Mural de Topad concluído: Obra, a ser inaugurada hoje, emociona mãe e filhas do navegador solitário

Terminou esta madrugada o desenho do rosto do navegador Topad num portão na Rua da Praia d’Bote, obra que será inaugurada hoje por volta das sete horas da noite. O retrato da autoria do português Pedro Albuquerque demorou cinco dias, consumiu 30 horas efectivas de trabalho, mas deixou o artista satisfeito. Abordado ontem à noite por Mindelinsite, Albuquerque afirmou que o resultado está como queria, muito próximo dos desenhos que costuma fazer em tela, apesar das limitações do material, espaço e tempo.

“Já era minha intenção fazer algo o mais próximo possível do meu trabalho de tela e ficou melhor do que esperava. Pintar na madeira ajudou”, confessa o artista, que recebeu visitas de várias pessoas, inclusive estudantes de arquitectura, um intercâmbio que o deixou sensibilizado. “Tem sido espectacular. Estiveram cá alunos interessados em saber mais sobre a cor e ficaram surpreendidos ao ver que eu estava a trabalhar com cinco – seis cores que nada têm a ver com tons da pele, mas que resultaram”, elucida o artista, que se sentiu também gratificado com o facto de os transeuntes reconhecerem o rosto do Topad na obra.

Pedro Albuquerque, autor da obra

O tributo a Topad, segundo Patrick Borges, responsável da empresa Kriol Ideias, foi pensado de forma diferente em comparação com o desenho em baixo-relevo de Cesária Évora feito na praça Dom Luiz. A ideia, esclarece, foi gerar uma obra dinâmica e itinerante como era a vida desse malogrado marinheiro, que fez por diversas vezes a travessia solitária do Oceano Atlântico. Deste modo, dentro de aproximadamente um mês, esse desenho hiper-colorido começará uma viagem pela ilha de S. Vicente, primeiramente ao longo da Avenida Marginal.

“Nada como pegar num navegante e colocar a sua obra a navegar. Será transportada por esta avenida até que seja construída a nova marina, onde deverá ficar. Deste modo, o desenho irá partir da Rua da Praia d’Bote e velejar primeiro para os lados da feira Ocean Week, depois gostaria muito de ver a obra exposta junto à Enapor porque o Topad chegou a competir com a bandeira dessa empresa”, elucida Patrick, que tece rasgados elogios à capacidade artística de Pedro Albuquerque. Um especialista, diz, que consegue conciliar o hiper-realismo e o desenho, uma técnica em que fica muitas vezes difícil saber se uma imagem é um desenho ou uma fotografia.

Esta obra, para Tino, amigo de Topad, é uma iniciativa que surge na sequência de uma homenagem no pontão da Marina Mindelo que organizou para assinalar o primeiro aniversário do falecimento do chamado “lobo solitário”. Para ele, é natural que venham a aparecer outras homenagens, até porque esse competidor do desporto de vela merece por aquilo que deu a Cabo Verde. Mesmo assim, Tino foi apanhado de surpresa.

E mais: o início do trabalho coincidiu com a presença em S. Vicente das duas filhas gémeas, da esposa de Topad e de uma bancária reformada, que vieram passar o final de semana. “Quando ia levá-las ao aeroporto passei por esses lados para lhes mostrar o trabalho. Só que o desenho ainda estava no início, tinham feito um olho e parte do nariz. As filhas disseram: ‘esse é o olhar do papa’. Ficaram emocionadas”, conta Tino, que também levou a mãe de Topad ao local. “Ela deixou cair duas trombas de água, tão emocionada ficou.”

Para Tino, nenhum outro lugar poderia acolher tão bem o mural do que a Rua d’Praia, sítio onde Topad passou a sua infância e de onde partiu para a Europa fugido num veleiro. Mais tarde cumpriu a promessa feita a si próprio de regressar ao ponto de partida no comando de uma embarcação.

Kim-Zé Brito

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