As paredes externas do Clube Ténis do Mindelo, situado junto ao mercado da Praça Estrela, começaram a ser embelezadas ontem à noite com pinturas coloridas, inspiradas no quotidiano mindelense e em figuras desportivas ligadas à modalidade do Ténis, por iniciativa do ex-emigrante Baltasar Andrade. Os trabalhos envolvem 22 artistas, que, à semelhança dos desenhos executados nas garagens da CMSV em Monte Sossego, vão expor a sua arte nessa enorme tela de betão armado, com o intuito de valorizar esse património e transformar a baixa da cidade do Mindelo numa atracção turística.
“Esta obra vem valorizar o nosso clube. Já fizemos algumas intervenções no interior, mas, se queremos atrair pessoas para este espaço, temos também de dar uma outra imagem à parte externa”, diz Didi, presidente do referido clube, que enaltece ainda o facto de a obra homenagear tenistas que deram o seu contributo para o desenvolvimento desse desporto na ilha de S. Vicente e em Cabo Verde. Para este também jogador, a iniciativa coincide com os planos de dinamização do clube, razão que o levou a aceitar o desafio lançado por Baltasar Andrade, que, relembra, tem uma forte ligação com o ténis.
Balta, como é conhecido, confirma que é menino crescido no campo de ténis. “O meu umbigo está lá dentro. Comecei a jogar aos cinco anos de idade até o dia que sofri um acidente nos Estados Unidos e parei”, revela este mindelense, que colocou a si próprio o desafio de embelezar o exterior do espaço, cujas paredes estavam a apodrecer a olhos vistos.
“Este clube vai completar 100 anos, é um património histórico desta cidade, e incomodava-me ver o estado em que estava. Por isso decidi que iria mexer os cordelinhos e conseguir meios para fazer algo parecido com a pintura das garagens em Monte Sossego”, conta Balta, que teve a sorte de encontrar na empresa Sita uma parceira de braços abertos. “Quando expliquei a ideia à delegada, ela disse-me: ‘vamos embelezar Mindelo, mas com a nossa tinta! Fui logo invadido por uma onda de motivação.”
A empresa, segundo Balta, prontificou-se a fornecer a matéria-prima que permitiu preparar a parede e a tinta. O resto, diz, está nas mãos dele, dos artistas, dos cidadãos, da Câmara e de todos aqueles que amam Mindelo e acreditam no valor dessa exposição artística. “Podemos fazer muita coisa boa em S. Vicente se cada um ajudar iniciativas do género. Quero também agradecer a pronta disponibilidade do Mindel Insite em fazer esta reportagem porque este jornal tem mostrado um compromisso sério com esta ilha”, salienta o ex-emigrante.
Para Balta, este segundo desafio é diferente por causa da localização do espaço, por estar ligado ao desporto e à sua história pessoal. E porque a tela é o campo de ténis, frisa, nada mais justo que homenagear figuras como Hernesto Medina – pessoa que lhe ofereceu a primeira raquete quando tinha 12 anos -, Lulú, Eurico, Tony Marques, Moacyr Rodrigues, todos eles “ícones do desporto mindelense”.
As paredes do clube, segundo Cacao, estavam esburacadas e com infiltração, pelo que tiveram de gastar algum tempo para colocar a tela nas devidas condições antes de receber as pinceladas. “Tudo indica que há trinta anos que a parede não tinha recebido uma pintura condigna. Mas agora vai ficar um brilho”, comenta esse desenhista, que se prontificou a associar a sua arte a mais esta iniciativa do amigo Baltasar. Para ele, este é mais um gesto de amor por S. Vicente e que envolve mais de vinte artistas de grande qualidade.
Cada pintor terá direito ao seu espaço para fazer o seu desenho. As pinturas deveriam começar em força amanhã, mas já ontem à noite uma dupla deu o pontapé de saída. A expectativa de Cacao é que a obra fique pronta dentro de três semanas.
Kim-Zé Brito