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Voluntários pedem diálogo com a CMSV para ajudar a resolver o problema dos cães presos no canil municipal, sem água e comida

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Um grupo de cidadãos, que se identifica como voluntários ativos dispostos a ajudar a resolver o problema dos cães presos no canil municipal mas também a apoiar no desenvolvimento politicas eficazes de controlo da população canina na ilha de São Vicente, pede diálogo urgente com a Câmara de São Vicente. Dizem que o canil não oferece as mínimas condições de sobrevivência dos animais – falta água, alimentos e higiene -, uma situação que a todos envergonha e que se traduz em maus-tratos para aquele que é considerado o melhor amigo do homem. 

Esta posição foi manifestada este sábado em conferência de imprensa no Mindelo por quatro cidadãos, que decidiram assim expor a situação resultante da captura de cães por parte da CMSV e as condições do espaço onde são metidos. Segundo a porta-voz, foi no dia 13 de julho que a edilidade iniciou uma campanha de apanha de cães nas zonas de Chã de Cricket, sul de Chã de Alecrim (perto da Electra), na Lajinha e na Avenida Marginal, sem qualquer comunicação prévia à população.

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Esta ação, explica Abigail Ferreira, resultou na captura de um total de 32 cães. “Os moradores estranharam a ausência dos animais e enveredaram esforços para tentarem descobrir os seus paradeiros. Salientamos que a maioria são animais adoptados comunitariamente pelos moradores de uma zona, que pode constituir em uma rua ou várias, de um quarteirão, por vizinhos ou mesmo por uma só casa. Vivem com a comunidade de forma livre e muitas vezes fazem a segurança destas zonas. Existe uma função reciproca entre o cão e o humano.” 

No dia 16, uma pessoa deslocou-se ao canil na Ribeira de Vinha, espaço que estava desativado há muito tempo, e encontrou os cães trancados nas boxes, sem acesso a água e comida. “Rapidamente, um grupo de voluntários movimentou-se de forma a conseguir providenciar comida e água”, pontua, fazendo questão de afirma que o canil é aberto, sem espaço para sombra nas horas de maior incidência de sol e não dispõe de nenhum funcionário, excepto um guarda.  

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Promotores da Conferência de Imprensa: Mindelvet, Simabô, representante da sociedade civil e comunitária

Das dez boxes existentes, conta, oito estão ocupadas, sendo uma delas completamente sobrepovoada com oito animais. “Os cães foram colocados nas boxes sem qualquer critério, misturando doentes com vários machos, o que causa situações de guerra e de ferimentos entre eles”, detalha. Abigail garante que após a denºuncia nas redes sociais, a CMSV mandou entregar 4 kg de ração no canil no dia 17 de julho, para alimentar os 36 cães, tendo em conta que foram capturados mais quatro na Baía das Gatas. 

Maus-tratos

Desde então são os voluntários que têm estado a levar comida e água aos cães no canil, que não possui materiais de limpeza. Ou seja, os animais estão restritos a um espaço exíguo, sem limpeza, o que configura uma situação de maus-tratos.

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Entretanto, representantes da associação Simabô também estiveram no canil para retirar informações de chip e assim aceder às suas fichas de castração. Inconformados, deslocaram-se mais tarde à CMSV, mas foram informados que o vereador estava ausente e só estará disponível para uma possível audiência a partir da segunda-feira, 22 de julho. 

“Ora, numa situação em que os animais estão confinados, sem acesso a água e comida, a um veterinário e condições mínimas para o seu bem-estar, como pode uma instituição e um responsável negar reunir com urgência com pessoas dispostas a ajudar, a adoptar os cães e a donos que viram os seus animais apanhados e a passar por uma situação miserável destas?”, interroga Abigail, que se mostra ainda mais descontente porque, afirma, muitos donos, estão dispostos a recuperar seus cães. 

Esta cidadã reconhece que por todas as vilas do país constata-se a presença de cães nas ruas, em alguns casos em grande número. Esta situação, afirma, é consequência de fatores como a gestão ineficaz da população canina nacional, assim como as atitudes e hábitos pouco nobres da população. “Não se trata de um fenómeno unicamente cabo-verdiano. Muitos países passaram e ainda passam por esta situação com os cães e gatos. Durante séculos, a única opção de muitas sociedades foi o extermínio massivo e em Cabo Verde continuamos a assistir esta prática, condenada pelos cabo-verdianos e por inúmeras organizações que fomentam as boas práticas mundiais.”

Segundo Abigail, estudos revelam que as causas principais deste fenómeno são o abandono pelos donos e exposição à vida na rua. “Estudos apontam que métodos de extermínio massivo, além de serem do ponto de vista ético absolutamente inaceitáveis, demonstram ser não só custosos como totalmente ineficazes porque simplesmente matar os animais não tem efeito nas causas do fenómeno,” detalha, sugerindo de entre outras, a educação dos seres humanos para cuidar, tratar e amar os seus animais.

Recomenda o não abandono dos mesmos e a responsabilização dos seres humanos através da obrigação de registo, o controlo da natalidade por meio da esterilização e criação de regras nacionais aplicáveis à reprodução canina. A estes junta ainda a necessidade de se adoptar uma legislação que penaliza severamente os maus-tratos e o abandono de cães e gatos.

Neste contexto, os voluntários lançam um forte apelo à CMSV e ao vereador José Carlos para que se mostrem abertos ao diálogo com quem está disposto a ajudar. Apelam igualmente à humanidade da população nesta matéria, dizendo que a atual situação envergonha todos e representa uma situação de maus-tratos.  

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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