“Gentalha ou GenteQueBatallha”: Uma marcha de resiliência em resposta ao preconceito

Nos últimos dias, após comentários considerados racistas da advogada Suzana Garcia numa televisão portuguesa com larga difusão em Cabo Verde, as redes sociais tornaram-se no palco para os indignados rebaterem tais declarações. De Gentalha, a expressão ganhou novo peso, nova designação e até mesma uma rima: Gente que batalha.

Uma gentalha unida, que não se deixa abater por comentários maldosos, porque, como diz o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, ser cabo-verdiano “é força, é determinação, é resistência, é resiliência, é amor, é amizade, é música, é poesia, é mar, é vulcão, é crioulo, é orgulho e nação”. 

Exclama, no seu orgulho de pertencer a esta nação, onde o foco deve-se manter no positivo, seja qual for as circunstâncias. “Onde quer que estivermos estaremos sempre por direito próprio e nunca ninguém nos definirá senão nós próprios. Nossa dignidade jamais poderá ser afectada ou ferida por quem claramente nos desconhece”, acrescenta o governante.

É assim também que se sente Alexon Inocêncio. Taxista de profissão, este considerou a participação da advogada muito infeliz. “Foi um momento triste, todos sentimos pelo acontecimento e não esperávamos que uma pessoa com tal formação académica fosse tão sem noção do que é ser gentalha. Se é para ser parecida com ela, com uma mentalidade pobre, então prefiro dez mil vezes ser gentalha”, enfatiza Inocêncio.

Outra jovem, Joseline Rocha, pediu apenas que as pessoas não generalizem a opinião da comentadora como sendo de todo o povo português. “Com certeza não representa a sua nação que, sem dúvida, também está cheia de boa gente e isso não se trata de uma guerra entre dois povos, mas sim uma luta pela justiça e contra a maldade do ser humano. Não se motivem pelo ódio e não se contaminem por essa senhora que é digna de pena.

No entanto, Marco Rendall, produtor de vídeos, pensa que a expressão “gentalha” não foi usada por acaso. Para este mindelense, por estar num programa televisivo, em direto, a comentadora Suzana Garcia queria audiência, sendo polémica, ou mesmo “dar canal”. 

A criatividade deste povo, para Rendall, é a melhor resposta neste momento. Este assegura que os cabo-verdianos querem apenas justiça pela morte de um jovem que batalhava pela vida, mas que infelizmente foi interrompida. “Se somos gentalha por querermos justiça, então que sejamos, até que a situação seja esclarecida”, sublinha.

Desta forma, Rendall apoia-se no Dino de Santiago que uniu ”Gente + Batalha” , resultando na expressão “gente que batalha” para definir o povo cabo-verdiano. E, num coro de indignação, a portuguesa Carolina Deslandes citou Dino, numa canção que fez e publicou nas redes sociais.

Um movimento “Gentalha, #Gentequebatalha” surge para driblar o preconceito e como forma de pedir justiça por Giovani dos Santos Rodrigues, de 21 anos, cabo-verdiano da ilha do Fogo, que estava há 2 meses em Portugal a estudar no curso de Design de Jogos Digitais, no Instituto Politécnico de Bragança. Foi brutalmente agredido por cerca de 15 jovens na madrugada de 22 de Dezembro e morreu dez dias depois nos cuidados intensivos do Hospital de Santo António, no Porto. 

Sidneia Newton (Estagiária)

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