A cidade do Mindelo pode vir a ser dona do melhor Carnaval do mundo, segundo Jéssica Semedo, ex-passista do grupo Académicos da Rocinha, que teve o privilégio de desfilar no sambódromo do Sapucaí, no Rio de Janeiro. Deslumbrada com a vibração que encontrou por estes dias no Mindelo, com o povo a sambar nas ruas e nas quadras de ensaio, esta coreógrafa de sangue cabo-verdiano acredita que o futuro do Carnaval, mas também da música e gastronomia, tem morada reservada em S. Vicente. A razão é simples: esta ilha atlântica, diz, possui um enorme potencial artístico, é rica culturalmente e habitada por um povo repleto de “boa” energia.
“O povo daqui tem uma energia e uma vibração que nunca senti na minha vida e em nenhum lugar, nem mesmo no Brasil, a referência do Carnaval. Esta morabeza não existe lá fora e olha que já viajei muito”, salienta esta filha de Valentina da Cruz Semedo, “mnininha” de Monte Sossego, que emigrou para Portugal e depois Canada ainda adolescente.
Segundo esta coreógrafa, o Carnaval do Mindelo é ainda uma criança, quando comparado com o do Brasil, mas tem os ingredientes necessários para atingir o pódio a nível mundial. “Cabo Verde é um país recente, que conquistou a sua independência em 1975, enquanto que o Brasil é um país enorme e com uma grande história. Mas, a expressão deste povo e a sua energia são próprias daqui, não existem sequer no Brasil. Há aqui um potencial artístico que o mundo precisa ver. E digo isto com propriedade porque tenho 16 anos de experiência do Carnaval”, frisa Jéssica Semedo.
Para atingir esse patamar, opina essa bailarina, São Vicente só tem que atrair mais turistas e dar as condições financeiras e logísticas para os grupos desenvolverem o seu projecto carnavalesco. Por outro lado, prossegue, seria bom continuar a trazer formadores brasileiros nos domínios da dança e noutras áreas, mas sem desvirtuar a essência da festa mindelense do Rei Momo. “Aqui não se trata de imitar o Carnaval brasileiro, mas sim de aproveitar a experiência do Brasil. Vocês precisam de só mais uma ‘coisinha’ para darem esse tal salto”, elucida Semedo, para quem S. Vicente tem algo muito próprio que precisa preservar e celebrar, no fundo, a sua identidade própria.
Desde que chegou a S. Vicente, Jéssica Semedo tem chamado a atenção dos foliões e dos dirigentes dos grupos carnavalescos. Isto ficou mais evidente num ensaio do Estrela do Mar quando decidiu sambar com a rainha de bateria Ilsevania Alves. Um momento de cumplicidade entre as duas passistas, que aqueceu o ambiente na quadra do grémio Castilho.
Por conta da sua classe e samba no pé, essa ex-professora de dança, que aprendeu a sambar com amigos da cultura luso-africana e brasileira, tem sido assediada para ensinar as suas técnicas e, claro, para ser figura de destaque. Aceitou ensinar uma passista, mas declinou convites para desfilar, até porque regressa ao Canada dentro de dias, para voltar a Mindelo, no entanto, em Novembro deste ano.
Nascida no Canada, Jéssica Semedo enveredou-se para a dança e a música e foi professora numa academia. Foi graças à sua ginga que conseguiu impressionar os brasileiros e desfilar no sambódromo do Sapucaí pelo grémio Académicos da Rocinha. Mas a sua experiência não se resume ao Brasil. Chegou a participar num concurso de rainha de bateria nos Estados Unidos e ficar no top 10.
Kim-zé Brito