Quando, no dia 5 de julho de 1975, soprou a chuva da mudança e o arco-íris vermelho, amarelo e verde, guiado por uma estrela negra, embandeirou-se no céu de Cabo Verde, surgiu a promessa de um amanhecer florido de milhos e cada um de nós, alegremente “levantá braço pa gritá liberdade”. Todos unimos em torno de um sonho comum: construir um país livre e independente, onde a esperança era o fio que tricotava a nação, e a motivação o combustível que fazia pulsar o coração.
Por: Emanuel Spencer
Infelizmente, ao olhar para os tempos de agora, somos instigados a lamentar sobre a falta que faz a Cabo Verde, aquela motivação ardente que nos tempos de outrora nos uniu e nos guiou. A nossa independência, não foi apenas uma conquista política, mas um despertar de identidade, uma reafirmação do direito de um povo de traçar o seu próprio destino. Naquela época, a motivação não vinha apenas dos líderes, mas brotava da terra seca dos campos, das ondas revoltas das praias e da transpiração de cada cabo-verdiano q ansiava por um futuro melhor.
Hoje, CV encontra-se num novo contexto, enfrentando desafios diferentes mas, acima de tudo, enfrentando as consequências de uma tremenda crise de liderança. Ao que parece a globalização e as crises económicas, barafundaram as dinâmicas da política interna. Exige-se assim uma fórmula capaz de garantir a motivação de todos nestas ilhas, mas uma fórmula sem equações que adicionam a compra da consciência dos mais desfavorecidos, e que subtraem as opiniões dos mais esclarecidos. Precisamos de políticos com energia renovada, capazes de nos impulsionar para a superação das adversidades contemporâneas.
A falta da motivação de outrora é sentida em cada beco das nossas ilhas. É notória na nossa juventude que, embora talentosa e cheia de potencial, carece de uma estrela guia. É visível nos nossos imigrantes que, embora esperançosamente continuam a contribuir para o desenvolvimento do país, mas sentem a nostalgia e os efeitos de uma desconexão total.
Para reencontrar essa motivação, precisamos unir cada vez mais e cultivar uma visão comum capaz de inspirar e mobilizar todos os setores da sociedade. Precisamos de líderes que não governem com os olhos no próprio umbigo, mas que sejam capazes de inspirar e dirigir com coerência e responsabilidade. Precisamos, acima de tudo, da ressureição do espírito de solidariedade e de comprometimento com o bem comum. Essa motivação exige um esforço conjunto e um renascimento do orgulho nacional.
Não podemos aceitar que aquela motivação intensa que antes queimava os nossos corações se transforma numa brasa adormecida, sem a esperança de ser reacendida. Que cada cabo-verdiano, onde quer que esteja, sinta novamente o vibrar daquela motivação da independência que um dia nos fez sonhar e que agora tanta falta faz a Cabo Verde.