O Grupo Ímpar, constituído pelo Banco Cabo-verdiano de Negócios e a Impar Seguros, registou no ano económico findo o maior crescimento de sempre, revela o CEO Luís Vasconcelos Lopes . Este gestor destaca, a título de exemplo, o BCN que, sozinho, fechou o ano com um resultado de 200 mil contos, número que lhe permite perspectivar um crescimento de capitais próprios da instituição, nos próximos três anos, para 700 mil contos.
Segundo Luís Vasconcelos, o aumento do capital do banco vai se traduzir numa maior capacidade de financiamento à economia. “Esta é uma decisão estratégica dos accionistas que decidiram não receber os seus dividendos durante cinco anos. No caso o acionista é uma instituição financeira, a Impar. Ao invés de ganhos imediatos, no sentido de trazer dividendos, queremos trazer negócios futuros, queremos crescer”, explica Luís Vasconcelos a decisão de reinvestir todos os ganhos no potencial deste grupo económico.
Apesar de satisfeito com a estratégica traçada pelo Grupo, este CEO crítica a posição do Estado de Cabo Verde por, diz Luís Vasconcelos, taxar estes investimentos. “Se estamos a contribuir para aumentar a nossa capacidade de financiamento à economia, este dinheiro que estamos a reinvestir não deveria pagar Imposto Único sobre Rendimento. É um facto que, neste momento, criou-se alguma atração, tendo em conta que 20% deste dinheiro não paga imposto. Mas entendo que não devia pagar nada e 80% continua a ser tributado. Isto porque estamos a investir em capitais próprios e a fazer crescer a economia. Os resultados vão ser colhidos no futuro.”
Instado a explicar o que terá contribuído para que as empresas do Grupo Ímpar pudessem apresentar estes resultados “muito positivos”, esta nossa fonte admite que houve situações de conjuntura boas que o levam a afirmar, sem sombra de dúvidas, que este foi o melhor ano de sempre. “O nosso grupo, que é 100% cabo-verdiano, conseguiu contribuir com cerca de 500 contos de resultados, que geraram muitos mil contos em impostos e muitos postos de trabalho”, frisa Luís Vasconcelos, para quem isto foi possível, em primeiro lugar, através dos resultados do próprio BCN, que ultrapassaram os 200 mil contos, resultado de um negócio muito selectivo.
Mas este crescimento não foi conseguido a qualquer custo, até porque, faz questão de frisar, não querem ser líder só para ser. O Grupo quer crescer com sustentabilidade, rentabilidade e segurança porque, afirma, o seu compromisso é com o futuro, afirma. “Não estamos numa corrida apenas para dizer que ganhamos. Estamos a fazer um percurso de consolidação e de afirmação do grupo e isto passa por ter bases sólidas e sustentáveis. É por isso que dissemos que os resultados foram no sentido daquilo que têm sido a nossa estratégia assertiva ao longo dos anos. Com isso, conseguimos, no ano findo, pela primeira vez, chegar aos 300 mil contos de resultados.”
Novos produtos
Também contribuíram para estes resultados novos produtos financeiros colocados no mercado, caso do FADA – Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrícola e também para a pesca, a nova linha de crédito para compra de viaturas e, mais recentemente, a Plataforma de Conforming que, prevê, vai resolver um dos principais problemas da economia, que é o acesso ao financiamento. É que, de acordo com Luís Vasconcelos, a questão do financiamento a tesouraria está a estrangular a economia cabo-verdiana, resultado de um circuito de dívidas, que envolve empresas, instituições públicas, Câmaras Municipais e o próprio Governo.
A Plataforma de Conforming, explica, é uma ferramenta que surge para resolver o problema do estrangulamento do crédito. Traduzido por miúdos, o CEO cita o exemplo de a CMSV necessitar contratar um pequeno empreiteiro para realizar uma obra de 500 contos. Este faz o trabalho, mas a autarquia demora a pagar, o que impossibilita o empreiteiro a aceitar uma segunda obra por falta de recursos para comprar material. Se o BCN tiver uma garantia desta dívida e o prazo da sua liquidação, o banco pode adiantar estes 500 contos e permitir ao empreiteiro realizar a obra, cobrando uma taxa de 1% sobre o valor da dívida.
Mas esta é uma operação que o banco só aceita realizar se o devedor é uma empresa que dá garantias, caso por exemplo da ASA, Enapor, Enacol, Câmaras Municipais e Governo. “Desde que estas instituições e empresas confirma a factura, o BCN antecipa o financiamento. A factura será paga directamente na conta do cliente no nosso banco. Esta é uma garantia fundamental que o empreiteiro conseguem fornecer ao BCN. Isso vai fazer a economia funcionar”, explica Luís Vasconcelos, realçando que este produto foi apresentado na ilha do Sal, por altura do Cabo Verde Fórum Investiment e testemunhado pelo ministro das Finanças.
São estes novos produtos que, diz Vasconcelos, justificam o crescimento do BCN. A prova disso é que o mercado está a crescer a uma taxa de 9% e o BCN a 29%, ou seja, mais do que o dobro. Talvez por isso o grupo esteja a procura de novos produtos adequados as necessidades específicas do mercado cabo-verdiano. E promete respostas rápidas.
Descentralizar decisões
Por ser uma empresa cabo-verdiana, tudo o que ganha fica no país. Por outro lado, ao reinvestir, está a fazê-lo dentro da própria economia, caso por exemplo do BCN que, durante cinco anos, não vai distribuir dividendos. A terceira vantagem é que os Conselhos de Administração da Ímpar Seguros e do BCN, ou seja, os centros de decisão, estão baseados em Cabo Verde, com o poder de decisão descentralizado entre São Vicente e Praia.
Este facto, segundo Luís Vasconcelos, permite-lhe, em primeiro lugar, conhecer as realidades locais e estar presente, em permanência, nos dois polos de desenvolvimento económico do país. Outra vantagem desta descentralização, sobretudo em relação a Ímpar Seguros, é que, por estar fora do grande centro de demanda – no caso da Capital – consegue pensar o todo nacional sem pressão. “Antes a sede operacional da Impar estava na Praia, mas foi transferido para São Vicente. A demanda na capital é de tal forma absorvente que nos impede de pensar o todo nacional. Com uma demanda menor aqui consegue-se, efectivamente, encontrar as melhores soluções. Isto porque a pressão local é menor fora dos centros de decisão”.
Por outro lado, refere, é preciso dizer que é em São Vicente que estão sediadas algumas das maiores empresas nacionais, caso por exemplo da Enapor e da Enacol, enquanto que a ASA, outra grande empresa, está no Sal, que também alberga, junto com Boa Vista, os maiores empreendimentos hoteleiros. Somados, diz, fazem com que o peso de Barlavento na economia seja significativo. A descentralização do processo decisional permite ao Grupo dar uma atenção especial a estas empresas, conclui.
Constânça de Pina