O preço do álcool e do álcool-gel vendidos nas farmácias em São Vicente disparou desde o início da pandemia do novo coronavírus. Uma breve pesquisa mostra que, em alguns casos, o aumento do álcool 70%, por exemplo, quase que duplicou, tendo aumentado de 115 escudos no início de março para 225 escudos por estes dias. Já um frasco de álcool-gel pode ser comprado por mil escudos nas lojas e farmácias. O PCA da Emprofac confirma este aumento que, afirma, resulta da compra – quer no mercado interno, quer no exterior – por valores superiores aos habituais.
Estas denúncias chegaram ao conhecimento do Mindelinsite através de utentes que se mostram revoltados com o “aproveitamento” que, afirmam, as farmácias, lojas e mercados estão a fazer da situação, numa altura em que as autoridades recomendam repetidamente o uso de álcool e álcool-gel na higienização das mãos e superfícies de uso frequente, nomeadamente maçanetas, telemóveis, etc. “Não se compreende o porquê das farmácias aumentarem tanto o preço destes dois produtos essenciais, sobretudo porque o Governo, através da Inspeção das Actividades Económicas, advertiu para a manutenção dos preços dos produtos”, desabafa um utente.
Numa breve ronda pelas farmácias da ilha foi possível confirmar a veracidade da informação. Os preços são iguais em todas as unidades , o que levanta dúvidas sobre uma combinação de preços ou ausência de concorrência, sempre em desfavor dos utentes. Por outro lado, as farmácias vendem apenas uma unidade de álcool, seja de 70 ou 90%, a cada cliente.
O presidente do Conselho da Administração da Emprofac – empresa responsável por garantir a importação, comercialização e distribuição de medicamentos e produtos farmacêuticos para as farmácias, hospitais e outras estruturas de saúde – justifica com aumentos de preço nos fornecedores. “Por causa da pandemia, Portugal proibiu a exportação do álcool. Para não ter ruptura de mercado, tivemos de recorrer a um fornecedor interno, que cobrou um preço mais alto do que aquilo que estávamos acostumados a pagar. Foi por isso que houve este aumento. Não sei de quanto, mas penso que ultrapassa os 100 escudos”, explica Gil Évora.
Este responsável garantiu, no entanto, que a situação deverá normalizar em breve porque Portugal abriu recentemente uma pequena brecha, que permitiu o envio de dois contentores com álcool, que deverão sair daquele país em finais deste mês e chegar a Cabo Verde na primeira semana de maio. “A decisão de Portugal de proibir a exportação do álcool está assente numa directiva da União Europeia. Mas, logo que este contentor chegar ao nosso país, acredito que o álcool vai voltar ao preço anterior. Porque é com este álcool que a Inpharma vai produzir álcool-gel”, tranquilizou.
Quando aos valores praticados neste momento para o álcool 70% e álcool 96%, de acordo com Gil Évora, trata-se de um lote trazido de Portugal pela Inpharma, que possivelmente terá encontrado algum fornecedor disposto a desrespeitar esta directiva, mas por um preço superior. Esta canalizou a encomenda para a Emprofac para comercialização. “Neste caso, segundo informações da Inpharma, houve alteração de preço no fornecedor. Entre não ter ou ter por um preço superior, terão optado por pagar mais e abastecer o mercado, ainda que pagando mais”, clarificou, deixando claro que, no caso dos novos preços destes produtos, não há especulação. “De facto, temos trabalhado com a IGAE e, tanto esta inspecção como a Emprofac, têm estado muito atentos para evitar que haja especulação de preços”, acrescentou.
Incentivos para baixar preços
O PCA da Emprofac garantiu, no entanto, que a empresa que gere apresentou uma proposta ao Governo para eliminar a incidência do Imposto Sobre Valor Acrescentado (IVA) sobre o álcool e também sobre as máscaras para permitir que estes sejam vendidos a preços mais acessíveis. Sobre este particular, recorda-se, ontem, na sua declaração à Nação, o Primeiro-ministro anunciou a atribuição de incentivos às empresas nacionais que vão produzir máscaras por forma a que os preços sejam mais acessíveis, tendo em conta o seu uso generalizado pós-Estado de Emergência.
Ulisses Correia e Silva garantiu que estes incentivos visam dotar o país de um bom stock de máscaras cirúrgicas, profissionais e comunitárias para os próximos seis meses, tendo em conta a obrigatoriedade do uso nos espaços de atendimento ao público, incluindo nos transportes públicos de passageiros – aéreos, marítimos e rodoviários -, portos e aeroportos. O PM indicou ainda que vão também ser criados incentivos para produção e comercialização de gel desinfectante, sendo que uma proposta de lei neste sentido deve dar entrada esta terça-feira no Parlamento.