A empresária Vera Pinto meteu um pedido de embargo à construção do Hotel Marginal, sob o protesto de ter havido mudanças no projecto inicial que começam a roubar a vista para o mar ao hotel Casa Branca, situado nas traseiras. Os trâmites ainda estão a decorrer no Tribunal de S. Vicente, mas essa gerente pretende obrigar a empresa Spencer Construções a respeitar os limites do esboço original, pois, para ela, não restam dúvidas de que o traçado e a volumetria do empreendimento turístico foram alterados, neste caso aumentados em largura e altura. Como consequência, o seu pequeno hotel poderá ficar prejudicado, com a falta de acesso visual à baía do Porto Grande, tal como dantes acontecia. “Para começar, todos sabemos que precisamos de hotéis em S. Vicente, mas também é certo que temos de respeitar as regras. Nunca fui contra esse projecto, mas, tal meu espanto, quando verificamos que apanharam 20 metros em frente ao meu estabelecimento, que não estavam previstos. Conversei com um topógrafo que veio da cidade da Praia e pedi-lhe para mostrar-me os limites da obra e ele disse-me para não me preocupar porque não seríamos afectados”, conta Vera Pinto.
Segundo esta gerente, quando levantaram o primeiro piso ficou descansada, apesar dos tais vinte metros que foram alegadamente acrescentados ao edifício, subtraídos ao jardim ali existente há vários anos. Porém, ao contrário do previsto, prossegue, o novo empreendimento começou a crescer também em altura e a tapar a vista da Casa Branca para o mar da baía do Porto Grande. Como consequência, hóspedes desse pequeno hotel que adquiriram quartos com vista para o mar protestaram e alguns chegaram mesmo a exigir a devolução do dinheiro pago. Outros, acrescenta, estão a cancelar as suas reservas por causa desse detalhe. Como revela a empresária, essa situação está a afectar a imagem, a honestidade e seriedade do seu espaço comercial, prejuízos que, a continuar, vão obriga-la a encerrar o estabelecimento.
“Entendo que devemos ajudar-nos e não tentar prejudicar o outro. Tirei o meu tempo para falar com o Eng. Spencer sobre a situação, ele prometeu que iria analisar o projecto e ver como devolver-me a vista, mas ele apenas enrolou-me durante quatro meses”, afirma Vera Pinto, que, adianta, não reagiu quando o projecto estava disponível para consulta pública porque nada previa tais consequências.
Desde que deu entrada ao pedido de embargo, Vera Pinto não se encontrou com o dono da obra e tão pouco com a Câmara de S. Vicente. Como diz, a Spencer Construções nem se mostra interessada em negociar. “Acha que está no seu direito, ponto final”, salienta a empresária, para quem todas as mudanças aconteceram com a conivência da Câmara de S. Vicente.
Conta Vera Pinto que, quando iniciaram a fundação do novo hotel – que está a ser construído na Avenida Marginal onde antes ficava o antigo Consulado Inglês – teve o cuidado de informar a empresa construtora que racharam as paredes do escritório e recepção do hotel Casa Branca. “Sequer enviaram alguém para ver e rectificar o que danificaram. Esta é a verdade e não tenho outra forma de falar”, desabafa.
Segundo Vera Pinto, ninguém, e muito menos ela, tem interesse em embargar a construção do Hotel Marginal. A acontecer, diz, isso iria obriga-la a ter à sua porta uma obra inacabada, o que em nada condiz com o turismo. Contudo, entende que não tem outra alternativa, caso queira impedir o encerramento do seu pequeno espaço, que emprega 12 pessoas e funciona desde 2015.
Hotel Ponte d’Agua
Curiosamente, algumas pessoas acusaram essa empresária de ter também bloqueado a vista da cidade do Mindelo para a baía do Porto Grande desde que decidiu transformar o espaço panorâmico Ponte d’Agua em hotel. Confrontada com essa crítica, Vera Pinto afirma que, nesse caso, muita gente criticou sem conhecer o projecto. “Viram a construção da recepção e pensaram que iria aumentar a altura da obra. Só que nem sabiam que já havia iniciado a construção dos quartos no interior. Na verdade, a recepção ficou cerca de um metro mais alto que as lojas da fachada, mas não vai subir mais”, assegura a empresária, deixando claro que não tem nenhum interesse em tapar o panorama da marginal do Mindelo.
“Prefiro o Ponte d’Água bonito como era, só que não estava a conseguir rendimentos. A única forma era alugar o espaço para festas, com todas as dores de cabeça que isso me provocava por causa das reclamações. A melhor opção foi transformar o espaço em hotel”, esclarece Vera Pinto, que meteu o seu projecto na Câmara de S. Vicente há quatro anos. Só agora conseguiu autorização para construir.
O hotel Ponte d’Água, assegura essa gestora, terá 32 quartos de alto standing, ginásio de fitness, três restaurantes, sala de reunião, tudo com elevado padrão de qualidade. A inauguração está prevista para antes do verão deste ano.
Por diversas vezes o Mindelinsite tentou fazer o contraditório com a Spencer Construções. Tanto o serviço administrativo da empresa na cidade do Mindelo como o Eng. João Spencer ficaram a saber do motivo da reportagem. Tentamos marcar entrevista com o referido responsável da construtora, mas nunca atendeu as nossas chamadas e sequer respondeu a uma mensagem sms enviada para o seu telemóvel. Mesmo assim, este jornal continua disponível a ouvir a sua versão dos factos, caso haja interesse.
Kim-Zé Brito