O pátio do Centro Cultural do Mindelo em São Vicente encheu-se de gente, uma boa parte crianças de várias idades, para testemunhar o lançamento do livro “Aves introduzidas, migratórias e endémicas de Cabo Verde”, a segunda obra do fotógrafo Zé Pereira. Trata-se de um livro que fascina e surpreende pela força e colorido das fotos de espécies que parecem que vão ganhar vida e alçar voo, mas também pelas descrições e histórias por detrás de cada um dos clicks, algumas contadas na cerimónia pelo apresentador Tommy Melo e por José Melo, actual e antigo presidente do Biosfera.
Com chilrear de aves como música de fundo, coube a Lena Brito, esposa de Zé Pereira, acolher e explicar o livro que, segundo disse, resulta de um processo longo e que não foi fácil, mas foi feito a pensar nas crianças e para chamar a atenção para as aves endémicas existentes em Cabo Verde. Requereu esforço, dedicação e muita emoção. Sentimentos que Lena deixou transparecer ao recordar as primeiras tentativas do Zé de fotografar uma passarinha. “Ele enviou-me uma fotografia de uma sombra triste e dizendo que esta ave estava a troçar com ele, quando na verdade o equipamento não era o mais adequado e ainda não estava preparado para fazer a foto que queria. Mas isso não o desmotivou e, passado algum tempo, já com a técnica necessária conseguiu. E o resultado é o que vamos ver neste livro”, pontuou.
Tommy Melo focou na arte das fotos que, afirma, exteriorizam a bagagem emocional do fotografo. No caso, defende, o autor exterioriza no livro, a beleza, a suavidade, humildade e inocência. “Zé transporta-nos para um mundo silencioso, constituído por cores, formas e palavras. Devolve-nos um pouco daquilo que vamos perdendo a cada dia neste mundo agitado, cheio de ecrãs e tablets. Todos estamos muito ligados, porém nunca estivemos mais afastados. Incita-nos a levantar a cabeça e olhar para os lados para contemplar a vida que passa a nossa volta. Por isso, obrigada!”.
Para Tommy, o livro possui um repertório de momentos imortalizados, mas que fluem cheios de movimento e intenções, tendo em conta que o autor não se predispõe apenas a apresentar a natureza, como fornece informações validas e pertinentes sobre cada uma das espécies. Insatisfeitos, ainda quão genial pintor que de uma palete matiz algum se afugenta, deleita as pessoas com contos e encontros.
“A obra é muito clara ao mostrar a evolução como pessoa e fotografo. Como naturalista, o autor remete-nos ao caminho do aprendizado continuo”, junta, realçando que, por entre as fotos, Zé dá voz a uma bela história, dando alma a uma gentil e ordeira gente, no caso os pescadores de Sinagoga, que renunciaram ao lucro em nome da sustentabilidade do ecossistema, ao entenderem o que para muitos é tão difícil: a vida gera vida e do respeito por esta o equilíbrio, que tudo e todos necessitamos e buscamos.
José Melo, uma das poucas pessoas fotografadas no livro, parabenizou o autor pelo trabalho e disse sentir-se quase realizado com a presença das pessoas no lançamento, afirmando que, a obra imortaliza momentos que carrega dentro de si. Este não tem dúvidas de que este livro é um veiculo para sensibilizar a próxima geração. Por isso, desafiou o autor a fazer o lançamento na Assembleia Nacional, onde estão os políticos que fazem as leis, mas também para as Forças Armadas, Guarda Costeira e a Fiscalização.
Já Zé Pereira disse sentir-se feliz e altamente recompensado depois de todo o trabalho ao ver o espaço cheio de gente, principalmente de crianças. Agradeceu os vários colaboradores que o apoiaram, destacando a esposa, garantindo que se trata de um trabalho conjunto. “O objectivo que tracei de início foi fotografar todas as aves que podem ser observadas em Cabo Verde. Hoje tenho a noção de que tenho ainda muito trabalho pela frente. Neste livro capturei 36 espécies e, pela informação que tenho, incluindo as aves migratórias, existem mais de 200”, frisou, o que deixa a possibilidade de uma continuidade deste trabalho.
Para o autor, este trabalho tem sido um processo de aprendizagem, mas sobretudo de conscientização ambiental. O livro faz as pessoas reflectir, razão porque pediu para levarem as crianças para o seu lançamento, na expectativa de que estas façam mais pelo planeta do que a actual geração.
Constânça de Pina