Funcionárias da Frescomar exigem director de “rosto humano”: Siacsa acusa empresa de tentativa de boicote de manifestação e ameaça com greve

Dezenas de funcionárias da Frescomar fizeram uma manifestação hoje à tarde, pediram um director de “rosto humano” e o respeito pelos seus direitos laborais. Adicionalmente, o SIACSA acusou a empresa de tentativa de boicote do protesto, exigiu a intervenção da Inspecção-Geral do Trabalho e ameaçou partir para uma greve se a situação continuar igual.

O ambiente à porta da fábrica Frescomar esteve “quente” esta tarde, mas não por causa do sol abrasador. O motivo foi a manifestação de dezenas de funcionárias que se concentraram em frente à empresa de tratamento de pescado e gritaram em uníssono que querem um director de “rosto humano” e o respeito pelos seus direitos laborais.

Lideradas por Gilberto Lima, presidente do SIACSA, sindicato representativo de quase seiscentos dos mais de 1500 trabalhadores dessa unidade industrial, deram a cara sem receio de represálias, dispostas a lutar por mudanças laborais na empresa. É que, conforme Danísia Lopes, a direcção da Frescomar anda a violar os direitos dos trabalhadores, com a adopção de políticas que defendem fundamentalmente os interesses comerciais da Frescomar e chocam com os da classe trabalhadora. “Estou cá, não sei dizer se as minhas colegas que estão na fábrica estão connosco. Mas eu não tenho medo de mostrar a minha indignação porque, por mim, esta manifestação já teria acontecido há mais tempo”, admite essa jovem.

O protesto envolveu algumas dezenas de trabalhadoras, mas esteve em risco de ser boicotado. Primeiro porque, à hora marcada, nenhuma das funcionárias estavam presentes. O próprio sindicato começou a estranhar esse facto. A preocupação aumentou quando Gilberto Lima ouviu dizer que a fábrica estava a impedir as trabalhadoras de saírem à rua. Um dado que este jornal não está em condições de comprovar.

“Tentativa de boicote”

Entretanto, pouco depois das quinze horas chegava um autocarro com o grupo de mulheres que deveria participar na manifestação. Para espanto das próprias trabalhadoras e dos membros do SIACSA, um guarda abriu os portões que dão acesso ao pátio dianteiro da fábrica para deixar o autocarro entrar. Assim que o veículo passou, voltou a fechar o portão. Esse procedimento aconteceu com mais quatro ou cinco autocarros todos cheios de trabalhadores. Para o sincalista Gilberto Lima, isso era uma prova de que a intenção da empresa era impedir o seu pessoal de cumprir o direito à manifestação.   

Incitadas pelo sindicalista, as trabalhadoras começaram aos poucos a sair para a rua com os braços levantados e punhos cerrados. Minutos depois eram perto de vinte. Elas próprias disseram aos jornalistas que era a primeira vez que o autocarro entrava no pátio para as deixar na fábrica. “Sempre fomos deixadas aqui na rua. Inclusive há dias passamos quase meia hora debaixo de chuva á espera do autocarro”, conta Danísia Lopes.

Composto o primeiro grupo, à chegada de cada autocarro, elas próprias passaram a convidar as colegas a se juntarem a essa causa, gritando “o povo unido jamais será vencido!” Várias responderam positivamente a esse chamamento, mas nem todas. Mesmo assim, Gilberto Lima enalteceu a atitude daquelas que assumiram o desafio. Para ele, houve uma clara tentativa de boicote, o que fere o espírito da democracia, mas o que conta é a mensagem passada.

O protesto, segundo o dirigente sindical, tem suporte legal e visou contestar os “atropelos laborais” cometidos na empresa e que “vão de mal a pior”. Conforme essa fonte, os trabalhadores sofrem assédio moral, despedimentos sem pré-aviso, auferem “salários de miséria”, enfim, um rol de situações que ele considera “inadmissíveis”. “Exigem entretanto um mar de coisas aos trabalhadores. A empresa já chegou a descontar oito mil escudos em três dias a um trabalhador que ganha dezasseis contos. É preciso que a Inspecção-Geral do Trabalho venha cá, mas sem avisar. A IGT tem de cumprir com as suas obrigações e fiscalizar a Frescomar para poder pegar as pessoas com a boca na botija”, exige Gilberto Lima.

Se os objectivos não forem alcançados com a manifestação, o SIACSA, segundo Lima, vai provocar uma greve. Essa decisão, acrescenta, será tomada muito em breve, depois da Assembleia-Geral do sindicato, que acontece amanhã de manhã na cidade do Mindelo.

O Mindelinsite manifestou a um membro da direcção da Frescomar a sua disponibilidade em ouvir a empresa. Ficamos a aguardar esse contacto que não aconteceu até o fecho desta edição.

Kim-Zé Brito

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