kolá, José Luís recordou os temas Lameirão, Madeiral, Tabanca, Bulimundo, Jogo Bruto, Suspiro e Liberdade, esta última vencedora do primeiro Festival de Música, havido no Pátio do Liceu Ludgero Lima no verão de 1976. Lembrou também os companheiros que já faleceram, caso do saxofonista, flautista e clarinetista Tec Duarte, o guitarrista Tolas Lima e o irmão trompetista Gabriel Lima, Luís Moraes, Valdemar, Artur, Manel d’Novas, Frank Cavaquim e tantos outros. Para terminar, afirmou que, passados quase meio século, se sentiu honrado e feliz com esta homenagem.
Manuel d’ Novas recebeu foi condecorado, a título póstumo, o 2.º Grau da Ordem Amílcar Cabral, “pela sua emblemática composição 5 de Julho nos camin pa flisidadi”, enquanto os grupos musicais ‘Os Kings’, ‘Kolá’ e ‘Nova Aurora’ foram agraciados com a 2.ª Classe da Medalha do Vulcão, segundo a Presidência, porque marcaram a história musical de Cabo Verde. Na a anterior cerimónia a 05 de Julho, no Palácio do Platô, foram condecorados os músicos e compositores Daniel Alberto Rendall Moreira Monteiro e Alcides Spencer Brito, bem como o grupo musical ‘Os Tubarões’ com o 2.º Grau da Ordem do Dragoeiro, também pelo contributo musical e cultural que deram à luta pela independência.
A OMS também foi distinguida com a outorga do primeiro grau da Ordem Amílcar Cabral, em reconhecimento ao seu “importante papel no desenvolvimento do sector da saúde em Cabo Verde”.