Greve dos profissionais da saúde suspensa: Governo e sindicatos retomam negociações na próxima terça-feira
Está suspensa a greve dos profissionais de saúde, que teve uma adesão à volta dos 90%. Os sete sindicatos que protagonizaram esta paralização e o Governo retomam as negociações na terça-feira e sobre à mesa vão estar pelo menos três questões imprescindíveis: a publicação dos PCFRs dos médicos, enfermeiros e do pessoal do Instituto Nacional de Saúde Pública, as tabelas remuneratórias e a nomeação dos técnicos clínicos concursados. E o timing para que o Governo atenda à estas reivindicações é de apenas um mês, sob pena destes profissionais voltarem novamente à greve.
Num balanço dos dois dias de greve, o secretario permanente do Sintap mostrou-se satisfeito com a adesão, apesar da requisição civil e do anúncio da atualização das carreiras médicas e de enfermagem. “A nível nacional, os trabalhadores se engajaram e podemos dizer que, em termos percentuais, registou-se uma adesão a volta de 90%. Os que foram requisitados também estiveram com os profissionais de saúde nesta luta. Foi uma greve inédita porque juntou sete sindicatos e também porque nunca antes os médicos tinham-se juntado com outras classes profissionais”, descreveu Luís Fortes.
Acredita que a mensagem passou porque, durante os dois dias, estiveram em contacto com o Governo, que se mostrou disponível para voltar à mesa das negociações, o que determinou a suspensão da greve às 8 horas desta sexta-feira. Este dirigente sindical fez no entanto questão de explicar que, no primeiro dia, não foram requisitados trabalhadores para garantir os serviços mínimos no Hospital da Praia, nem nos hospitais dos Espargos e do Fogo, falha que teve de ser suprida pelos sindicatos. “Os profissionais de saúde, que são responsareis, organizaram os serviços mínimos nestas instituições. Foi só no segundo dia que o Governo retificou a situação, o que deixa entender que a preocupação maior era com São Vicente, tido como o ‘olho do furacão’ nos casos das lutas laborais no país.”
Retoma das negociações
Para as negociações, que se iniciam na terça-feira, Luis Fortes garante que os sindicatos vão preparados para fazer “finca-pé” em determinados pontos. Por exemplo, querem analisar os documentos dos processos dos PCFRs e que deveriam estar publicados, para podermos emitir um parecer mais cabal. Também querem conhecer as tabelas remuneratórias e os regulamentos, e exigem a publicação da lista técnicos de analises clinicas que há quatro anos participaram de um concurso, mas ainda esperam a nomeação. “Reivindicamos também o PCRF do pessoal do INPS. Sequer existe a versão zero, mas este nos foi prometido antes da greve. Não temos noção do seu conteúdo. Mas estamos disponíveis para negociar e não vamos estabelecer um limite de tempo porque, primeiro, temos de perceber quais são as propostas do Governo, mas acredito que não poderá ultrapassar um mês. Os trabalhadores confiaram em nós para termos esta conversa com o Governo e, por isso, suspendemos a greve. Mas estão dispostos a voltar à luta, caso seja necessário”, assegura.
Neste sentido e para que não haja perda de tempo, o secretario permanente do Sintap diz esperar que as negociações sejam ao mais alto nível, ou seja, com os Ministros das Finanças, Modernização do Estado e da Administração Pública e da Saúde. Instado se os sindicatos entendem que a tutela não tem dado as respostas que os profissionais da saúde querem e se, por isso, defende a demissão de Filomena Gonçalves, Luís Fortes é taxativo em afirmar que os sindicatos não trabalham com calendário politico e lembra que a situação se arrasta desde 2017. Disse ainda que, antecipadamente, todos os partidos políticos já foram informados dos constrangimentos que o sector enfrentava.
“Qualquer partido que ganhasse as eleições tinha de ter em conta, no seu programa, a resolução das questões que afligem o pessoal da saúde. Portanto, o tempo da Ministra da Saúde no cargo é irrelevante. Não vamos pedir a demissão de ninguém. O que pedimos é que resolvam os problemas dos trabalhadores da Saúde”, sublinha. Fortes condena, entretanto, as intervenções “infelizes” de pessoas com responsabilidade que afirmaram que os profissionais de saúde se deixaram influenciar. “Dizer que os profissionais foram influenciados é passar um atestado de incompetência e de livre pensamento de cada um. Estamos a falar de classes profissionais com capacidade de analise. Não podemos ir por este caminho, de tentar colar a luta sindical com os partidos políticos. Os sindicatos fazem luta laboral”.
Durante os dias de greve, os profissionais nunca se desmobilizaram, mesmo após o Governo ter decretado uma requisição civil considerada excessiva. Fortes não confirma os rumores de greve de zelo em alguns departamentos, até porque durante as paralisações são impedidos de entrar nos serviços.