Por: Nelson Faria
A abordagem que faço nesta partilha resume algumas situações observadas que tem merecido a minha atenção e inquietação nos últimos dias, alguns destes destes há mais tempo:
1. Como é possível uma pessoa falecida, assassinada, desde o dia 1 de agosto não ter sido dado à terra até esta data, 30 de agosto? 30 dias!!! Incúria ou inépcia das autoridades envolvidas? Escassez de meios humanos? Problemas com transportes? Certo é que não é um tratamento humano digno para a pessoa falecida e nem para os seus familiares que prolongam um sofrimento, acredito, doloroso pelas circunstâncias da morte e impotência em avançar com o funeral. Muita força à família e que as autoridades tenham em mente que a nossa frágil condição humana requer humanidade na abordagem de situações delicadas, como esta, numa perspetiva empática de olhar para a dor familiar. Espero que não venha a acontecer com mais ninguém, independentemente das causas da morte… Não é humano.
2. “Fidju d’ terra”… Creio que a Lei do álcool impossibilita publicidade visível nos estabelecimentos, entretanto, o que não se deixa de verificar é um “mar azul” de pinturas, algumas desenquadradas da publicidade de uma determinada marca de bebidas alcoólicas. Assistimos como normal… Acho que se a “tud balói d’soncent” fosse possível e permitido “pintar” de azul não haveria chatices como a que houve em tempos no Adérito Sena. O que quero alertar neste caso e outros similares é para o escrutínio do cumprimento da lei do álcool no concernente a publicidade, repito, não só deste caso que serve apenas de exemplo, mas também de outros postos e expostos em passeios, bares e “barcearias” e por favor, não me venham com a ladainha que não ser explícito a publicidade evidente. Na mesma linha também apelo para o cumprimento do código de postura municipal no concernente à pintura da fachada de alguns edifícios, particularmente no centro histórico da cidade.
3. Língua materna, quo vadis? Adoro a nossa idiossincrasia, as nossas particularidades e diferenças no falar, no cantar, nas expressões que nos fazem rir, conhecer algo novo, ver em outra perspetiva. Penso que são uma riqueza nossa. O grupo SIZAL que muito tenho ouvido ultimamente é um excelente exemplo de versatilidade no uso das diferentes variantes do crioulo. Sou a favor da língua materna, considerando o Português também nossa, entretanto tenho observado uma deriva para “imposição” de uma variante do crioulo sobre as demais. Em quase todas as instituições públicas e grandes empresas nacionais são publicitadas slogans apenas numa única variante. Compreendo e aceito que por maior parte da nossa população residir na Capital as comunicações institucionais tendem a adotar a variante de Santiago, todavia, não faz sentido em deslocações e nas demais ilhas não fazerem o mínimo de esforço em adaptar a linguagem para as pessoas que estão em todas as nove ilhas habitadas. Libertamos da colonização, não a queiramos de volta.
4. Temos jovens com 40 anos ou a juventude termina aos 35? Isto a propósito de algumas vantagens que é dado a nível do emprego, formação, facilidades de créditos e apoios que cessam aos 35. Considerando dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) conforme a nossa população está a envelhecer e a emigrar, em grande fluxo, com jovens que começam a singrar na vida profissional após 35, devido a entrada tardia no mercado de trabalho, questiono se devia ou não ser revista a nossa consideração da idade “jovem”? Sei que a definição de “jovem” pode variar dependendo do contexto cultural, social e biológico e, em bom rigor, muitas vezes é associada a pessoas na faixa etária entre 15 e 24 anos, conforme estabelecido por organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, em algumas culturas e contextos, a juventude pode ser estendida até os 30 ou 35 anos, como é o caso de Cabo Verde, devido às mudanças nas expectativas de vida, educação prolongada e inserção tardia no mercado de trabalho. Por isso, creio ser oportuno debater se não deveríamos incluir, como jovens, com todos os direitos, pessoas na faixa etária dos 35 aos 40 anos.
5. O desporto em São Vicente, uma ilha de campeões, persiste e resiste pela obra de atletas, dirigentes, treinadores e benfeitores, caso contrário já estaria desaparecido. São demasiadas as evidências de reclamações de falta de apoio, acompanhamento, suporte, obras prolongadas e não concluídas de algumas infraestruturas desportivas, por exemplo o Polidesportivo da Zona Norte, de obras conduzidas estrategicamente para períodos eleitorais, por exemplo os quase cinco anos do Campo da Bela Vista, agora em pintura “verde choque” para a mensagem eleitoral subliminar, de outras abandonadas, nomeadamente o Polivalente de Fonte Francês, o Pavilhão Oeiras, remendado e a cair, hoje o remendo possível para tantas atividades, entre tantos outros exemplos que poderia expor.
Fazer obras, criar infraestruturas, acompanhar os clubes, os atletas e a situação de prática desportiva na ilha não é nenhum favor pessoal ou institucional, é a responsabilidade intrínseca a gestão municipal que deve ser assegurada, é dever do município, portanto, de quem ocupa os cargos da governação municipal. É sim uma contribuição necessária da governança municipal no desenvolvimento de talentos, na saúde e bem-estar das pessoas, na educação e preparação de jovens, um contributo para a paz social, um contributo para nossa felicidade efetiva. Visto o que tenho visto e escutado de muitos agentes desportivos, numa ilha onde o desporto que ainda graça deve-se a “teimosia” de agentes, dirigentes, treinadores e atletas, sem o devido acompanhamento e apoio municipal, pergunto qual o real compromisso do município com o desporto numa ilha de campeões?