Morna “música rainha” da humanidade

A Morna é desde a noite de ontem a música rainha do mundo. O anúncio de que a candidatura desse género musical cabo-verdiano a Património da Humanidade pela Unesco tinha sido aprovada foi feito pelo Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas na sua página das redes sociais. A decisão, acrescenta Abraão Vicente, será ratificada no próximo mês de Dezembro, na Colômbia. 

Apesar desta notícia ter uma dimensão histórica para os cabo-verdianos, residentes e na diáspora, o ministro Abraão Vicente fez uma publicação  de cinco linhas, que dizia apenas “caros cabo-verdianos, tenho a privilégio de comunicar que hoje o comité técnico de peritos da Unesco aprovou o dossier da Morna a património da Humanidade! A decisão será ratificada em Dezembro em Colombia, mas a Nação já pode celebrar.”

De imediato, a novidade espalhou como rastilho de pólvora provocando reacções de satisfação de todos os quadrantes. Caso por exemplo do antigo ministro da Cultura, Manuel Veiga, para quem uma das maiores riquezas de Cabo Verde é a sua cultura e nela a Morna tem lugar de destaque. “Parabéns aos compositores, aos interpretes, ao Ministério da Cultura e ao povo de Cabo Verde. Uma palavra de apreço e reconhecimento à equipa que trabalhou no dossier”, escreveu. 

Na mesma linha, a escritora Fátima Bettencourt parabenizou todos os que de uma forma ou de outra contribuíram para “esta enorme alegria que hoje aquece as nossas vidas”. Fátima Bettencourt também deu os créditos aos ministros da Cultura, anterior e actual, Mário Lúcio e Abraão Vicente, que, diz, tudo fizeram para este sucesso, mas também a todos tocadores de violão e cavaquim, os principais instrumentos de tocatinas e serenatas. 

Para o investigador Moacyr Rodrigues, que aproveitou para deixar claro que a aprovação só acontecerá em Dezembro, esta notícia é importante porque a Morna é a maior bandeira de Cabo Verde, mais gigante até que o próprio país. “Cesária Évora levou a Morna para partes do mundo que as autoridades nunca estiveram. Para teres uma ideia, uma vez o anterior PM, José Maria Neves, contou-me que foi participar num evento e, quando colocaram a bandeira de Cabo Verde, uma das participantes questionou-lhe sobre o nosso país e onde ficava. Ele disse que tentou explicar, mas esta não conseguia se localizar, então um outro disse-lhe de certeza que já ouviste falar na Cesária Évora. De imediato a participante ficou satisfeita”. 

No entanto, para Rodrigues, não basta o reconhecimento. Como diz, agora as autoridades terão de investir, divulgar e capitalizar a Morna. “o governo tem de trabalhar para tornar a Morna ainda mais conhecida e divulgada. Mas também tem de trabalhar para que ela seja melhor tocada, cantada e dançada. Só assim esta aprovação poderá trazer benefícios para o país e manterá a Unesco de olhos em nós”, diz este investigador, que desafia os tocadores e intérpretes a mergulhar nas raizes da Morna. 

“É preciso tocar a Morna com os instrumentos próprios, designadamente viola, violão e cavaquinho. É claro que, como qualquer outro ritmo, a Morna também precisa evoluir, mas não podemos afastar da sua raiz. É preciso que surjam mais interpretes interessadas em cantar a nossa Morna genuína. Felizmente, estão a surgir grandes vozes, caso da jovem Cremilda Medina, que canta com sentimento, ao estilo dos mais antigos.” 

Cabo Verde apresentou a candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade em Marco do ano passado. A decisão final deverá ser conhecida entre os dias 09 e 14 de Dezembro em Bogotá, na Colômbia, durante a reunião do Comité do Património Cultural Imaterial da Unesco.  

Constânça de Pina

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