Tive a felicidade de nascer no mesmo ano do Festival da Baía das Gatas. São 40 anos de “O Festival”! Aquele que impulsionou outras semelhantes formas de fruição cultural e eventos no país, aquele que pelo valor que aporta a São Vicente e Cabo Verde é, sem sombra de dúvidas, uma grande marca nacional. Bem-haja aos fundadores, a continuidade e o engrandecimento que tem sido dado… Que seja perene, pois, Baía já é do mundo.
Por Nelson Faria
É de louvar a ambição que demonstramos com o cartaz do festival, aguardando ainda a publicação
oficial e calendário. Tem sido deveras um grande palco para grandes artistas, nacionais e internacionais, um extraordinário espaço de convívio, de conexões e de encontros. Adoro ver São Vicente neste formato de celebração de culturas, de convívio com os nossos, alguma agitação económica, o regresso dos emigrantes, a vinda dos turistas, uma brisa boa para a cultura, eventos e economia.
Todavia, indo além da vertente emocional que me liga ao evento, a minha racionalidade, por “defeito” de formação, não permite ver o que tenho visto nos últimos dias, enquadrado na celebração dos 40 anos e não só, sem aguçar o meu senso crítico. Pergunto, com tantos nomes sonantes, que não vêm sozinhos, pois tem um staff a acompanhá-los, quanto custará este festival? Têm um orçamento que possam facultar para os curiosos cidadãos, como eu, para demonstrar a transparência e a viabilidade do “investimento” feito? Qual o acompanhamento e balanço que se faz pós evento sobre custos, retornos e benefícios? Algum relatório da execução do orçamento? Algum estudo do impacto? É que nem todos se embalam pela emoção e por nomes sonantes.
Porém, é o meu sonho que esta ambição e emoção demonstradas para com o festival da Baía, particularmente este por se enquadrar em datas especiais, fosse transposta para outras esferas da nossa vida diária. Considerando a ligação que já se faz com as eleições autárquicas que se avizinham, com algum histerismo dos acólitos, visando esse período eleitoral, permitam-me questionar como ter o melhor na educação, na saúde, no ordenamento do território, na realização das obras pendentes e das pedras lançadas, no desporto, em outras atividades culturais, no saneamento e proteção do ambiente, na gestão urbanística e do património histórico, na transparência da gestão pública, na defesa da cidadania ativa e dos consumidores, na solidariedade social, na indústria, no comércio, nos serviços, na relação com a nossa diáspora… Como sermos e vermos “Ivete Sangalo”, sentido figurado, em tudo isto?
Celebrar, celebrar Baía, sempre! E sempre que possível, com os melhores que pudermos ter,
entretanto, com emoções controladas e racionalidade ativa, pois, a nossa vida é vivida por anos e
gerações e não somente nos dias de celebração. Bom festival a todos! Alou Baía!