Por Sidneia Newton
Mindel Insite – Monte Sossego, além de um grupo leva o nome de uma das zona mais populosas de São Vicente e de Cabo Verde especialmente marcada pelo Carnaval. Qual a sua ligação afetiva com Monte Sossego?
Patcha Duarte – Quando vim para Cabo Verde em 1974, com apenas um ano de idade, eu e a minha mãe fomos estabelecer residência na zona do Monte, na Rua Matadouro Velho, com meus tios. Depois fomos viver na Rua de Coco. Da Rua de Coco, fixamos residência na Avenida de Holanda, em Monte Sossego. Nesta altura, já com o regresso do meu pai de Portugal, tinha apenas 5 anos e Monte Sossego era uma zona que se encontrava em construção, com a implantação das primeiras edificações e de um sistema viário moderno.
MI – Viste então a localidade a crescer e tomar esta sua amplitude?
PD – Precisamente, acompanhei o crescimento do Bairro. Era calcetada até a Avenida de Holanda. Não havia passeios para pedestres e a partir daquela avenida era só terra batida a perder de vista. Eu cresci com Monte Sossego. O Bairro moldou a minha personalidade. Vivi nesta urbe até a altura em que me mudei para R. Julião e posteriormente dar continuidade aos estudos no Brasil.
MI – O que quer dizer com Monte Sossego “moldou” a tua personalidade?
PD – Foi onde criei grandes laços de amizade. Até hoje boa parte do meu círculo de relacionamentos está em Monte Sossego (muito boa gente que neste preciso momento estão na emigração, mas sempre que nos encontramos, revivemos as peripécias de outrora). Desde cedo integrei vários grupos, caso dos pioneiros – a OPAD-CV, da JAAC-CV, joguei nas equipas mais míticas da zona. Joguei futebol no Benfiquinha, do saudoso senhor Zizim. Depois fui fundador do Atlântico Futebol Clube, que também é uma equipa característica da zona, que ja produziu vários atletas na seleção, nomeadamente Rony e mais recente Vozinha, o guarda-redes, entre outros. Ultimamente minha contribuição tem sido através do grupo Carnavalesco de Monte Sossego.
A minha infância foi muito rica, bem vivida nesta zona. Quando lá fui viver, imagina, ainda havia o “cemitêr d’inglês”, entre Monte Sossego e Chã de Cemitério. Posteriormente Monte Sossego virou esta zona ( cidade ) que é das mais populosas, com um crescimento urbano acima da média nacional. Fiz aí a escola primária (Cortiço), o ciclo preparatório e o liceu. Por essa razão afirmo que moldei a minha personalidade nesta zona/bairro, nomeadamente na Avenida de Holanda.
MI – O que o levou para a Arquitetura?
PD – A minha mãe, basicamente, Bela Duarte. Ela foi fundadora da Cooperativa Resistência, que posteriormente transformou-se no Centro Nacional de Artesanato. Esteve muitos anos em investigação em Santo Antão e no interior de Santiago, a pesquisar técnicas de produção artesanal. Não foi uma influencia direta, mas foi quem me empurrou para Arquitetura. Estava sempre com ela, numa fase inicial, por ausência do meu pai, por causa de compromissos profissionais em Portugal. Naquela altura comecei a respirar cultura, arquitetura e arte através dela. Acompanhava-a não só no trabalho como também em algumas iniciativas culturais (musica e eventos) que iam aparecendo um pouco pela cidade. Passou-me muito da sua inspiração.
MI – Em que ano foi estudar no Brasil?
PD – Fui a 14 de Fevereiro de 1994.
MI – Foi no Brasil que apanhou a paixão pelo Carnaval ou levou-a daqui e foi aprimorada durante a sua estadia naquele país?
PD – Eu tinha um fascínio pelo Carnaval, mas até 2013 nunca tinha participado ativamente no evento. Já havia desfilado por vários grupos, desde criança. Nas fases da adolescência e adulta trajava-me pela Escola de Samba Tropical. No entanto, a ida para o Brasil acabou por aflorar ainda mais esta paixão. No regresso, pelo facto de ter-me licenciado em Arquitetura, acabou por ditar esta maior aproximação ao Carnaval.
A questão das alegorias do Carnaval era algo que também me despertava muita curiosidade e vontade de conhecer por dentro o processo de produção do Carnaval. Mas nunca tinha tido a coragem para adentrar e aventurar-me na producão de um espetáculo de Carnaval. O meu pai dirigia a ONAVE, que era o estaleiro de alguns grupos, nomeadamente Vindos do Oriente, que inclusive foi um grupo pelo qual desfilei em 1978. Produziam naquele espaço as suas alegorias e eu conseguia de longe acompanhar alguma coisa e isso despertou em mim algum interesse. Sempre gostei de desfilar, entretanto não pensava em participar na produção do Carnaval.
Assumir o comando de Montsu
MI – Como é que entrou, então, para o grupo Carnavalesco de Monte Sossego?
PD – Depois de ter feito a minha formação em Arquitetura e Urbanismo no Brasil, onde intensifiquei o gosto pelo Carnaval, recebi um convite em 2013 de José Reis, “Zeca”, o ex-presidente do Monte Sossego, que foi o dirigente que teve maior longevidade à frente do grupo. Convidou-me para integrar a direcção do grupo, mas, antes disso, já andava a acompanhar o Monte Sossego. Minha esposa e minha filha sempre desfilavam pela Agremiacão e ia com ela nos desfiles. Deste modo, em 2012 estava a acompanhá-las, juntamente com outro amigo que cresceu na Avenida de Holanda, o Adriano Lima – proprietário da empresa Bento Forrador (nossa parceira de sempre). Entretanto, aconteceu uma fatalidade no grupo. O gerador do carro do som do desfile incendiou. Na altura, Monte Sossego estava num ritmo de queda, com a qualidade da participação a baixar de nível ano após ano. Adriano comentou comigo que precisávamos fazer alguma coisa pela nossa zona e eu concordei. Foi algo que ficou retido e alguém que estava próximo de nós escutou nosso comentário. Assim, essa pessoa fê-lo chegar ao Zeca e daí surgiu o convite.
Conhecia o Zeca há muito tempo porque seu pai ( Ti Fefa ) trabalhava com meu tio João d¢ Auta numa oficina de carpintaria. Como dizia, recebi uma chamada do Zeca que me convidou para integrar a direção, mas disse que só aceitaria integrar a direção mediante um escrutínio. Como já não havia tempo para fazer uma eleição, decidiram criar uma comissão para organizar o desfile de 2013.
MI – Por que motivo acha que Zeca te endereçou esse convite? Só por causa do comentário?
PD – Não tenho a mínima dúvida que tenha sido devido ao comentário com o Adriano porque demostramos o nosso interresse em dar um contributo mais de perto. Ele mesmo confessou que já sentia algum desgaste na sua gestão, o que é normal. As pessoas se desgastam e é preciso renovar.
No Carnaval de 2013 ficamos em terceiro lugar. Foi um concurso em que de facto passei a perceber o que era a produção de um espectaculo de Carnaval naquelas circunstâncias.
Mi – Qual foi o maior desafio na altura para tirar Monte Sossego daquela situação?
PD – Era entendido que os desfiles do Monte Sossego ja não eram daqueles que apaixonavam, como o de 2003 quando saiu com o enredo Capital Lusófona da Cultura e arrebatou todos os prémios em disputa, ou mesmo dos 2 desfiles a quando do renascimento do Grupo. Nha bolo tem Nata, Broda (dois apaixonantes enredos Bolo tem nata e Monte Cara, respetivamente ) …. A partir deste ano, teve algumas participações esporádicas nos desfiles, sem regularidade. Em 2013 já se notava uma quebra simbólica daquilo que Monte Sossego tinha habituado a população mindelense. A insatisfação era generalizada e tomamos a decisão pessoal de fazer uma eleição, como a única forma de aceitar e assumir o grupo. Reunimos um núcleo de pessoas que estavam interessadas e Adriano Lima impôs logo algumas condições. E eu também, à partida, por uma questão de transparência, disse que teríamos que abrir uma conta bancária – Institucional. Por isso que até hoje fazemos assembleias anuais após o Carnaval para apresentação de contas. Todas as nossas contas são publicadas e aprovadas em assembleia. Fizemos eleições em finais de Fevereiro, tivemos uma maioria esmagadora de votos a favor, ficamos legitimados e a partir daí promovemos aquilo que era a nossa visão do Carnaval. Propomos alguns pontos necessários para que Monte Sossego invertesse a tendência de queda e voltasse a ser um grupo poderoso, como mostrou no início do seu surgimento.
Tentamos identificar um grande carnavalesco, porque na altura o Cruzeiros estava num ritmo crescente de vitórias, sendo que em 2013 tinha sido tricampeão, e era necessário travar esse galope frenético em que se encontravam com uma aparição apoteótica da nossa parte.
Apostar no rigor
MI – Era necessário um carnavalesco, mas quais eram as outras prioridades?
PD – Era preciso apostar primeiro na organização e no rigor da gestão das contas, como fizemos desde o início. Depois, obviamente teríamos que fazer uma produção artística à altura para mostrar ao público que tínhamos um grande grupo. Começamos a preparar o desfile de 2014 com muitos contratempos. Tínhamos muito passivo para resolver. Herdamos uma enormidade de compromissos que tinham sido assumidos.
MI – Lembra-se do orçamento de 2013?
PD – O orçamento foi de três mil e tal contos.
MI – Não chega nem perto do orçamento actual.
PD – Não chegava para absolutamente nada. O nosso orçamento para o Carnaval deste ano é de 11 mil contos. Na altura, a Câmara Municipal já participava com mil contos. Em 2014, nosso orçamento foi de 6 mil contos, o dobro do ano anterior. Era o primeiro orçamento que estávamos a executar e tivemos derrapagem.
MI – Sabiam que conseguiriam chegar àquele valor?
PD – Chegamos, tanto é que derrapamos, mas não ficamos com qualquer compromisso por honrar. Gastamos muito mais do que foi orçamentado. Nossos parceiros e patrocinadores conseguiram identificar em nós alguma seriedade e apostaram em nós desde o início. Basicamente mantemos até hoje todos os parceiros daquela altura e já vamos no terceiro mandato.
MI – Por ser arquiteto, tem alguma sensibilidade maior em termos estéticos e organizativos do carnaval?
PD – Naturalmente, tenho sim sensibilidade de muita coisa. Principalmente para criar equilíbrio, harmonia e estética. Tenho sensibilidade visual do desfile, mas este sector deixo exclusivamente para o Diretor do Carnaval, Guilherme Oliveira, que tem uma visão muito abrangente e tridimensional do que é a nossa pretensão no Carnaval. É alguém que tive a oportunidade de conhecer em 2014 e desde 2015 é o Diretor do Carnaval do Monte Sossego. Tem uma experiencia brutal. É quem faz o equilíbrio entre o presidente e os carnavalescos. No entanto, toda a parte do enredo e produção artística é dos carnavalescos e não me intrometo. Opino apenas quando vejo alguns aspectos que podem comprometer o objetivo do grupo.
Os carnavalescos e o diretor do carnaval têm a total liberdade criativa e de propor ideias de vanguarda. Discutimos apenas alguns aspetos. A força da produção acaba por ajudar-me naquilo que é o entendimento de todo o desenho artístico, de toda produção que pretendemos para os desfiles.
Ganhar no Carnaval, sacrificar a familia, criar anticorpos
MI – O seu compromisso com o Carnaval faz com que perca algumas coisas na vida, ou aspetos que sente que poderia estar mais presente?
PD – Ao longo de todos esses anos só perco. Só quem vive por dentro do Carnaval tem uma ideia clara do que se passa com quem se mete dos pés à cabeça nessa manifestação. Perdemos, por exemplo, o contacto familiar. Deixa de ter a preponderância que deveria quando estamos no carnaval. Passamos muito menos horas em casa, com menos momentos de convívio familiar. Neste aspecto, a família é a primeira prejudicada. Por outro lado, a minha profissão fica sempre beliscada. Nesta altura, por exemplo, dificilmente tenho concentração para fazer algum trabalho do meu escritório e tem dias em que praticamente não entro lá. A família e o escritório são as duas vertentes que diretamente perdem com a minha envolvência no Carnaval.
MI – A tua família entende e aceita esta tua dedicação ao Carnaval?
PD – Tanto que a minha família participa na organização do carnaval do Monte Sossego. Porque dificilmente consegue-se integrar ou fazer parte de alguma estrutura diretiva se a família não estiver envolvida – tenho tido o compromisso e a envolvência direta da minha família. Se estivesse direcionada para um outro lado não seria a mesma coisa, não teria discernimento. Naturalmente começaria a desligar-me porque não seria justo prejudicar a família por causa de uma manifestação como o carnaval. Mesmo assim minha família perde muito.
MI – Tirando isso, este seu contributo para o Carnaval trouxe-lhe algumas inimizades?
PD – Nem digo que são inimizades, mas criei alguns anticorpos. Tenho uma forma muito própria de ser. Sou muito frontal, mas principalmente determinado naquilo que acredito ser o certo, o correto. E infelizmente a nossa sociedade não aprecia pessoas assim. A sociedade gosta de quem hoje diz uma coisa e amanhã outra para satisfazer as pessoas. Podem estar certos que não sou este tipo de pessoa. Temos um objetivo, uma visão daquilo que queremos para o Carnaval e temos a serenidade suficiente para conseguir discernir e entender o momento que proferimos um discurso a bem do Carnaval. Infelizmente a nossa sociedade não gosta de pessoas que se posicionam. Gosta de alguém que apenas vai em função daquilo que é a maioria. Por esta razão foi inevitável colecionar alguns anticorpos nos últimos anos.
MI – Como lida com esta situação que descreve?
PD – O grupo tem uma direção, tem um objetivo. Ultimamente surgiu a instituição da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de Sao Vicente, a Ligoc-SV. Monte Sossego trabalhou incansavelmente para a afirmação da Ligoc, somos sócio-fundadores da liga e a nossa aposta clara nesta instituição é por entendermos a necessidade de termos uma instituição que tome frente na organização do Carnaval. Não deve ser trabalho da Câmara Municipal organizar o Carnaval. De qualquer das formas lidero uma equipa e tenho que gerir sensibilidades de parte-a-parte. Devo sempre alguma satisfação à minha direção e a maior parte das decisões não são unilaterais. Só que existem algumas questões que são posicionamentos pessoais devido a minha visão e do que acredito ser o correto. Porém relaciono-me tranquilamente com qualquer um, independentemente de termos posicionamentos contrários. Temos que perceber que o objetivo do Carnaval é o objetivo maior, que acaba por nos unir. Podemos ter diferenças, mas temos que deixar objetivos individuais de lado.
MI – O que Monte Sossego te trouxe durante estes sete anos?
PD – Trouxe-me relação, conhecimento e essa é a minha maior satisfação no Carnaval: conhecer pessoas. Abriu-se um leque enorme de pessoas com as quais passei a relacionar-me por causa do Carnaval. Conheci muita gente de toda espécie. Desde o Presidente da República até a pessoa que faz a limpeza do estaleiro todos os dias. Relacionamo-nos de forma igual. Nunca tive nenhum tipo de problema, exatamente pelo facto de ter crescido em Monte Sossego ainda quando era uma zona de terra batida. A minha origem é humilde e continuo a ser a mesma pessoa. Só que tenho os meus posicionamentos e muitas vezes são posicionamentos duros que causam algum trauma, mas acima de tudo, posicionamentos coerentes e sérios ao longo do tempo, acima de tudo sérios.
MI – Admite que não é uma pessoa flexível?
PD – Quando acredito nalguma coisa ouço sempre a opinião contrária. Se percebo estar errado não tenho nenhum problema em aceitar a outra opinião ou em aceitar a opinião da maioria. Porque vivemos num ambiente democrático, temos que saber lidar com estas situações. Não havendo consenso, temos que partir para a votação e aquilo que sair do escrutínio tem que ser aceite.
Futuro do Carnaval
MI – Na sua opinião quais os caminhos que o Carnaval do Mindelo deve seguir?
PD – O que entendo para a evolução e crescimento do nosso Carnaval passa pela Ligoc-SV. A Liga tem que se afirmar como uma instituição do Carnaval de São Vicente. Precisa de uma liderança muito forte, que posicione claramente a favor do crescimento exponencial do Carnaval. Primeiro porque todos os grupos devem se reger pela mesma regra. Tem que haver normas. Estamos a falar de produzir um espetáculo que a partir de agora tem que ser vendido. A ideia é que o Carnaval cresça a partir de um produto turístico que dá muito dinheiro para São Vicente. Só que o volume neste momento que é gerado pelo Carnaval não tem reflexo direto nos grupos. A visão que tenho é de um Carnaval monumental, de um grande espectáculo produzido de forma gigantesca, que é o que tentamos sempre trazer para o desfile. E ainda ter grupos a trabalhar de forma autónoma. Ou seja, aquilo que é mobilizado por força do Carnaval tem que reverter para os grupos através de impostos ou de subvenções e patrocínios diretos, tanto dos Ministérios da Cultura e do Turismo como da Câmara Municipal, que são instituições que lidam diretamente com o evento.
Neste momento em São Vicente há mais de sete meses que não ha nenhum quarto disponível para a altura do Carnaval. Entretanto, a rede hoteleira não contribui com absolutamente nada para o Carnaval. Isto não pode ser. Há alguns dos estabelecimentos hoteleiros que alegam que aproveitam esta época para resolverem as suas questões financeiras porque a taxa de ocupação aumenta e é neste período que conseguem encaixes para um ano inteiro. Isto leva-nos a perguntar: se não houvesse o Carnaval então o hotel ficaria o ano sem aumentar a taxa de hospedagem?
Outro grande sonho meu é que todos os dirigentes sejam remunerados e a estrutura do Carnaval se torne de semi profissional a profissional.
MI – Não se trabalha mais de forma voluntária no Carnaval?
PD – Todo o mundo à volta do carnaval ganha algo neste momento. Já não possuímos um carnaval feito à base de “help” ou à base de militância e ajuda. Todos ganham. Existem momentos em que temos quase 300 contos de folha de salário semanal só no estaleiro. Estou a falar naquele tempo em que temos que acelerar a produção.
MI – Os patrocinadores estão a seguir a evolução do Carnaval de São Vicente?
PD – A relação com patrocinadores é uma questão um tanto ou quanto difícil. Patrocínio ao nível de Cabo Verde não é algo bem trabalhado. Primeiro porque não temos uma legislação que favoreça isso. Não temos uma lei do mecenato que facilite a relação do patrocinador com o patrocinado. A lei do mecenato que temos é altamente burocrática. Portanto, se temos uma empresa que decide que irá patrocinar, e quer em contrapartida a divulgação da sua imagem, que a marca associada à sua empresa seja divulgada amplamente em todos os eventos que fazemos e decide que tem que recuperar parte do investimento que faz através da cultura, é uma enormidade de burocracia. Tanto que ao meio do percurso acabam por desistir. Esta é a grande dificuldade. Conseguindo vencer estes obstáculos, o Carnaval tem tudo para vencer nesta tendência de crescimento em que se encontra.
MI – Em termos de horário, Monte Sossego está mais preparado para desfilar de dia ou de noite?
PD – Se o desfile for passado para a noite começaremos a prepararmos para desfilar à noite. O horário que provavelmente será proposto é início às 19 horas e término às 23, aproximadamente e no dia seguinte não haveria problemas, por ser feriado. Sou um defensor do desfile à noite, desde que se consiga reunir todas as condições de logística e principalmente de iluminação. Porque, quando há um desfile à noite, todos os grupos serão avaliados nas mesmas condições. Se continuarmos como estamos, com os desfiles diários, teremos grupos avaliados à luz do sol e outros à noite. A não ser que os desfiles sejam iniciados de manhã. Não sendo assim, dificilmente conseguiremos ter todos os grupos a desfilar nas mesmas condições.
Este ano ja se decidiu que o desfile é de dia, estamos preparados para isso. Mas, se mais para frente for realizado à noite, como o Carnaval de Verão, iremos desfilar tranquilamente.
MI – Como é que se vê daqui a um tempo?
PD – A exercer a minha profissão de arquiteto e a assistir o Carnaval na bancada.
MI – Então tem ideia de sair?
PD – Tenho.
MI – O que o poderia levar a deixar o Carnaval?
PD – Em primeiro lugar não temos a pretensão de perpetuarmos no cargo. Isto está fora de questão. Temos vindo a fazer um trabalho que tem merecido reconhecimento dos sócios, principalmente, mas também e igualmente do público e da críitica. E por causa disso têm apostado na reeleição sucessiva da nossa direção. No entanto, muito proximamente teremos que ter alguém para nos substituir. Mas o que decididamente poderia acelerar minha saída do Carnaval é a relação promiscua que existe em torno do carnaval neste preciso momento e de posionamentos que beliscam seriamente a seriedade. Discursos incoerentes e regras parciais.
MI – Refere-se a qual relação promíscua?
PD – Há algumas decisões tomadas ao nível da Ligoc e da Câmara Municipal com as quais não estou de acordo. As decisões políticas muitas vezes poderão contribuir para empurrar a minha saída do Carnaval. Não seria algo que desejaria. Preferia sair de uma forma natural.
MI – Então defende o afastamento da política do Carnaval?
PD – Claramente! Porque há algumas questões que têm criado desgaste. Certas decisões que têm fragilizado em demasia o nosso Carnaval. Podemos exemplificar com o Carnaval 2019 que foi muito conturbado, muito sofrido por todos os grupos que desfilaram, Essas questões é que me agastam seriamente no Carnaval e que me deixam extremamente triste.