O autarca Augusto Neves considerou o movimento Claridade o safarnão que terá levado os novos escritores e artistas do arquipélago a traçar o caminho humanista à sua arte, numa homenagem realizada ontem na Câmara de S. Vicente aos fundadores e escritores desse histórico movimento literário. Para Neves, Claridade é uma “estrela fulgurante” na constelação cultural cabo-verdiana cujo brilho provocou a empatia junto de poetas, ensaístas, professores, linguistas, antropólogos, criadores, académicos, homens e mulheres da cultura dentro e fora do país.
“Sendo a Claridade um movimento literário que marca e reclama a independência cultural de Cabo Verde através do seu ideário programático, de fincar os pés no chão, já homenagear essa geração que esteve no trilho inicial da Claridade é um acto de justiça”, entende o autarca, para quem esse movimento não se reduz a fundadores como Jorge Barbosa, Baltasar Lopes da Silva e Maneul Lopes. Vários outros escritores e intelectuais, avança, participaram nessa faina claridosa.
O reconhecimento pela obra dos chamados claridosos, segundo David Hoppfer Almada, surge com base nos Estatutos da Academia Cabo-verdiana de Letras de respeitar e preservar a memória daqueles que, pela sua acção particularmente no domínio literário, contribuíram para a dignificação e respeitabilidade da cultural cabo-verdiana. É neste quadro que, enfatiza o presidente da ACL, a direcção definiu no seu programa de acção a homenagem àqueles que contribuíram para a dignificação e prestigio das letras cabo-verdianas e a elevação da cultura para um patamar que dignifica o povo.
“É com este propósito que temos vindo na medida das possibilidades a cumprir esse objectivo, celebrando a memória dos nossos escritórios que, antes de voarem para o paraiso celestial – onde certamente se encontram -, deixaram escritos que nos deleitam e nos orgulham de termos nascido e sermos cabo-verdianos”, frisa o presidente da referida Academia, para quem a revista Claridade inicia e determina a fase da modernidade da cultura cabo-verdiana, caracterizada por um posicionamento da literatura em relação á realidade concreta da sociedade cabo-verdiana.
A homenagem aos claridosos, “os vanguardistas do modernismo literário cabo-verdiano” segundo Jorge Carlos Fonseca, é uma iniciava que surge em boa hora. Como lembra o Presidente da República, essa cerimónia acontece numa altura em que o país inteiro está a celebrar legitimamente a elevação da Morna a património imaterial da humanidade.
No tocante à literatura, Jorge C. Fonseca realçou que essa expressão artística tem conquistado terreno dentro e fora do país. “Os nossos escritores participam em encontros literários internacionais, são premiados e também reconhecidos, tal como nosso editores que mostram nova pujança insuflando novo fôlego ao mundo dos livros”, ilustrou o Chefe do Estado, para quem está-se a viver um momento literário particularmente bom em Cabo Verde, com o lançamento cada vez mais de novas obras. Recentemente impressa, a “Antologia: Claridade e Modernidade Literária Cabo-verdiana – Os Fundadores” foi lançada pela Academia Cabo-verdiana de Letras e apresentada ao público na cidade do Mindelo, urbe onde, segundo David H. Almada, viveu boa parte dos fundadores do movimento. Logo, para ele, é lógico que o trabalho fosse apresentado em primeiro lugar na ilha de S. Vicente. “O anormal seria se não fosse aqui, como um gesto de reconhecimento. Tinha de ser no sítio onde aconteceu.”
Kim-Zé Brito