A facturação média por trabalhador em Cabo Verde em 2017 foi de longe superior em São Vicente, revela o 5º Recenseamento Empresarial tornado público pelo INE. Isto significa, conforme um técnico do Instituto Nacional de Estatística, que, em média, os trabalhadores mindelenses produziram mais em relação às restantes ilhas, o que, a priori, deita por terra a ideia alimentada por determinados actores de que os mindelenses são “preguiçosos” e querem só paródia e festa. Aliás, esses dados não surpreenderam o Secretário-Geral da Câmara de Comércio de Barlavento.
Os resultados alcançados por esse estudo não surpreenderam, no entanto, o Secretário-geral da Câmara de Comércio de Barlavento, Adriano Cruz, que faz, mesmo assim, uma ressalva. É que, para ele, é preciso ter atenção ao se ajuizar o impacto dos parâmetros seguidos, tendo em conta os recursos utilizados, que podem ser mão-de-obra, capital, energia, material e outros.
Adriano Cruz explica que a produtividade é uma medida de eficiência ou de rendimento de uma ou de um conjunto de empresas e, como tal, é a razão entre o que se obtém e o que se fornece para o obter. “A produtividade pode ser entendida como um quociente entre o que uma empresa produz – bens e/ou serviços – e o que consome, ou seja, tudo o que é necessário para o obter. Representa a eficiência com que se usam os recursos para produzir os produtos. Como são vários os recursos que são utilizados para se produzirem os produtos, então pode se dizer que a produtividade é igual a soma do valor ou unidades de produtos e dos recursos utilizados para conseguir essas unidades de produtos num determinado período de tempo.”
Os recursos utilizados podem ser mão-de-obra, capital, energia, material e outros. Mas, de entre esses, segundo o mesmo, a forma mais comum de se medir a produtividade é a mão-de-obra, o recurso mais importante das empresas. “A produtividade em relação à mão-de-obra resulta da equação simples: P=0/R1, onde o O representa o valor ou as unidades de produtos produzidos e o R1 as unidades de mão-de-obra, por exemplo, horas por trabalhador. Assim, a produtividade de uma ilha – região ou país – pode ser medida por duas vias. Na primeira teríamos a formula PB=PIB/PE, cujas siglas significam Produtividade Bruta (PB) igual a Produto Interno Bruto (PIB) por Número de Pessoas empregadas. A segunda PB=PIB/HT, que significa Produtividade Bruta igual a PIB por Número de Horas de Trabalho. No primeiro caso, a produtividade obtida traduz o valor dos produtos produzidos, em média, por cada pessoa empregada e, no segundo, esta reflecte o valor médio produzido por cada hora de trabalho.”
Desempenho económico das ilhas
Segundo Cruz, esta medida de produtividade é adequada em termos macro-económicos se se pretende comparar desempenhos económicos de diferentes regiões/ilhas, ou simplesmente se o objectivo é ver a sua evolução ao longo do tempo. Porém, reaça, pode ser pouco eficaz na medida da produtividade de uma empresa . “Vamos admitir que, por imposição do mercado, o preço de um produto se mantém constante ao longo de um período de tempo e o custo das matérias-primas e da energia aumenta em igual período. Neste caso, se a produtividade física (número de produtos fabricados por horas) se mantiver, a produtividade bruta diminui, pois o valor acrescentado diminui. É por isso que digo que esta forma de medir a produtividade pode ser pouco eficaz para medir a evolução da produtividade da mão-de-obra de uma empresa.”
Já quanto à produção do conhecimento, entende que esta medida de produtividade pode ser interessante pois reflecte o peso do custo da mão-de-obra no PIB. Neste caso, esta produtividade quantifica o valor dos produtos produzidos por cada escudo pago em salários. Isso porque, para se aumentar a produtividade de uma economia é preciso entender alguns pontos essenciais. “A produtividade bruta, aquela que é usada para comparar o desempenho económico de ilhas, países e regiões depende de dois factores. Por um lado, da produtividade física, por exemplo do número de produtos por empregados, mas também depende do valor acrescentado dos produtos fabricados. Teoricamente, uma ilha/país pode ter uma produtividade bruta à custa da física, enquanto que um outro pode tê-la à custa do valor dos seus produtos, caso da ilha do Sal onde, segundo este estudo, encontram-se as empresas mais produtivas.”
Facturação versus mão-de-obra
Menos detalhista, Fernando Rocha (INE) limita-se a dizer que, ao falar da facturação, o INE está a referir-se ao volume de negócio que as empresas conseguiram produzir durante o ano. “Neste caso, a informação do 5º Recenseamento Empresarial indica que a ilha do Sal teve uma maior facturação média por empresas em 2017, refere-se tão-somente ao total do volume de negócio, dividido pelo número de empresas activas na ilha. É esse mesmo cálculo que utilizamos para apurar a facturação média por trabalhador. Ou seja, tem a ver com o volume de negócios para o número de pessoas ao serviço que cada uma das ilhas empregou. O resultado mostra que os trabalhadores de São Vicente produziram mais. É a mão-de-obra que faz as empresas facturar. E, no caso, os trabalhadores de São Vicente produziram muito mais, comparativamente aos da Brava, por exemplo. Os números não deixam dúvidas.”
Este técnico do INE recusa, no entanto, dizer se o pessoal ao serviço em São Vicente cumpriu mais horas de trabalho, alegando que foi analisado apenas a facturação e o número de trabalhadores por ilha durante o ano de 2017. E é o resultado desta equação que permite dizer, sem sobra para dúvidas, que a facturação por trabalhador foi maior nesta ilha. Fernando Rocha prefere, entretanto, evitar esmiuçar a ideia de que os sãovicentinos são preguiçosos e que querem só festa. Para ele, esta é outra questão, talvez resultado de um outro tipo de levantamento. “O que posso dizer é que, de caso, as empresas em São Vicente tiveram uma maior facturação média por trabalhador e que as da ilha do Sal tiveram uma maior facturação média”, ressalva.
Em números, o estudo do INE mostra que São Vicente teve em 2017 uma facturação média por trabalhador de 5.892 contos/ano. Em Santiago, essa cifra ficou-se pelos 4.813 contos por trabalhador e no Sal atingiu os 4.633 contos. A ilha da Boa Vista teve uma facturação média de 2.135, enquanto que as restantes ilhas ficaram abaixo dos 2 mil contos. Brava foi o mercado com menor facturação por trabalhador, apenas 1.215 contos.
No tocante à facturação média por empresa, Sal destaca-se com 49.562 contos/ano, seguida por São Vicente com 42. 202 contos e Santiago com 29.709 contos. Boa Vista conseguiu facturar em média 14.663 contos, sendo que todas as restantes ilhas ficaram abaixo dos cinco mil contos, excepto Santo Antão que atingiu os 5.018 contos.
Este levantamento realizado pelo INE revela ainda que, em 2018, existiam em Cabo Verde 11.061 empresas, representando um acréscimo de 9,5% face a 2013. Destas, 9.985 estavam activas em 2017. As empresas empregavam 63.286 pessoas, sendo que 58,6% eram homens e 41,4% mulheres. Sal e Boa Vista foram as ilhas onde ocorreu um aumento maior do número de pessoas ao serviço, comparativamente ao ano de 2012. A estatística mostra ainda que o volume de negócios gerado neste período foi superior a 290 milhões de contos, representando um acréscimo de 15,7% em relação ao ano de 2012, e que a ilha do Sal foi onde houve mais crescimento.
Constânça de Pina