O médico Gilson Alves, que se encontrava em prisão preventiva há onze meses, vai aguardar o julgamento em liberdade. A alteração da medida de coação aconteceu hoje, data em que deveria começar o seu julgamento, e deve-se ao adiamento da sessão em resposta a um pedido da procuradora. Deste modo, a audiência foi reagendada para o dia 27 de junho. De acordo com o advogado do arguido, a outra parte anunciou que vai recorrer desta decisão do 1.º Juízo Crime do Tribunal da Comarca de São Vicente, um direito que lhes assiste.
Ao Mindelinsite, o jurista Armindo Gomes, novo advogado do ex-candidato a Presidência da República, explicou que, com a marcação da nova data, protestou porquanto o seu cliente ficaria mais tempo preso, defraudando a sua esperança de liberdade. “Requeri então soltura imediata do Gilson. O advogado de acusação não gostou, mas o juiz decidiu. Aliás, do meu ponto de vista, a medida de coação prisão preventiva não deveria ter sido aplicada há 11 meses. Foi muito excessiva”.
O causídico aproveitou para criticar a alegada “vulgarização” da prisão preventiva pelo Tribunal de São Vicente, quando esta deve ser a última medida de coação. “Em Cabo Verde sequer deveríamos aplicar prisão preventiva porque somos um país constituído por ilhas. Temos dificuldades para nos comunicarmos, que dizer de viajar para outra ilha ou para o exterior. Há pessoas enviadas para prisão preventiva que sequer têm passaporte, portanto, não há perigo de fuga.”
Questionado se, perante a acusação de tentativa de homicídio e porte de arma esta medida não se aplica, Gomes é categórico em afirmar que não foi o Gilson a disparar. “Temos a prova de uma testemunha de que, na altura em que foram efectuados os disparos, estava na companhia do Gilson. Por outro lado, não se encontrou a arma do crime e, felizmente, ninguém foi morto.”
Sem o autor directo do crime, afirma, é impossível acusar o médico Gilson Alves, sendo que este não esteve no local. Instado se foi este o argumento que utilizou no seu requerimento de soltura, o advogado nega. “Limitei-me a requerer a alteração da medida de coação, alegando que o meu cliente se encontrava preso há 11 meses. Foi o próprio Gilson que fez a sua defesa, dizendo ao juiz que nenhum minuto dentro de uma cadeia é bom para um ser humano.”
O advogado afirmou ainda que, com a marcação do julgamento, o seu cliente criou uma certa expetativa de que podia ser solto. “O juiz do 1º Juízo Civil, experiente e sensato, decidiu pela sua libertação. É a medida mais justa, até porque a toda a alegada dívida foi paga e os bens que estavam na posse de Jacinto Pereira foram entregues a um mandatário do Gilson. Por outro lado, não há provas de que o meu cliente foi o autor dos alegados disparos.”
Quanto à nova medida de coação, segundo o advogado, ficou estabelecido que até o julgamento, 27 de junho, o arguido Gilson Alves não pode, por nenhum motivo, se aproximar de Jacinto Pereira e seus familiares. “O meu cliente está solto, mas isso não quer dizer que não possa vir a ser condenado. Mas já pagou pelos 11 meses que esteve preso. E todo este tempo conta no processo.”
Gilson Alves é suspeito de ter efectuado disparos contra a residência de Jacinto Pereira, também conhecido por Djassa, mas alega inocência. Chegou a solicitar uma Audiência Contraditória Preliminar no mês de dezembro com o intuito de evitar o julgamento, mas o 1.º Juízo Crime decidiu pronunciar e leva-lo a julgamento pela alegada prática de três crimes praticados contra Djassa.