O escritor Germano Almeida apontou a praia da Lajinha como o sítio ideal para ser colocado uma silhueta em ferro da sua pessoa, no âmbito de uma homenagem agendada para o dia 22 à tarde, na ilha de S. Vicente. Este jurista de profissão alega que já escreveu sobre o areal e ele próprio tem uma ligação muito forte com essa estância balnear emblemática da cidade do Mindelo, pelo que se trata de uma escolha natural.
“Recebi uma chamada do director do CNAD pedindo a minha sugestão sobre o sítio onde essa silhueta poderia ficar, ou seja, um local que consta dos meus textos literários e que me fosse muito querido. E disse logo que o melhor local, para mim, seria Lajinha”, revela, em conversa com o Mindelinsite.
Questionado sobre a importância dessa homenagem em vida, o escritor agradece o gesto, mas assegura que isso não o irá envaidecer. Aproveitou a ocasião, aliás, para enfatizar a necessidade de serem reconhecidos vários escritores e artistas de outros ramos que criaram obras fundamentais para a cultura cabo-verdiana. “Temos de nos lembrar daqueles que já nos deixaram, mas que permanecem ainda connosco. Quando falo do Baltasar Lopes da Silva, Aurélio Gonçalves, Jorge Barbosa – por exemplo –, falo como se ainda estivessem vivos. E na verdade continuam através da obra”, salienta Germano Almeida, para quem esses e outros autores precisam ser lembrados pelas novas gerações.
Esta será a segunda vez que o escritor ganha direito a ter a sua silhueta instalada numa cidade. A primeira aconteceu no ano passado em Penafiel, no quadro do festival literário Escritaria, e tudo indica que será o mesmo tipo de obra a ser descerrada no Mindelo. Até porque essa homenagem acontece no âmbito da extensão de Escritaria à ilha de S. Vicente, onde esse vencedor do Prémio Camões reside.
Organizado pela Câmara de Penafiel, o evento decorre de 20 a 25 de novembro, em parceria com o Ministério da Cultura e das indústrias Criativas para celebrar a vida e obra de Germano Almeida. O programa é vasto, mas tem maior incidência nos dias 21 e 22, no Centro Cultural do Mindelo. A sessão de abertura oficial será no dia 21 e integra momentos como “Coversa em torno da Escritaria”, a abertura da “Feira do Livro – Especial Germano Almeida” e o lançamento do último trabalho do escritor, intitulado ”Infortúnios de um Governador nos Trópicos”.
Trata-se do segundo romance histórico do autor e que foi apresentado no dia 31 de outubro no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa, resgatando um caso de adultério passado no início do século XIX na então colónia de Cabo Verde do regime português. No centro do relato está João da Mata de Chapuzet, o Governador de Cabo Verde que se “atreveu a vender a urzela – fungo costeiro, valioso para tinturaria, que era monopólio do Rei” -, para sustentar o povo cabo-verdiano.
Porém, o Governador descobre que andava a ser traído pela esposa – “algo muito grave à época sobretudo tratando-se da mulher do governador” – e, segundo o escritor, acaba por demonstrar um tanto de falta de pudor. “Ele mandou abrir uma querela, ouviu todos os criados da casa e outras pessoas e mandou prender o amante. O caso acabou por ganhar um grande vulto porque não se tratava de um adultério qualquer”, revela Almeida, em entrevista ao Mindelinsite.
Segundo o escritor, após saber do caso, considerou que era insuficiente para escrever um livro. Daí ter aproveitado esse gatilho para elaborar uma obra que retrata a história de Cabo Verde, mais precisamente da relação do poder colonial na ilha de Santiago, do problema dos rendeiros e dos morgados e ainda da relação que se estabeleceu entre Cabo Verde e Brasil.