O presidente da Nasce e Renasce- Associação Juvenil em Portugal, Hugo Correia Monteiro, deixou transparecer, nesta entrevista ao Mindelinsite a existência de “muita pobreza disfarçada e escondida” no seio das comunidades imigradas em Portugal, entre as quais, a cabo-verdiana. Deu conta, por exemplo, de famílias que, neste momento, têm “vergonha” de mostrar as dificuldades e carências que estão a atravessar provocadas pela situação sanitária que se vive devido ao Covid-19.
—Por João A. do Rosário—
Jovem de origem cabo-verdiana, Hugo Monteiro afirmou que a Associação já apoiou mais de 600 famílias, oriundas de várias nacionalidades, entre elas 200 agregados de proveniência “crioula” com bens alimentares, produtos de higiene e limpeza, medicamentos, transportes, pagamento das faturas do gás, eletricidade e água e produtos de segurança e prevenção. “Entre estas pessoas figuram muitas famílias que estão envergonhadas devido a situação de carência porque passam neste momento. Acredito que isso se deve ao facto de não o estarem habituadas, daí as dificuldades na solicitação de pedido de apoios”, fez saber Hugo Correia.
Em um balanço desses dois meses em que estão envolvidos em campanha solidária, Correia sublinha a ideia ter surgido da iniciativa de três músicos brasileiros, no caso Roberto Souza, Jefferson Negreiros, Rodrigues, que inicialmente criaram o movimento ” Ajude a Ajudar Portugal “ com o objetivo de apoiar músicos em dificuldades.
O líder da “Nasce e Renasce” conta que, posteriormente, estes mesmos elementos arregaçaram as mangas para, em conjunto com a sua Associação, enfrentar a pandemia do COVID-19. Conseguiram recolher bens alimentares que foram entregues as famílias de músicos e cerca de 25 agregados carenciados do Concelho da Amadora, doentes evacuados de Cabo Verde, da Guiné Bissau, São Tome e Príncipe e ainda ajudar vários desempregados.
“Ate ao momento apoiamos 200 famílias cabo-verdiana com alimentos e doentes evacuados de Cabo Verde que se encontram em residências a cargo da Embaixada e que são geridas pela Associação Maense em Portugal” anotou Hugo Monteiro, acrescentando que, a estes se juntam também 50 famílias de etnia cigana,15 romenas, 150 portuguesa, 35 guineense, 38 são-tomenses, 20 brasileiros e 10 angolanos.
Este jovem, filho de pais cabo-verdianos, indicou ainda que, juntos, conseguiram para além dos produtos já mencionados, materiais informáticos como computadores, impressoras, tinteiros e ainda papéis com os quais conseguiram ajudar os alunos, crianças e jovens, provenientes de famílias carênciadas na elaboração dos trabalhos escolares.
Apoios a infetados com COVID-19
Aquele líder associativo juvenil referiu ainda aos apoios concedidos a algumas famílias com pessoas contaminadas com coronavírus pela Associação Nasce e Renasce, desde que ficaram de quarentena. Neste caso, cooperaram com um grupo de voluntários que distribuiu alimentos confecionados ou os géneros para os próprios cozinhar a própria refeição.
Também procederam a compra de medicamentos, pagamento das faturas de água, gás e luz. E, sempre que se mostrava necessário disponibilizam apoio psicológico para estas mesmas famílias, sendo que neste caso, segundo Monteiro, só foi possível devido a pronta colaboração que a Nasce e Renasce recebeu de organizações, instituições, empresas e pessoas individuais.
Em relação aos estudantes, Hugo Correia fez saber ainda que a “Nasce e Renasce” procurou saber sobre a situação por que os discentes estavam a passar e sobre as suas necessidades e colocou a sua disposição a campanha “Solidariedade COVID-19”, criada em conjunto com Associação Maense .
Monteiro disse ainda que com o resultado desta campanha a realizar em parceria com a AMP serão adquiridos bens alimentares, medicamentos, produtos de higiene e limpeza, material de prevenção contra a COVID-19. Proceder-se-ão ainda ao pagamento de faturas e aquisição de alimentos e produtos para crianças. “Estivemos em contacto com um estudante que entrou em contacto connosco que ficou encarregue de nos entregar uma lista de estudante que precisam de apoio, e ate ao momento não recebemos qualquer indicação”, sublinhou Hugo Correia Monteiro.
Este jovem deu, igualmente, a entender que contou ainda com a parceria de Djass-Associação de Afrodescendentes no valor de 100 euros, valor esse, de acordo com a Nasce e Renasce, reverteu-se a favor de três famílias na compra de bilhas de gás, produtos alimentares para crianças e fraldas.
Hugo Monteiro anunciou, por outro lado, que tencionam ainda entregar na última semana cerca 100 cabazes com alimentos, legumes, frutas, material de higiene e limpeza, material de prevenção COVID-19. “A partir dai iremos ver aquelas famílias mais vulneráveis e desempregados para que essas possam ter um apoio continuo, no combate a pobreza através das Câmaras Municipais, Banco Alimentar, Junta de Freguesias, instituições e organismos oficiais”, acrescenta este dirigente associativo, realçando que, durante estas ações, a “Nasce e Renasce” contou com apoio de 40 voluntários.
Quem somos?
A Associação “Nasce e Renasce”, que pretende ainda entregar antes do final deste mês mais de 100 cabazes aos carenciados, é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo a promoção cultural, a formação e a aprendizagem, o desporto e atividades recreativas. Preconiza ainda o apoio social direcionados a uma população maioritariamente jovem, extensível também aos adultos em geral e à terceira idade e nas diversas frentes socio-culturais.
Paralelamente, contribui para uma maior integração dos cidadãos imigrantes na sociedade de acolhimento, através de uma rede de serviços específicos, prestando apoio a pessoas com carências alimentar, de saúde e na promoção para o bem-estar das famílias. Elege ainda como prioridade diminuir o número de cidadãos, famílias e grupos em risco ou em situação de exclusão, promover e capacitar para a sua integração socioprofissional, a par da criação de condições que possibilitam o exercício do seu direito de cidadania. Disponibiliza-se também a apoiar os cidadãos no desempenho das suas funções e responsabilidades bem ainda a sua participação social e integração na vida ativa.
A Associação acompanha, igualmente, no dia-a-dia doentes evacuados dos países dos PALOPS, fazendo visitas nos hospitais, apoio nas consultas de rotinas e nos tratamentos.