A indústria seguradora também sofre os efeitos adversos que começam a afligir a economia cabo-verdiana, mas deverá desempenhar um papel fundamental na retoma da normalidade no período pós-crise Covid-19, conforme o presidente do Conselho de Administração da Impar Seguros, Luís Vasconcelos. Esta confiança é também partilhada pelo Director de Marketing da Garantia, Víctor Andrade, que admite a existência neste momento de alguma ansiedade e receio por parte dos clientes e colaboradores, até porque todos estão a aprender a lidar com esta situação. Este acredita, no entanto, na boa capacidade de resposta dos cabo-verdianos em relação a este momento especial.
O gestor Luís Vasconcelos enfatiza que esta esta é uma situação de excepção, talvez só comparável com as duas grandes guerras mundiais. Neste momento, diz, o foco passa primeiro por proteger as pessoas, os colaboradores, os clientes e restantes stakeholders. Isto porque, afirma, esta indústria está entre as actividades essenciais, que não podem parar, mesmo em Estado de Emergência. “Pode-se dizer que a indústria seguradora é um dos barómetros da Economia, sendo assim directamente afectada com os efeitos adversos que já estamos a sentir na economia cabo-verdiana.”
Segundo Vascincelos, o Covid-19 provocou uma travagem brusca na economia mundial e consequentemente na cabo-verdiana, a qual está ancorada no turismo. E a época de 2020 pode estar comprometida, pois, sendo a Europa a maior fonte de emissão de visitantes para o arquipélago, as previsões apontam para uma recessão com grande impacto na economia do país. “Embora seja difícil nesta fase dizer que o nosso PIB irá diminuir 5%, 10% ou mais, veja que o próprio Governo já fala de uma perda potencial de quase 18 milhões de contos em impostos devido ao bloqueio da economia resultante da pandemia da Covid-19. Com isso, pode-se inferir a ordem de grandeza do problema que todos nós iremos enfrentar, provavelmente o maior desafio das nossas vidas como há dias foi dito pelo nosso vice-Primeiro ministro.”
Menos rendimento, menor consumo
Perante esse cenário, o PCA do Grupo Impar lembra que “sofre a economia, também sofre a indústria seguradora” porque, com a diminuição do rendimento e do consumo, quer devido ao desemprego – que vai crescer -, quer por causa da redução temporária dos salários em consequências dos lay-offs em curso, vai abrandar a actividade económica. Logo, vai diminuir a matéria segurável e o volume de prémios das seguradoras.
Porém, apesar do previsível impacto, acredita que as empresas do ramo são dos sectores mais resilientes da economia mundial e desempenham um papel fundamental enquanto investidores de longo prazo, logo fundamentais para o suporte dos balanços de muitas indústrias mundiais. Têm assim um papel fundamental na retoma económica que irá ocorrer no pós-pandemia.
Instado como exactamente o sector sentirá os efeitos do Covid-19, este não titubeou. “Desde logo, com a suspensão dos voos, diminui a carteira dos seguros de viagem e, com o encerramento temporário dos hotéis – com previsão mínima de quatro meses – e obrigatório de outras actividades económicas, que levarão à diminuição do Seguro Obrigatório de Acidentes de Trabalho”, afirma.
A este quadro, Luís Vasconcelos junta a diminuição do consumo e o encerramento dos hotéis que, afirma, baixará as importações e levará à diminuição dos seguros de transporte de mercadorias e dos seguros de responsabilidade Civil, que têm os prémios associados à facturação das empresas. E, com a diminuição da facturação das empresas e dos hotéis, os prémios desses seguros também irão diminuir. “Muitos investimentos serão adiados, logo não haverão todos os seguros que esses investimentos iriam necessitar.”
Para minimizar estas perdas, o CEO do Grupo Ímpar garante que a primeira decisão que vem à cabeça de um gestor é a contenção dos custos e o requacionamento dos investimentos. E, na Indústria Seguradora, não é diferente. Os momentos de crises, refere, tornam os gestores “mais racionais” na sua actuação, eliminando o supérfluo e concentrando-se no essencial, não esquecendo o papel fundamental da responsabilidade social das empresas e o apoio ao sistema nacional de saúde que, a seu ver, é um desígnio nacional do qual não poderão estar ausentes.
Confrontado sobre possíveis estratégias para reerguer a economia no pós-crise, este gestor cita a decisão da Impar, enquanto acionista, de não distribuir dividendos no Banco Cabo-verdiano de Negócios este ano, reforçando assim a capacidade da instituição, a qual será fundamental durante nesta fase de mitigação dos efeitos e crucial no pós-pandemia. Isso não obstante admitir que as medidas anunciadas pelo Governo são de “grande coragem” e irão mitigar os efeitos do apagão momentâneo na economia.
Estas medidas não abarcam directamente a Indústria Seguradora, mas esta irá beneficiar dos resultados dessa mitigação, diz. Luis Vasconcelos faz questão de frisar que o ramo segurador cabo-verdiano não precisava de nenhuma medida específica e que está capacitado para desempenhar o seu papel de corpo protector da sociedade. O mais importante por agora, diz, é o comprometimento dos cabo-verdianos na prevenção e salvaguarda do bem mais precioso, a vida.
Ansiedade e receios
Já o director de marketing da Garantia Seguros defende que se sente, neste momento, alguma ansiedade e receio da parte dos clientes e colaboradores, até porque todos estão a aprender a lidar com esta situação de Estado de Emergência. Exactamente por isso, enquanto empresa que “lidera o mercado” – não só a nível dos negócios, mas também no desenvolvimento tecnológico e na inovação -, a seguradora acredita que pode dar uma boa resposta aos cabo-verdianos através dos seus canais digitais e complementares. Logo, o apelo é no sentido destes – clientes e colaboradores – utilizarem o My Garantia, o Garantia Mobile, o www.garantia.cv, o garantia@garantia.cv, o telefone, as redes sociais, cumprindo assim os desígnios #JuntosNaPrevenção #NuFikaNaKasa.
Confiante, Victor Andrade prefere não falar em impactos, para além da tendência que já se começa a registar de uma diminuição do movimento nas agências e do aumento da utilização dos canais digitais. “Com o eclodir da pandemia, a nossa principal e primeira preocupação foi no sentido de ativarmos o Plano de Contingência, colocando os nossos colaboradores em regime de teletrabalho e simultaneamente garantir a mesma qualidade de serviço, eficiência e eficácia. Temos conseguido isso sem sobressaltos graças a nossa forte vertente inovadora de base tecnológica.”
Este responsável de marketing não descarta possíveis prejuízos no sector dos seguros, lá mais para frente. No entanto, admite que a Garantia terá de reajustar alguns variáveis do ponto de vista do negócio, tendo em conta a conjuntura actual e o cenário de incerteza. Até lá, enquanto seguradora com a missão de garantir segurança e proteção, principalmente das pessoas, e com forte envolvimento com a comunidade, através da sua política de responsabilidade social, mostra-se disponível para apoiar o Governo naquilo que for possível para juntos lutarem esta guerra pela vida.
Por isso mesmo, a Garantia também não definiu nenhuma estratégia pós-crise. “Esta crise coloca-nos a todos perante uma grande incerteza, pela sua duração e pelos efeitos. Estamos a acompanhar a situação e a tomar as medidas que se impõem em cada momento, com um forte apoio do Grupo Fidelidade a que pertencemos e que tem operações em quatro continentes. Para já, a nossa preocupação está centrada nas pessoas e em garantir que continuamos a cumprir com o que os cabo-verdianos e o país esperam da sua seguradora de referência e líder”, reforça Víctor Andrade.
Em relação às medidas de incentivo divulgadas para o sector financeiro nacional, este realça que são direccionadas para a banca. Este admite, entretanto, que tem havido o diálogo necessário, quer com o Governo, quer com o Banco de Cabo Verde, enquanto regulador do sector segurador para se tomar as medidas necessárias ou possíveis face aos cenários que se perspetivarem. Um exemplo recente, diz, foi a sensibilização do BCV para que a Polícia Nacional não coloque entraves na aceitação dos comprovativos e recibos de pagamentos feitos nos canais digitais.
“Neste momento diria que, para evitar mal maiores, temos de estar seguros. Manter os seguros em dia seja em que momento for é um principio básico de proteção e segurança social que evita males maiores”, assevera Andrade, que aproveita para dizer aos cabo-verdianos para não se precipitarem em socorrer-se de anulações de seguros, principalmente no ramo automóvel, por suas viaturas estarem paradas. Isto porque, para além de poderem precisar delas, o seguro pode evitar males maiores e a “Garantia está aqui para apoia-los e garantir que a vida não pare”.
Constânça de Pina