O Primeiro-ministro descreveu o percurso resiliente de Cabo Verde na sessão oficial de abertura das comemorações dos 50 anos da independência, no Centro Nacional de Artesanato e Design (CNAD), num dia simbólico da representação da democracia e da liberdade conquistada no dia 25 de abril em Portugal. Uma referência partilhada, porque também impulsionada pelas lutas de libertação nacional nos vários países africanos de língua portuguesa. Ulisses Correia e Silva mostrou-se entretanto confiante que o arquipélago pode e consegue vencer nos próximos 50 anos.
O Chefe do Governo fez estas afirmações na abertura dos festejos da independência, sob o lema “Cabo Verde, Nôs Orgulho, Nôs Futuro”, ato testemunhado por deputados da Nação, presidente da AMSV, representante do Sistema das Nações Unidas e Secretário Executivo da Comissão Organizadora das Comemorações dos 50 Anos da Independência. Uma idade bonita, frisou, de um percurso de uma nação resiliente e que projecta o futuro com confiança.
“Comemoramos e celebramos 50 anos de país independente. Fizemos combates pela democracia, pela liberdade e pela dignidade da pessoa humana. E conseguimos, em 13 de janeiro de 1991, erigir em Cabo Verde uma democracia liberal-constitucional respeitada no mundo. Tivemos que emigrar por razões difíceis de vida, de sobrevivência”, pontuou, destacando a diáspora cabo-verdiana nos vários cantos do mundo, parte integrante da nação e que amplifica o território nacional e é um orgulho do país.
“Fomos um país muito pobre. Passamos fome e morremos de fome. Lutamos contra secas, resistimos e progredimos. Somos hoje um país de rendimento médio e estamos bem posicionados para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O vento e o sol simbolizavam as estiagens. Hoje representam recursos naturais para a produção de energias renováveis e para a redução da nossa dependência de combustíveis fósseis. O mar simbolizava a partida e a saudade. Hoje representa turismo e economia azul”, descreveu em tom poético.
Para o PM, a localização coloca Cabo Verde longe, mas as conectividades, os transportes e a internet trazem o país para perto e integra-o no resto do mundo. “Este percurso de nação resiliente é motivo para termos orgulho, acreditarmos e reforçarmos a confiança em nós e no país. Temos o percurso de uma nação pequena, que se afirma pelos seus músicos, homens de letras e de artes, desportistas nos vários parques do mundo, que às vezes espanta quem vê e retrata o país pela sua dimensão territorial e pela sua população. Este país pequeno consegue estar num mundial de basquetebol, num mundial de andebol, consegue competir em igualdade de circunstâncias na Copa das Nações Africanas.”
Defende Correia e Silva que Cabo Verde é muito mais do que os 500 mil habitantes, com desafios de um pequeno Estado insular em desenvolvimento, com elevadas vulnerabilidades económicas, ambientais e climáticas. Mas deixa claro que estas vulnerabilidades já foram maiores. “Esse mesmo Cabo Verde, de cinco séculos e meio atrás, e durante todo o seu percurso esteve frente a estas vulnerabilidades, que na noção de hoje conseguiu ir-se superando e transformar coisas que eram difíceis, tinham simbolismos negativos, hoje em fatores de transformação e de desenvolvimento.”
A prova, prossegue, é a capacidade do país de exportar e criar empregos, através do desenvolvimento sustentável, não só do turismo, mas da economia azul e da digital. Através da redução da dependência à energia convencional e da vulnerabilidade relativamente à água, e mostrou que o desenvolvimento se faz com capital humano, institucional e tecnológico. “Quando olhamos para o percurso de um país 50 anos independente, para o ponto de partida de 5 de julho de 1975 e a realidade de hoje, temos que acreditar que conseguiremos vencer a pobreza e garantir a qualidade de vida para os cabo-verdianos.”
Já o embaixador de Portugal, João Luís Queirós, evocou a “Grândola Vila Morena”, palavras lançadas por um locutor de radio a 51 anos e que levou centenas de jovens soldados nas ruas de Lisboa para dar liberdade a Portugal. Lembrou ainda que muitos dos soldados já tinham estado nos anos anteriores nas matas da Guiné-Bissau a combater jovens cabo-verdianos e guineenses que lutavam pela liberdade dos seus povos. “Ali, muitos deles compreenderam que a incapacidade do regime português de negociar a descolonização, de avançar com reformas para democratizar o país e garantir os direitos de todos, portugueses e africanos, exigia um golpe de força para mudar o Estado a que tínhamos chegado, como nessa noite, o Capitão Salgueiro Maia.”
Estes soldados, sublinhou, levavam nas suas mochilas duas palavras simples, mas completas, liberdade e dignidade, oferecidas aos portugueses e depois tomadas em mãos e defendidas e acarinhadas por estes nos dias e anos seguintes. E agora se celebra o cinqüentenário de um lado particularmente importante desse processo, o das primeiras eleições livres e universais. “Mas se os portugueses conquistaram nesse dia a liberdade, os povos africanos viram então reconhecida também por Lisboa a autodeterminação que já tinham conquistado pela sua própria luta”, constatou. E meio escudo depois, Portugal e Cabo Verde, duas nações soberanas e iguais, partilham os valores da liberdade, da dignidade de todos os homens e mulheres, do Estado de Direito, da democracia, da igualdade de direitos, acrescentou.
O presidente da CMSV e anfitrião apresentou as boas-vindas e falou da importância destacar datas como 05 de Julho e 13 de Janeiro abrem uma janela sobre o presente e constroem uma consciência identitária, que vai se reforçando por gerações. “Cada dia 05 de julho, oferece-nos uma oportunidade para refletirmos e lançar um olhar profundo sobre o tempo, a sua passagem e aquilo que mudou à nossa volta,” disse A. Neves, que elencou ainda temas como as potencialidades não esgotadas do Poder Local, a descentralização, as autarquias supras e infra-municipais e a regionalização, que precisam ser aprofundadas.
Terminou lançando um forte apelo para que a independência, a liberdade e a democracia signifiquem inclusão e bem-estar para todos os cabo-verdianos. Antes, o Governo assinou protocolos com Atlantic Music Expo/Kriol Jazz Festival, Mindelact e Juventude em Marcha e um concerto a quatro mão com o artista Jorge Humberto. Mais tarde, o PM e comitiva visitaram a exposição sobre o 25 de Abril, no Centro Cultural de Mindelo (CCM), onde se realizou uma sessão de “Poesias da Liberdade” com a Associação Artística e Cultural Mindelac, seguido do concerto comemorativo na rua de Lisboa.