O Vindos do Oriente vai inspirar o seu desfile do Carnaval Mindelo 2020 no enredo “em busca da pedra filosofal”, uma “escolha inspiradora” que, segundo os carnavalescos Manú Ramos e Cláudio Miranda, abre uma possibilidade infinita de criatividade artística na elaboração dos carros alegóricos e indumentárias. O tema, que foi amplamente discutido entre os criativos e a direcção, é vista por Manú Ramos como uma aposta ousada do VO, que, diz, assumiu o desafio de viajar pelo infinito do espaço, do tempo e dos oceanos à caça da mítica pedra – um lendário objecto com poderes para transformar qualquer metal em ouro e criar o elixir da juventude eterna.
“Como se pode ver, é um tema interessante, com pano para manga. Todos os dias sofremos metamorfoses, alterações na nossa forma de pensar e espiritualmente. Ora, a busca pela pedra filosofal é uma forma de renovação. Mas, vamos contar essa mitologia à moda cabo-verdiana”, diz o artista, acrescentando que a ideia é retratar o tema como se fosse no cinema, com a célebre frase: “luz, câmara, acção”.
Segundo Cláudio Miranda, artista que trabalha pela segunda vez com o VO em parceria com Manú Ramos, o tema pode parecer uma visão holística complexa, mas é simples na essência. A mensagem final, frisa esse brasileiro, é que não será preciso viajar aos confins do universo para se descobrir as coisas a fundo. “O cabo-verdiano traz a essência no próprio coração através das histórias contadas pela Celina Pereira e do amor que é passado às gerações. Pois, o enredo é simples e fala do amor”, simplifica Miranda, que ficou satisfeito com o desfile que o Vindos do Oriente apresentou há dois anos e que foi, nas palavras dele, uma experiência assustadora, mas “maravilhosa”. “Foi num primeiro momento assustadora porque é outro carnaval, outra cultura, outra história, apesar de que o Carnaval é carnaval em qualquer lugar. No entanto tem uma característica própria aqui que temos de respeitar.”
O enredo do VO foi desvendado num jantar com direito a alguma dose de criatividade e surpresas. Durante a apresentação, o espaço foi invadido por um robot gigante iluminado com luzes led e, para aumentar a suspense, a apresentadora Josina Freitas “desceu” dos céus, transportada por uma grua. E enquanto descia declamava um “poema” inspirado na proposta que o grupo vai levar para o asfalto.
“Hoje abrimos um pouco o véu daquilo que queremos e vamos apresentar em 2020. O objectivo é nos próximos dias ir lançando mais pistas sobre o nosso desfile”, frisa Josina, que evitou dar dicas sobre como o VO vai abordar o tema em termos de alas e andores. Estas são informações que, diz, só serão reveladas nas vésperas do espectáculo.
“Neste momento, o mais importante era mostrar a essência do enredo. Como ficou aqui claro, vamos em busca da pedra filosofal, que representa o amor e o espírito”, revela essa dirigente desse grupo carnavalesco, realçando que o VO aposta sempre em enredos fortes e ganhadores.
O Vindos do Oriente terá a seu serviço a genialidade dos carnavalescos Manú Ramos, Cláudio Miranda e Fernando “Nóia” Morais, sendo que este último era o artista plástico de serviço dos campeões Cruzeiros do Norte. “Como se pode imaginar, muita coisa bonita vai sair dessas três cabeças”, enaltece Josina Freitas. O VO, prossegue, está decidido a deixar para trás a polémica que o opôs à liga dos grupos carnavalescos de S. Vicente (Ligoc-SV), e que descambou na sua recusa em competir no desfile oficial deste ano. A ideia, diz, é ultrapassar os conflitos, manter os pés no presente e o coração aberto no futuro, mas sem esquecer o passado.
O que o VO pretende, segundo a presidente Lily Freitas, é levar para o asfalto no dia 25 de Fevereiro um espectáculo luminoso, cheio de energia positiva. “Vamos amar e estar juntos”, apela a responsável do Vindos do Oriente.
A pedra filosofal
Reza a lenda que a Pedra Filosofal é um objecto ou substância com poderes além do imaginário, capaz de transformar qualquer metal em ouro. Um dos grandes desafios da Alquimia era exactamente criar essa pedra, cuja essência está relacionada com a transmutação e a vontade de criar que acompanha o ser humano.
A mesma poderia ainda ser usada para criar o Elixir da Vida, que tinha a propriedade de prolongar a longevidade da pessoa que o bebesse. Em termos teóricos, com a pedra filosofal era possível obter riqueza infinita e juventude eterna.
Kim-Zé Brito